Diogo Campos
Diogo Campos
19 Fev, 2017 - 10:26

À boleia na estrada até Buenos Aires

Diogo Campos

Depois de três horas a pedir boleia na fronteira entre o Uruguai e a Argentina, cheguei a um posto de gasolina numa pequena cidade a pouco mais de 200km de Buenos Aires.

À boleia na estrada até Buenos Aires

Aí havia muitos camionistas que pernoitavam e seguiam viagem na manhã seguinte. Já de noite, fui meter conversa para tentar a minha sorte. Oxalá alguém vá para Buenos Aires, pensava eu.

Quando pergunto a dois camionistas, a resposta deles foi em português: “Queres jantar connosco?”. E eu que apenas tinha um resto de pão aceitei de bom grado.

Soube-me pela vida a linguiça com arroz que me ofereceram! Já tinha saudades do espírito alegre do povo brasileiro. Eles iam passar perto de Buenos Aires e como mais ninguém ia mesmo para o centro da cidade, acabei por aceitar a boleia.

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Montei a minha tenda ao lado dos camiões e às 6h da manhã arrancámos. Deixaram-me muito perto da cidade, pensei que seria quase impossível conseguir que alguém me levasse. Ainda assim, tentei a minha sorte e o que acontece a seguir foi a maior loucura da minha vida (mãe, salta este parágrafo!).

No meio da auto-estrada, um jovem de mota parou e disse-me que onde eu estava era quase impossível conseguir boleia. “Sobe para a mota!”, disse-me. Ao início pensei que não dava. Com uma mochila enorme nas costas, mais uma pequena à frente e ainda dois sacos em cada mão, e o pior é que ele não tinha capacete para mim! O meu instinto disse: “vai”. E assim foi.

Aceitei e desfrutei do momento como se estivesse com 80 anos a recordar essa aventura, foram 10km de pura loucura. Depois ainda consegui uma outra boleia de um senhor que passou a 130km/h por mim e voltou para trás para me dar boleia. Era o meu dia de sorte.

Já em Buenos Aires tinha falado com um couchsurfer que tinha disponibilidade para me receber por dois dias. Foi muito bom, falámos de viagens e mostrou-me um pouco da cidade. Aí cozinhei comida de verdade e lavei a roupa.

Depois segui para La Boca, um dos bairros onde é preciso andar mais atento e com mais cuidado em Buenos Aires. Fui pintar uma casa onde estavam mais viajantes a fazer voluntariado. As manhãs eram passadas a pintar, depois almoçávamos todos juntos, por sorte comida biológica, e nas tardes aproveitava para conhecer os cantos da cidade.

Neste tipo de viagem que estou a fazer, as cidades não são o melhor destino, devido a todo o comércio e atrações que existem e dos quais só se pode desfrutar se tiver dinheiro. Assim optei por uma alternativa económica. Em vez de ir ver um espectáculo de tango, desfrutei do tango que se dançava na rua e nos coretos da cidade ao início da noite.

Na livraria Atneu, talvez a mais bonita de Buenos Aires, desfrutei do silêncio, da arquitectura e, claro, sentei-me um pouco a ler sobre viagens feitas no século XIX.

Na rua assisti a um concerto de uma clarinetista que tocava músicas de filmes e de Mozart. Desafiei um jovem que estava a treinar xadrez no meio da rua, infelizmente ele jogava demasiado para mim e apesar de ainda ter aguentado bastante bem, ele ganhou-me.

À noite ficava a falar na rua com os outros voluntários sobre as histórias das viagens por que cada um passou. Agora é altura de ir rumo à Patagónia. Sigam a aventura em Puririy.

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