Assunção Duarte
Assunção Duarte
16 Set, 2019 - 14:57

Uber chinesa lança táxis sem condutor

Assunção Duarte

As autoridades chinesas deram autorização à Didi Chuxing, a empresa que comprou a Uber chinesa em 2016, para dar início à experiência na cidade de Xangai.

Uber chinesa lança táxis sem condutor

Uber chinesa lança táxis sem condutor e aposta forte em tornar-se o primeira empresa a criar um serviço de táxis autónomos em grande escala no país. Na verdade, a aplicação que vai permitir aceder a este serviço dá pelo nome de Didi, já que a Uber deixou de ser utilizada na China quando a maior empresa de transportes privados que aí opera, a Didi Chixung, comprou as operações da empresa americana naquele país.

Recordamos que a Didi Chixung é um dos maiores concorrentes da Uber no mundo. A app está disponível no Google Play e na App Store de países como a Austrália, Japão, México e Brasil e a empresa tem apostado forte no mercado latino-americano para avançar com a sua estratégia de expansão internacional.

Uber chinesa aposta forte no serviço de robô-táxi

china uber

O mercado dos veículos que podem circular sem condutor, revelou-se tremendamente competitivo nas últimas décadas. Anúncios de serviços de robô-táxis têm surgido um pouco por todo o mundo, desde o Dubai ao Japão.

A própria Uber americana aponta também esta tendência como a meta a atingir no futuro próximo e tem feito grandes investimentos nesta área. Para além do lado inovador do negócio, que pode atrair muitos clientes, os objectivos passam também por tornar mais fácil gerir e aumentar os lucros destas empresas, ao libertarem-se do elemento humano que o condutor representa.

Tudo indica que a China vai agora tomar a dianteira deste mercado, cuja competitividade agressiva aponta para que a tendência dos investimentos em inteligência artificial nos próximos anos seja altamente focada na área dos veículos capazes de circular sem condutor.

Viagens gratuitas, mas ainda com motorista a bordo

Os testes na cidade de Xangai vão contar com 30 carros que estarão equipados com tipos de condução autónoma, capazes de atingir o nível 4. Vale apena referir que existem 5 níveis de condução automática definidos pela indústria automóvel e pelos seus reguladores. Esses níveis vão desde a simples assistência à condução, com alertas sobre se o carro da frente trava, cruise control ou estacionamento automático, até à automação total, em que o veículo toma conta de todos os aspetos da condução depois do seu utilizador ter definido o destino.

O nível 4, que agora vai ficar disponível em 30 táxis de Xangai, corresponde a um veículo com alta automação, isso ser dizer que ele pode circular e estacionar quase totalmente independe da assistência do motorista, em circuitos ou áreas previamente delimitados.

Numa primeira fase o teste vai utilizar motoristas a bordo para qualquer eventualidade que surja e estes veículos poderão exceder os 10 km hora de velocidade. Para compensar alguma lentidão as viagens vão ser gratuitas. Pequim é uma das próximas cidades a receber a experiência se tudo correr conforme o esperado.

Vantagens dos táxis sem condutor propostos pela Uber chinesa

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Mais segurança e eficiência na gestão de recursos

Os avanços tecnológicos só têm vantagens se acrescentarem valor à vida das pessoas. Segundo o comunicado de imprensa da Didi Chuxing, criar uma frota de táxis sem condutor, partilhada em larga escala pelos habitantes de Xangai, vai trazer maior segurança e eficiência ao seu dia-a-dia e uma maior sustentabilidade para o futuro da cidade.

Estes veículos deverão ser capazes de procurar os melhores percursos de acordo com os condicionamentos das grandes cidades, gerindo variáveis importantes como a distância, o consumo de combustível, o tráfego e mesmo valores de poluição ambiental em alguns trajetos. Tudo o que a condução humana ainda não consegue fazer e que por vezes pode mesmo contrariar quando estamos a falar de maus condutores que nem código da estrada nem as multas conseguem disciplinar.

Já o passageiro, se este se habituar a confiar no veículo, ficará liberto de qualquer preocupação com o seu trajeto. Pode aproveitar a viagem para trabalhar ou descansar, sabendo que chegará ao seu destino da melhor forma possível.

Os riscos dos táxis sem condutor

A experiência da chamada Uber chinesa em Xangai concretiza o resultado de várias décadas de investigação mundial sobre sensores de ambiente, navegação e métodos de controle, mapeamento e inteligência artificial. O caminho foi longo, mas os testes já efectuados revelam que mudar para estes tipo de veículos, quer sejam táxis ou carros para uso individual, ainda tem muito que se lhe diga. Os testes piloto realizados em todo o mundo revelam que muita coisa tem ainda de ser acautelada.

Acidentes durante os testes

Alguns acidentes graves já aconteceram com este tipo de veículos tendo até provocado algumas mortes (6 mortos nos EUA até 2018 segundo dados da Wired https://www.wired.com/story/self-driving-car-crashes-rear-endings-why-charts-statistics/).

Se compararmos com os números de acidentes que resultam dos chamados veículos normais não serão estatísticas muito desanimadoras, mas são o suficiente para alarmar os utilizadores e para obrigar os investigadores a perceber o que se passa antes que os veículos se generalizem.

Com os acidentes vêm as responsabilidades a atribuir e os problemas criados pelas seguradoras. Legislação tem de ser pensada para albergar as novas varáveis em jogo, que podem atribuir culpas ao condutor, por não interromper o piloto automático, à empresa de software que desenvolveu o sistema ou à empresa proprietária do veículo por não ter feito atualizações no sistema.

Em jogo está também o acesso, mais ou menos transparente, que os envolvidos no acidente podem querer dar os dados que os sensores dos carros armazenam e tratam durante a viagem. A situação é tão complicada e já se pensa numa solução de blockchain para tentar resolver estas questões.

A questão ética do emprego

Quando questionado sobre o impacto que a sua frota de carros autónomos iria ter na classe dos motoristas, o CEO da Uber americana afirmou que esse impacto não era preocupante, uma vez que a empresa já se debate com alguma dificuldade em contratar e manter motoristas nalguns tipos de mercado onde atua.

Mas a resposta não é tão clara assim. Tudo indica as reivindicações salariais dos seus motoristas e que as permanente fugas à legislação laboral que protegem os direitos dos trabalhadores, especialmente quando a empresa entrou em alguns países europeus, podem ter acelerado esta vontade em investir numa frota sem motoristas.

Será a profissão de motorista a próxima na calha para ser engolida pela evolução tecnológica? Esperamos para ver se as recomendações feitas pelas Nações Unidas às empresas que desenvolvem tecnologia, vão ser tidas em consideração pelas empresas de táxis sem condutor.

Essas recomendações pediam para que os gigantes tecnológicos integrem e repensem no seu modelo de negócio os impactos sociais que as suas invenções podem causar a curto, médio e longo prazo no bem estar e no desenvolvimento das sociedades humanas.

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