Grândola recebeu o arranque oficial do Rally-Raid Portugal 2025, e a vila alentejana foi palco de um espetáculo que deixou fãs e equipas com os nervos à flor da pele. O prólogo curto, mas intenso, serviu de aquecimento para a verdadeira maratona que aí vem e foi também a montra perfeita para os Dacia Sandriders, que confirmaram estar em excelente forma, com Nasser Al-Attiyah e Fabian Lurquin a assinarem o melhor tempo.
É verdade que foram apenas 5,03 quilómetros de troço cronometrado, mas a exigência era máxima, com piso estreito, ruts já bem vincados e nuvens de pó a reduzirem drasticamente a visibilidade.
Primeiro a entrar em cena, Al-Attiyah mostrou porque é considerado um dos maiores nomes da disciplina. O piloto catari não hesitou e, em 5m02.9s, colocou o Dacia Sandrider no topo da tabela, três segundos mais rápido que o rival mais próximo.
A vitória no prólogo não dá pontos, mas oferece algo ainda mais valioso, ou seja, a possibilidade de escolher a posição de partida para a primeira etapa.
Num rali onde o pó e a degradação da pista podem ser tão decisivos quanto a velocidade pura, este é um trunfo estratégico que pode ditar a narrativa da prova.
Dacia Sandriders na linha da frente
Se Al-Attiyah brilhou, outros nomes grandes sentiram na pele as dificuldades do traçado. Sébastien Loeb, navegado por Édouard Boulanger, acusou os efeitos da poeira em suspensão e da pista que rapidamente se deteriorava.
O francês chegou a considerar parar devido à visibilidade quase nula, mas ainda assim fechou com o quinto melhor registo. Uma prestação cautelosa, como o próprio admitiu: “Era fácil cometer um erro e capotar. Prefiro perder alguns segundos do que o rali logo no arranque.”
Já Cristina Gutiérrez, que regressava à competição internacional depois do Dakar, viu a sua prova comprometida por um problema mecânico. Um veio de transmissão traseiro cedeu e a piloto espanhola teve de completar o troço apenas com tração dianteira.
O resultado foi um distante 23.º lugar, mas a determinação em levar o carro até ao fim prova a fibra da equipa e a vontade de encarar o resto da competição sem baixar os braços.

A estratégia dos Sandriders
O prólogo deixou claro que a estrutura Dacia Sandriders (que o Ekonomista visitou) está focada em muito mais do que apenas este rali. Com três carros inscritos (após as experiências mais reduzidas em Abu Dhabi e na África do Sul), a equipa prepara-se intensamente para o grande objetivo da temporada: o Dakar 2026.
Ter Nasser Al-Attiyah em modo ataque desde o primeiro metro é sinal de confiança no projeto. O mesmo se pode dizer da consistência de Loeb e da resiliência de Gutiérrez, que acrescentam profundidade e versatilidade a uma formação que alia experiência, talento e ambição.
O palco português
O Rally-Raid Portugal afirma-se, cada vez mais, como uma peça importante no calendário mundial da modalidade.
O terreno variado, que mistura troços rápidos em terra, passagens em asfalto e secções de areia, oferece uma antevisão muito próxima dos desafios que esperam os pilotos em provas maiores como o Dakar.
A organização apostou em dividir a primeira grande etapa em duas especiais (SS1 e SS2), totalizando 297 km cronometrados num percurso de 420,2 km. Um dia de contrastes, com estradas sinuosas em direção a Beja e uma secção final arenosa antes do regresso ao bivouac em Grândola.
É precisamente nesta diversidade que se joga boa parte da preparação das equipas, que precisam de testar ao limite tanto a fiabilidade mecânica como a capacidade de leitura de terreno dos navegadores.

Estreia auspiciosa
O Rally-Raid Portugal começou com emoção por terras de Grândola e com os Dacia Sandriders em destaque.
Mas ainda nada está decidido. Entre o pó alentejano, os ruts traiçoeiros e a dureza das longas especiais, só os mais consistentes resistirão até ao fim.
O que já se sabe é que Portugal voltou a mostrar ao mundo porque é hoje um destino de topo para o rally-raid e que os Dacia Sandriders estão prontos para escrever mais um capítulo da sua jovem história.