Share the post "Dor crónica em Portugal: um terço da população adulta é afetada"
Quando é que uma dor recorrente se torna numa patologia clínica? Por ser responsável por gastos equivalentes a 2,7% do PIB nacional, a dor crónica em Portugal é cada vez mais observada e estudada.
É sabido que a dor está associada a diversos problemas, sejam eles médicos ou psicológicos, mas uma coisa é certa: independente da sua origem, a dor é uma condição capaz de transformar a vida de qualquer pessoa, criando um forte impacto no seu dia a dia.
Descubra aqui tudo sobre a segunda doença mais comum no país, depois da hipertensão arterial, quais os seus impactos individuais, sociais e económicos.
O que é a dor crónica
Desde 1990 que a lombalgia é a maior causa de incapacidade em todo o mundo.
Considera-se que a dor é crónica quando, de modo geral, persiste após o período estimado para a recuperação normal de uma lesão. A dor crónica pode estar associada a várias doenças – artrose, diabetes, cancro, etc. – e ser agravada por traumatismos ou posições forçadas ou incorretas. Este tipo de dor também pode estar associado a um período pós-operatório ou surgir sem causa aparente.
A doença é caracterizada pela dor persistente ou recorrente, que dure há mais de três meses após a cura da origem. No topo da lista das principais causas da dor crónica entre os portugueses está a osteoartrose, a dor lombar e as patologias do joelho, ombro ou da coluna vertebral. Entre outras doenças que originam a dor crónica estão, também, a artrite reumatoide e as cefaleias.
Entre os principais fatores de risco para a dor crónica encontra-se o género feminino, a idade (a prevalência da dor tende a aumentar até aos 60-65 anos), o nível socioeconómico e de instrução mais baixos, o excesso de peso e obesidade e a localização anatómica (as zonas lombar e cervical, a cabeça e os membros são as regiões mais afetadas). Destaque-se também como fatores de risco a ansiedade, os transtornos depressivos e o desemprego.
Em Portugal, os números atualizados apontam que 33,6% dos adultos sofrem com a dor crónica, estando o país atento ao tema e reunindo esforços para criar as melhores estratégias de intervenção e gestão da dor.
O impacto individual, social e económico da dor crónica
A doença tem um forte impacto individual, social e económico – especialmente quando afeta indivíduos em idade ativa, entre os 45 e 60 anos. Nessa faixa etária a perda de um emprego em caso de doença pode prejudicar o regresso ao mercado de trabalho e levar a reformas antecipadas.
A título de exemplo, para percebermos como a dor crónica afeta a vida do paciente, esta doença – que em números perde apenas para a hipertensão arterial – é responsável por 14 dias de absentismo entre a população feminina.
Para os médicos, a falta de conhecimento sobre o assunto agrava a situação, uma vez que o próprio doente não procura por ajuda especializada dentro do tempo esperado, atrasando o tratamento.
Tratamento da dor crónica
O tratamento da doença deve ser orientado individualmente, de acordo com as necessidades específicas, podendo ser realizado com o apoio de um médico clínico geral ou por médicos especialistas. Os principais métodos de tratamento incluem os medicamentos para dor e as terapias alternativas.
Medicamentos para dor
A escolha dos medicamentos adequados, caso a caso, é analisada pelo médico e feita “em escada” – ou seja, tem início com a prescrição de medicamentos mais brandos, podendo a dose ser elevada, de acordo com a necessidade.
Psicologia
Sabe-se que a dor crónica altera a estrutura e a função cerebral, criando uma estratégia de “adaptação disfuncional”. Para gerir e tratar os casos de dor crónica é necessário juntar as mais diferentes correntes científicas, reunindo uma equipa de profissionais de saúde que possa atuar na intervenção mais eficaz. Para além dos médicos e da indústria farmacêutica, há ainda um terceiro sector que deve ter peso no tratamento: a psicologia. Psicólogos podem ajudar a travar casos de dor crónica observando, caso a caso, como intervir para ajudar o cérebro a comunicar de forma mais saudável com o corpo, reorganizando a função cerebral do doente.
Terapias alternativas
As terapias alternativas podem ser excelentes aliadas para provocar a melhoria da perceção corporal, podendo contribuir para aliviar os estímulos nervosos e a tensão – que são fatores reconhecidos pela grande influência sobre a origem da dor.
Conheça de seguida algumas opções.
Terapia cognitiva comportamental – esta é uma abordagem da psicoterapia, muito útil para ajudar no tratamento de qualquer tipo de dor, mas que tem especial influência no tratamento de casos de ansiedade e depressão.
Massagem – a massagem é um ótimo método de tratamento da dor, especialmente das que são provocadas por excesso de tensão e contraturas musculares.
Acupuntura – esta terapia alternativa tem resultados comprovados quando o assunto é aliviar dores provocadas pela osteoartrite e outras dores crónicas com origem muscular.
Fisioterapia – as terapias feitas com calor ou com foco na reabilitação dos movimentos é bastante útil no tratamento das dores.
Em paralelo, é sabido ainda que a prática regular de atividade física auxilia no tratamento e alívio de incontáveis tipos de dor crónica, bem como as técnicas de relaxamento, conhecidas por reduzir as contrações e promover a melhor autopercepção do próprio corpo.
Independente de qual seja a origem da dor, o estado emocional do doente tem grande influência no diagnóstico da dor crónica, pois está comprovado pela ciência que pessoas ansiosas e deprimidas sofrem mais da doença. Indivíduos inseridos num contexto de satisfação, por exemplo, tendem a queixar-se menos deste tipo de quadro.
Assim, dê atenção ao seu estado emocional, equilibre a dieta, pratique atividade física regular e invista no seu bem-estar. Em caso de dor recorrente ou persistente, que dure há três meses ou mais, procure o seu médico de família e peça orientação especializada. Lembre-se: quanto mais cedo cuidar do problema, mais eficaz é o tratamento.
A dor crónica em Portugal
Custos com a dor crónica
Todos os anos, a dor crónica custa ao Estado milhões de euros. Entre os gastos indiretos estão as despesas com o absentismo e a reforma antecipada, que acabam mesmo por ultrapassar os gastos com serviços de saúde e medicamentos.
Sabe-se que a dor crónica afeta mais idosos e pessoas em situação de vulnerabilidade, mas há também uma grande parcela de doentes entre os 45 e os 60 anos.
O Plano Estratégico Nacional de Prevenção e Controlo da Dor
O Plano Estratégico Nacional de Prevenção e Controlo da Dor, que apareceu para realçar a importância da dor, defende que esta deve ser vista como um quinto sinal vital e que o seu tratamento tem que ser uma prioridade nacional. O foco é direcionado à melhoria da qualidade de vida da população e no controlo dos gastos associados à doença.
O plano define grupos com necessidades bastante específicas – como crianças, idosos e doentes críticos – defende o diagnóstico precoce e a prevenção da dor crónica, e determina que as orientações técnicas para o seu tratamento devem ser revistas, bem como deve ser acompanhada a sua aplicação no terreno, sensibilizando profissionais de saúde para lidar com o problema de forma adequada.