Ana Graça
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31 Mai, 2018 - 11:00

Défice cognitivo ligeiro: envelhecimento normal ou patológico?

Ana Graça

O défice cognitivo ligeiro caracteriza-se por uma perda das capacidades cognitivas superior ao que seria esperado para a idade da pessoa. Conheça a condição.

Défice cognitivo ligeiro: envelhecimento normal ou patológico?

Com a idade surge, habitualmente, o défice cognitivo, que pode ser muito ligeiro ou mais acentuado, variando de caso para caso. Esta grande variabilidade torna complicado prever um único perfil de envelhecimento cognitivo. Todos somos diferentes, desenvolvemos e envelhecemos de forma diferente.

Na maioria dos casos, as dificuldades de memória são as primeiras queixas a surgir e têm, muitas vezes, gravidade suficiente para justificar a ida da pessoa ao médico.

Défice cognitivo ligeiro: o que é?

A definição e os critérios de diagnóstico do défice cognitivo não foram nem são ainda totalmente consensuais. Pode ser definido como um estado intermédio entre o declínio cognitivo que é expectável com o envelhecimento e o mesmo declínio mais grave que se verifica nas demências, como é o caso da doença de Alzheimer.

É, portanto, uma condição médica que se caracteriza pela perda de determinadas capacidades cognitivas numa proporção maior do que é esperado para a idade da pessoa. Esta perda não interfere significativamente com o dia-a-dia nem é grave o suficiente para justificar um diagnóstico de demência.

Para ser considerado o diagnóstico de défice cognitivo ligeiro, é importante que estes critérios estejam cumpridos:

a) Queixas de memória ou de outras capacidades cognitivas, como a linguagem ou a capacidade de tomar decisões;

b) Preferencialmente, essas queixas devem ser confirmadas por um acompanhante ou pelo cuidador;

c) Quando aplicados testes de memória, o defeito deve verificar-se;

d) A função cognitiva global deve estar normal, ou seja, a capacidade de raciocínio de forma geral deve estar mantida;

e) As atividades de vida diária devem também estar mantidas, ou seja, a pessoa deve manter total independência para as suas tarefas do dia-a-dia.

Os dados mais recentes apontam para que 20 a 25% dos indivíduos com mais de 65 anos de idade sofram de défice cognitivo ligeiro. Entre estes, 30% irão desenvolver, no futuro, síndrome demencial.

défice cognitivo pode levar à demência

O défice cognitivo ligeiro pode levar à demência?

Pessoas com défice cognitivo ligeiro são mais propensas a desenvolver demência, especialmente a doença de Alzheimer, daí que esta patologia seja, muitas vezes, considerada uma fase de transição entre o envelhecimento saudável e a demência.

Mais ainda, vários estudos têm confirmado que pessoas com esta patologia têm lesões em áreas cerebrais típicas dos doentes de Alzheimer e perfis genéticos próximos.

No entanto, nem todos os casos evoluem para demência. E quando progride poderá levar muitos anos a fazê-lo. Continuam a decorrer investigações sobre o porquê de algumas pessoas com défice cognitivo ligeiro progredirem para demência e outras não.

Qual o melhor tratamento?

Antes de mais, importa avaliar a presença de causas potencialmente tratáveis, como no caso de: depressão; problemas relacionados com o sono; efeitos secundários de medicações; acidentes vasculares cerebrais; outras doenças médicas em geral.

Não existe um tratamento específico para o défice cognitivo ligeiro, contudo, têm sido efetuados estudos clínicos no sentido de avaliar a eficácia de vários medicamentos na melhoria dos sintomas e na atenuação da progressão para demência.

A utilização de técnicas de reabilitação da memória ou estimulação cognitiva pode ser uma alternativa interessante. A academia americana de neurologia recomenda a prática de exercício físico e a estimulação cognitiva realizada em grupo.

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