Share the post "Alimentação: retalhistas com margens de lucro até 50 por cento"
Dados revelados referentes ao ano de 2022 vieram mostrar que o lucro bruto dos retalhistas tiveram margens de até 50% na venda de bens alimentares essenciais.
É que a crise financeira – e alimentar, por consequência – segue em crescimento galopante e não é novidade encontrar aumentos a cada visita aos super e hipermercados.
Para chegar a esta conclusão, a Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) analisou relatórios de janeiro a dezembro de 2022, mês a mês. Foi verificada, na ponta do lápis, a evolução dos preços praticados na venda de produtos alimentares essenciais.
A notícia foi tornada pública pelo atual responsável pela pasta da Economia, o ministro Antónia Costa Silva, e por Pedro Portugal Gaspar, inspetor-geral da ASAE.
Quais bens alimentares essenciais foram analisados?
Os preços de bens como cebola, ovo, laranja, cenoura e febras de porco foram os que mais permitiram grandes margens de lucro bruto obtido pelos retalhistas. Mas há mais.
“Dos elementos obtidos até ao momento, no retalho, registámos margens médias de lucro bruto, referentes ao ano de 2022, entre: 20% e 30% na venda de açúcar branco, óleo alimentar e dourada); 30% e 40% na venda de conservas de atum, azeite e couve coração); 40% e 50% na veda de ovos, laranja, cenoura e febras de porco); e acima de 50% na venda de cebola)”, refere o relatório elaborado pela ASAE.
O documento aponta casos específicos em que houve um aumento bastante expressivo no lucro dos retalhistas – como é exemplo a venda de açúcar branco, que saltou dos 7% para os 23% entre janeiro e dezembro de 2022.
No leite tipo UHT meio gordo, durante o mesmo período, a ASAE constatou que a margem de lucro por litro duplicou, passando dos 9% para os 18%. O peixe também esteve em análise: no caso do robalo fresco nacional houve um aumento de 2% para 7% na margem de lucro. A maçã golden é outro exemplo que marca o relatório, tendo passado de uma margem de lucro negativa de -2% para 16% ao longo de 2022.
A ASAE concluiu que o preço médio de um cabaz composto por produtos alimentares essenciais sofreu um aumento expressivo de quase 30% durante o mesmo período, tendo escalado dos 74,90 euros para os 96,44 euros.
Crise alimentar e especulação sob análise
De acordo com o órgão de inspeção, ainda não é possível saber com exatidão se as entidades retalhistas estão a praticar preços especulativos e, assim, a ter lucros considerados como ilegítimos. Para chegar a esta conclusão será necessário avaliar as margens de lucros líquidos. Caso haja irregularidade comprovada, os retalhistas em causa ficam enquadrados na lei por crime de especulação
O que segundo a ASAE é já possível observar é que os relatórios apontam para a tendência de haver um contraciclo. Ou seja, enquanto a inflação média está a cair, a inflação dos preços de bens alimentares continua a galopar.
Como referência, destacam-se os seguintes dados, referentes ao mês de fevereiro de 2023:
- a taxa de inflação geral caiu 0,2%, passando a ser de 8,2%;
- o índice que analisa a variação dos preços de produtos alimentares não- transformados (alimentos primários), mostra que houve um agravamento, mesmo diante da queda da inflação geral – o índice foi de 20,11% e isto quer dizer que a inflação reduziu, mas os preços dos bens alimentares não acompanhou a tendência.
“Parecem existir práticas abusivas que têm que ser sancionadas”
O ministro da economia resumiu que, diante deste cenário avaliado pela ASAE, haverá sanções para as práticas abusivas. No entanto, as respostas devem demorar a chegar – quer para os retalhistas, quer para os consumidores portugueses.
“Vamos ser absolutamente inflexíveis se existirem práticas abusivas. Temos em aberto todas as opções e vamos calibrar as nossas medidas à medida que os dados forem surgindo. Sabemos que os operadores, muitas vezes, atuam dentro das regras, mas isto não exclui que haja práticas abusivas”, disse António Costa Silva.
O Governo pretende ouvir o setor, através dos seus representantes, antes de avançar com medidas sancionatórias. António Costa Silva quer “perceber se há explicações racionais” que justifiquem a escalada dos preços de alimentos no país.
O Governo vai avaliar medidas para combater a especulação, que já são praticadas em países como França e Espanha. “Estamos a equacionar todas as opções, inclusive as mais musculadas, mas queremos tomar essas medidas na posse da informação devida”, garantiu o ministro.