Share the post "Vale do Alto do Homem: o lado mais selvagem e secreto do Gerês"
O Vale do Alto do Homem não é daqueles sítios que se encontram por acaso, a seguir a uma rotunda mal sinalizada.
Fica no coração do Parque Nacional da Peneda-Gerês, na zona da Serra Amarela, e é uma das áreas mais protegidas e resguardadas deste território.
Um vale glaciar profundo, encaixado entre montanhas, que continua a ser tratado quase como um segredo partilhado apenas entre quem conhece bem a serra.
Falamos de um cenário que combina encostas nuas, rocha granítica, quedas de água, linhas de neve no inverno e aquele silêncio denso que faz esquecer que o resto do país existe.
É também por isso que o vale não é um “destino turístico” qualquer. É uma Área de Proteção Total, com regras apertadas e acesso condicionado.
Vale glaciar preservado como um santuário
O Vale do Alto do Homem é muitas vezes descrito como um dos exemplos mais marcantes de vale glaciar do Gerês.
A forma em U, as encostas íngremes, o rio a serpentar no fundo, tudo denuncia uma história antiga de gelo, erosão e tempo.
A partir da zona da Louriça, na Serra Amarela, as vistas sobre o vale são daquelas que ficam na memória, com profundidade, natureza em bruto e quase nenhuma intervenção humana visível.
Não é por acaso que esta área foi classificada como proteção total, num esforço para preservar um conjunto de valores naturais, físicos e biológicos considerados “excecionalmente relevantes” para a conservação da natureza.
Ali a prioridade é a paisagem, a fauna, a flora e os equilíbrios naturais. O visitante entra, mas entra em regime de convidado, não de “dono do sítio”.
Acesso controlado: não é só pegar na mochila e ir

Ao contrário de muitos trilhos populares do Gerês, o Vale do Alto do Homem não é uma zona para onde se possa ir “porque apetece”. Sendo Área de Proteção Total, o acesso exige autorização prévia do ICNF.
Há limite de número de pessoas, necessidade de indicar datas, horários, percurso previsto, contactos e até o ficheiro do trajeto em formato digital. Não é burocracia gratuita. É uma forma de impedir que um lugar frágil se transforme num destino massificado.
Para muitas pessoas, o vale é também o corredor natural de aproximação às famosas Minas dos Carris, um dos percursos mais desejados (e às vezes subestimados) do Gerês.
É precisamente por isso que o controlo se tornou ainda mais importante, fruto dos trilhos longos, zonas remotas, meteorologia instável e um ambiente de montanha que não perdoa imprudências. Aqui, mais do que em quase qualquer outro lugar do parque, o bom senso não é opcional.
Vale do Alto do Homem: cuidar do lugar
Há um detalhe que convém sublinhar, mesmo que estrague um bocadinho a romantização e que reside no facto de o Vale do Alto do Homem não aguentar bem comportamentos irresponsáveis.
Estamos a falar de encostas sensíveis, habitats importantes, trilhos discretos e riscos reais associados à montanha. Não é cenário de Instagram, é território que exige respeito.
Daí a insistência em regras simples, mas fundamentais, como não ir sozinho para zonas remotas, avisar alguém do percurso, não abandonar lixo, não improvisar atalhos, não divulgar coordenadas específicas de locais delicados.
É um daqueles lugares que lembram, com alguma brutalidade tranquila, que a natureza não existe para nos servir. Existe, e nós é que temos a sorte de poder espreitar.