Actualmente, as notações risco de crédito – nomeadamente os ratings sobre a dívida soberana – vêm das agências Moody’s, Fitch e Standard & Poor’s, todas dos Estados Unidos.
Face a esta dependência, o Banco Central Europeu (BCE) mostrou interesse em criar uma agência única de classificação de crédito. A notícia foi avançada pelo jornal alemão Handelsblatt, que cita fontes próximas dos responsáveis europeus das Finanças.
Amplamente criticadas por erros de avaliação de risco e tidas como principais responsáveis pela crise financeira, as agências de rating atribuem valores de risco a países, empresas e bancos.
Na Europa, este risco de crédito é avaliado pelas chamadas “três irmãs privadas” norte-americanas supracitadas. Os governos de 16 países da Zona Euro pretendem assim acabar com a hegemonia das agências de rating existentes e estabelecer o seu próprio departamento de avaliação de risco nos países membros.
De acordo com o jornal alemão, a criação de uma classificação de “rating” pelo BCE exigia a constituição de uma equipa composta por 10 a 20 técnicos da instituição para investigarem as operações à escala da economia global.
Ainda de acordo com o diário germânico, há ainda incertezas quanto ao ‘timing’ para a criação da classificação de “rating”. Com a actual situação grave da dívida pública grega, a criação de uma nova agência de notação poderia, neste momento, destabilizar ainda mais os mercados financeiros.
O poder das agências de rating
Ainda no rescaldo da pior crise financeira desde 1929, as dúvidas sobre a capacidade de alguns países, como Portugal, Espanha, ou Grécia pagarem a sua dívida pública, assumem-se como uma das grandes preocupações para os investidores.
É aqui que entram as agências de notação de risco de crédito. São elas o novo Poder, mesmo depois de lhes ter sido imputada a culpa pelo grande abalo financeiro.
São as três norte-americanas que, na Europa, decidem se os países têm condições para cumprir o pagamento das respectivas dívidas e os juros que vamos todos pagar.
Esta dependência europeia tem vindo a ser criticada pelos governos dos países da Zona Euro. Portugal não é excepção. Recentemente, o ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, chegou a acusar as agências de rating de servirem interesses comerciais.
Recorde-se, por exemplo, que a propósito do Orçamento de Estado de 2010 (OE 2010), a Moody’s informou que Portugal necessita de apresentar medidas credíveis de redução do défice no longo prazo, como cortes nas despesas ou subidas de impostos superiores ao previsto no OE 2010, para evitar descidas do ‘rating’. Se tal não acontecer defende que o País dificilmente conseguirá chegar ao défice de três por cento em 2013, o limite imposto pela Comissão Europeia.
Também o primeiro-ministro já veio à praça pública criticar o papel das agências de notação. Numa entrevista ao jornal francês “Liberation”, José Sócrates acusou-as de agirem por «preconceitos» e «impressões» sobre um determinado país, atacando em particular a Moody’s. O chefe de Governo resalvou que, face à actual situação de crise, estão reunidas as condições para avançar com um governo económico da zona euro.