Catarina Milheiro
Catarina Milheiro
08 Mai, 2023 - 19:32

Fentanil: medicação para dor é 50 vezes mais forte que heroína

Catarina Milheiro

Fentanil, medicamento para dor, é a principal causa de morte abaixo dos 50 anos nos EUA. A droga está à venda, até, no TikTok.

No dia 9 de maio assinala-se o Dia Nacional de Consciencialização sobre o fentanil nos Estados Unidos – uma droga sintética considerada como o medicamento para dor mais forte para efeitos médicos. Altamente viciante, o consumo já é a principal causa de morte entre a população americana com menos de 50 anos.

De facto, os efeitos do opiáceo – que é 100 vezes mais forte do que a morfina e 50 vezes mais potente do que a heroína – são visíveis nas ruas de Los Angeles e São Francisco, as duas cidades mais ricas do país. Alguns bairros acabaram por se transformar em zonas de consumo a céu aberto.

Não há dúvidas que de que o consumo indiscriminado deste opioide é uma autêntica epidemia nos EUA e no Canadá. Mas é necessário observamos, também, o perigos no nosso país e perceber para que é utilizado o fentanil.

Vamos perceber o que é, para que é utilizado e as consequências associadas ao seu consumo.

Fentanil: a medicação para dor mais potente que a medicina pode prescrever

Em Portugal, o fentanil é um fármaco usado há vários anos (desde 1967) em procedimentos médicos. Para além disto, funciona como um poderoso analgésico para o tratamento da dor – um exemplo de medicação algumas vezes prescrita para tratar a dor crónica relacionada com doença aguda ou oncológica.

No nosso país, o fentanil é usado com precaução médica, exatamente porque pode conduzir a um risco elevado de dependência e de sobredosagem.

Mas então por que estamos a falar sobre o fentanil e por que esta é a droga mais preocupante da atualidade? Em resumo, porque está associada a casos de dependência grave, é uma das principais causas de morte por overdose nos EUA e está à venda na internet.

Trata-se de uma substância psicoativa do grupo dos opioides que tem um grau elevado de adição, já que o seu efeito é rápido e intenso, e o mercado ilegal já a descobriu como potencial forma de fazer dinheiro.

Mas afinal, o que é o fentanil?

A utilização de fentanil enquanto droga recreativa está diretamente associada ao facto de proporcionar uma sensação de enorme relaxamento e bem-estar físico – é isto que sentem as pessoas que consomem o opioide sem prescrição para tal.

Estamos, de facto, perante uma droga pesada. O fentanil é um opioide sintético, aprovado como anestésico para utilização médica pela Food and Drug Administration (FDA) – o órgão do governo americano que controla alimentos e medicação no país.

Em Portugal, a substância só é legal quando usada em ambiente hospitalar. No entanto, parece ser uma droga que começa a circular nas discotecas e ambientes noturnos atraindo os consumidores de ecstasy e de cocaína.

Quais são os perigos da administração descontrolada de fentanil?

Quando consumido de forma ilegal, isto é, fora do contexto hospitalar, a sobredosagem pode resultar em overdoses fatais, fazendo com que as pessoas entrem em paragem cardiorrespiratória.

Segundo a Drug Enforcement Administration (DEA), o fentanil é a causa nº.1 de morte entre a população americana até 50 anos. Para que consiga ter uma noção, em 2021 foram 106 mil as pessoas que morreram de overdoses. Sendo que destas, mais de 70 mil foram vítimas da substância.

Como podemos observar, os dados são extremamente preocupantes.

Apenas 2 miligramas de fentanil podem ser o suficiente para matar uma pessoa.

Uma droga com cada vez mais adeptos

Ainda que se trate de um medicamento, o fentanil começou a ser produzido pelos cartéis por se tratar de algo mais económico quando comparado com a produção de papoilas para a heroína, por exemplo.

Pode ser cheirado, fumado, consumido por via oral em comprimido ou pílula, cravado em papel, adesivos, vendido sozinho ou em conjunto com heroína e até outras substâncias. Foi até identificado em comprimidos falsos que simulavam drogas farmacêuticas – como a oxicodona.

Por isso mesmo, tem vindo a espalhar-se principalmente entre a população que consome cocaína ou ecstasy em festas. Tal acontece porque este tipo de consumidores experimenta com facilidade drogas às quais não estão habituados e de fornecedores a quem não têm por hábito comprar.

No fundo, acabam por se tornar em utilizadores muito mais vulneráveis, já que não têm qualquer tipo de tolerância aos opiáceos.

O que os consumidores dizem sentir quando administram fentanil?

À semelhança de outros opioides, o fentanil produz efeitos como:

  • euforia;
  • relaxamento;
  • alívio da dor;
  • tonturas;
  • sonolência;
  • sedação;
  • confusão;
  • desorientação;
  • náuseas e vómitos;
  • depressão respiratória;
  • retenção urinária;
  • constrição pupilar.

Os relatos referem, com frequência, a inalação e injeção da droga e descrevem os seus efeitos como uma sensação de bem-estar e de relaxamento quase imediata. Há, inclusivamente, quem sinta também um ligeiro formigueiro e a falta de vontade de comer, beber ou fumar.

Para além disto, a droga é também famosa devido ao facto de providenciar um género de uma viagem afetiva, onde o sentimento das carícias é potenciado. Ora, tudo isto parece ter vindo a ganhar adeptos em vários locais do mundo ao longo dos anos.

Outras drogas recreativas contaminadas com fentanil: os riscos

Existe ainda o risco acrescido da contaminação de drogas. Ou seja, quando os consumidores usam drogas que foram contaminadas com fentanil, acontecem muitas vezes as overdoses acidentais – algo que tem vindo a constituir uma grave preocupação, principalmente nos Estados Unidos.

Para ajudar a controlar a contaminação dos comprimidos encomendados e consumidos pelos mais jovens nos Estados Unidos, a FentCheck criou um programa que contém testes gratuitos que dão resultados em 2 minutos.

No fundo, os testes servem para que todos possam testar se as drogas que encomendam de forma ilícita estão contaminadas ou não. Desta forma, é possível tentar controlar e prevenir o número de overdoses.

Drogas compradas pelas redes sociais: um problema da geração Z

Relativamente aos alvos do tráfico de fentanil, a faixa etária entre os 30 e os 34 anos – idades em que se têm vindo a registar mais casos de overdoses na América do Norte. No entanto, existe um risco em crescimento que aponta para aumento do consumo entre os adolescentes que utilizam o TikTok – onde já é possível encontrar traficantes e encomendar, online, a substância de forma ilícita.

Atualmente, a geração Z parece estar a recorrer à rede social que mais utiliza para comprar drogas em comprimidos. Para além de estarmos diante de um problema gravíssimo relacionado com o fácil acesso e consumo de drogas, temos ainda de lidar com o risco de drogas contaminadas com fentanil.

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