Ekonomista
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27 Jun, 2025 - 13:00

Baro d’evel em Lisboa: um espetáculo entre o caos e a criação

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O espetáculo Qui som? da companhia Baro d’evel chega ao CCB com uma fusão de dança, circo, música e cerâmica. Um convite à criação no meio do caos. De 4 a 18 de julho de 2025, em Lisboa.

Num mundo onde tudo parece desmoronar, há quem insista em criar. A companhia franco-catalã Baro d’evel apresenta Qui som?, um espetáculo que é mais do que teatro, mais do que dança, mais do que circo. É um manifesto artístico. Um grito sereno. Um convite à transformação.

Um coletivo fora da caixa

Baro d’evel não é uma companhia tradicional. É uma trupe que vive da fusão entre artes e do poder do coletivo. Em Qui som?, sob a direção de Camille Decourtye e Blaï Mateu Trias, o palco torna-se um terreno fértil onde convivem bailarinos, músicos, actores, acrobatas, palhaços e ceramistas.

Não se trata apenas de juntar talentos. Trata-se de criar uma linguagem comum, onde o corpo é verbo, a música é diálogo e o barro é pensamento. A presença física de um ceramista em cena, a manipular o barro em tempo real, reforça a ideia de que tudo está em construção, inclusive nós próprios.

Este espetáculo rompe fronteiras entre disciplinas artísticas e convida o público a abandonar o papel passivo. Aqui, todos participam. Todos são parte da experiência.

Criar em tempos de colapso

A criação de Qui som? parte de uma inquietação profunda. Como criar num mundo que arde? Como manter viva a capacidade de imaginar quando o medo domina?

O espetáculo não foge à realidade. Pelo contrário. Abraça o desconforto. Assume o caos. E, com um misto de delicadeza e irreverência, propõe outro caminho. A criação como gesto político. Como teimosia vital.

A guerra, as desigualdades sociais, o racismo, a crise ambiental — tudo isto serve de pano de fundo. Mas a resposta não é o desespero. É a arte. É o riso. É a busca incessante por um novo sentido. Criar, aqui, é uma forma de resistência poética.

Uma cerimónia, não um espetáculo

Qui som? não se apresenta como mais uma peça de teatro. É uma cerimónia partilhada. Um ritual de encontro entre artistas e espectadores. Cada representação é única, marcada pelo espaço, pelas pessoas, pelo momento.

O cenário é pensado como um lugar de acolhimento. Materiais reciclados, cores trabalhadas, objetos moldados a partir de barro e plástico reciclado. Tudo contribui para uma atmosfera de criação contínua. O espaço é mutável. Vivo.

Durante o processo criativo, a equipa explorou rituais, caminhadas, celebrações e encontros com comunidades. Trabalharam com cavalos, fizeram vindimas, reuniram-se à volta de fornos de cerâmica. Esta pesquisa contaminou o espetáculo, que ganha uma textura densa, mas acessível, feita de experiências vividas.

Também o clown tem um papel central. Não como figura caricata, mas como ser liminar, próximo do xamã, que capta e devolve o mundo com um espelho deformado e, por isso, revelador.

Quando e onde?

A estreia portuguesa acontece em Lisboa, no Grande Auditório do Centro Cultural de Belém. O espetáculo estará em cena de 4 a 18 de julho de 2025, com sessões em diferentes horários.

É uma oportunidade rara de ver um trabalho artístico que desafia convenções e propõe novas formas de estar no mundo — com arte, corpo, barro e coragem.

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