Há 90 anos, nascia um automóvel que mudaria para sempre a história da indústria automóvel e marcaria gerações em todo o mundo. Falamos, claro, do Volkswagen Carocha, conhecido internacionalmente como Beetle, mas entre nós sempre tratado pelo nome carinhoso que melhor lhe assenta.
A silhueta inconfundível, os motores ruidosos arrefecidos a ar e o estatuto de ícone cultural tornaram o Carocha muito mais do que apenas um carro. Fizeram dele um símbolo de liberdade e simplicidade que resistiu às décadas e às modas.
Durou décadas, resistiu a modas, passou por algumas remodelações. É o percurso normal de um automóvel de sucesso.
No entanto, foi sempre reconhecido como um símbolo de uma indústria que ao longo de quase um século e meio foi debitando modelos, uns mais felizes que os outros. Enquanto uns iam e vinham, o carocha estava sempre ali.
Carocha: as origens de uma lenda
O Carocha nasceu num contexto turbulento. Corria o ano de 1935, e a Alemanha procurava criar um automóvel acessível. Ferdinand Porsche foi incumbido (por Adolf Hitler) de desenvolver o “carro do povo” (Volkswagen), um veículo simples, robusto e barato.
O projeto culminaria no Type 1, o protótipo que daria origem ao modelo de produção alguns anos mais tarde.
Embora o início da produção em série só acontecesse depois da Segunda Guerra Mundial, em 1945, foi em 1935 que surgiram os primeiros esboços e protótipos que definiriam a essência deste automóvel.
O design aerodinâmico, inspirado nos estudos de eficiência e na estética simplificada, cedo se destacou dos restantes veículos da época. Ferdinand Porsche iria à sua vida para conceber outros carros icónicos. Mas deixou a semente.
A consagração global
Nas décadas de 50 e 60, o Carocha consolidou o seu sucesso internacional. Tornou-se o automóvel de eleição de milhões de famílias, jovens e até artistas.
Nos Estados Unidos, ganhou notoriedade através de campanhas publicitárias inovadoras, muitas vezes humorísticas. que celebravam justamente as suas imperfeições: “Feio? Pode ser. Mas funciona”.
Este tom honesto conquistou a simpatia do público e transformou o modelo numa lenda viva.
Em Portugal, o Carocha foi presença habitual nas estradas, tanto como veículo familiar, táxi ou viatura das forças policiais. A sua mecânica simples e fiável fazia dele uma escolha sensata e económica, mesmo em zonas rurais onde as condições não eram as mais favoráveis.
E não faltam dados concretos sobre o sucesso e fama do modelo. Foi o primeiro carro a atingir as 20 milhões de unidades produzidas, em 1972, ultrapassando o Ford Modelo T.
Foi estrela de cinema, imortalizado no grande ecrã como o “Herbie”, o Carocha de corrida com vontade própria. E apesar de ter sido descontinuado na Alemanha em 1978, a produção continuou no México até 2003, em Puebla, onde se fabricaram os últimos exemplares.

Fim de uma era, início da eternidade
Quando a produção cessou definitivamente, em Julho de 2003, acumulavam-se mais de 21,5 milhões de unidades produzidas. Mas, na verdade, o Carocha nunca desapareceu.
Continua a viver nos encontros de entusiastas, nos clubes dedicados ao seu restauro e nas estradas por onde ainda circula, orgulhosamente, a sua forma arredondada.
Hoje, ao celebrar os 90 anos desde os primeiros esboços, o Carocha recorda-nos que a grandeza de um automóvel não se mede apenas pela sua velocidade ou luxo, mas pela capacidade de conquistar corações e de se tornar parte da vida das pessoas. E poucos modelos podem reclamar esse feito com tanta autoridade.
Seja restaurado ao brilho original ou modificado com detalhes personalizados, o Carocha continua a ser uma história em movimento. Aos 90 anos, mantém-se mais vivo do que nunca.