Miguel Pinto
Miguel Pinto
17 Jul, 2025 - 15:00

Fim de uma era: Ford Focus sai de cena já em novembro

Miguel Pinto

Pois é verdade, o Ford Focus, um dos mais emblemáticos modelos da marca, vai deixar de ser produzido ainda este ano. E o futuro?

Ford Focus antigo

Em Novembro de 2025, um dos nomes mais emblemáticos da indústria automóvel europeia, o Ford Focus, será silenciosamente retirado de cena.

O modelo que, durante quase três décadas, definiu o segmento dos compactos e foi uma referência em prazer de condução, deixará oficialmente de ser produzido na fábrica de Saarlouis, na Alemanha.

E com ele, encerra-se um capítulo importante da história da marca da oval azul… e também da nossa própria história como condutores.

Corria o ano de 1998 quando a Ford, numa jogada ousada, decidiu pôr fim ao reinado do Escort, lançando um substituto completamente novo.

O Focus nasceu com um desenho arrojado, quase futurista, um comportamento dinâmico irrepreensível e uma missão clara: agitar as águas paradas do segmento C europeu. E conseguiu.

Logo no ano seguinte conquistava o título de Carro Europeu do Ano. O Focus foi um daqueles raros casos em que o marketing não precisou de exagerar: bastava um test drive para perceber que estávamos perante algo especial.

A direção era comunicativa, a suspensão traseira multibraço garantia um equilíbrio dinâmico invejável, e havia uma sensação de solidez que envergonhava muitos concorrentes da época.

Ford Focus: quatro gerações, uma linhagem inabalável

Ao longo de quatro gerações, o Focus foi evoluindo, reinventando-se sem nunca perder o seu ADN. Se a primeira geração ficou na memória pela sua ousadia estética e engenharia superior, a segunda consolidou a fórmula com melhorias ao nível de qualidade e espaço.

A terceira tentou dar o salto para o mercado global, com resultados mistos, mas foi a quarta (apresentada em 2018) que recuperou o brilho perdido, com uma plataforma nova (C2), tecnologia moderna e uma condução que, mesmo nas versões mais simples, continuava a pôr um sorriso na cara de quem guiava.

Em cada geração, houve sempre lugar para os entusiastas. Quem não se lembra do Focus ST 2.5 de cinco cilindros ou do endiabrado RS com tração integral e 350 cv

Para muitos, esses modelos tornaram-se o ponto de entrada no mundo dos desportivos acessíveis. E não era apenas potência: era o equilíbrio, a ligação à estrada, a sensação de que o carro era uma extensão do corpo.

O fim anunciado

A decisão da Ford de terminar a produção do Focus (tal como aconteceu com o Fiesta e o Mondeo) não foi súbita, mas mesmo assim dói.

A marca tem vindo a reformular a sua estratégia europeia, concentrando-se em segmentos mais rentáveis como os SUV, pick-ups e, claro, veículos elétricos.

A fábrica de Saarlouis, onde o Focus é atualmente produzido, encerrará as suas operações produtivas no final de 2025, ficando num limbo até 2032 enquanto a Ford procura possíveis compradores para a infraestrutura.

Segundo a própria Ford, o futuro passa por veículos “mais icónicos” (palavras do CEO Jim Farley) e por uma transição firme rumo à eletrificação total. Isto significa que não haverá sucessor direto do Focus.

Em vez disso, a Ford planeia lançar uma nova gama de veículos elétricos compactos entre 2026 e 2027, com base numa nova plataforma partilhada com a Volkswagen (MEB), mas sem qualquer herança técnica ou emocional com o Focus original.

Ford Focus azul

Uma despedida com gosto agridoce

É verdade que o mundo mudou. Os condutores de hoje procuram ecrãs tácteis gigantes, assistência à condução quase total e SUV que subam passeios como se fossem trilhos dos Alpes.

Mas ainda há quem procure uma boa caixa manual, um chassis equilibrado e aquele prazer analógico de entrar numa curva e sentir o carro a responder de forma previsível, algo que o Ford Focus sempre ofereceu, mesmo nas suas versões mais modestas.

Com o fim da produção, antevê-se também uma valorização sentimental (e possivelmente monetária) das versões mais especiais do Focus, nomeadamente os ST e RS.

E para os colecionadores, esta pode ser a última oportunidade de adquirir um compacto com sabor genuíno a estrada, antes que tudo se torne elétrico, autónomo e digital até ao osso.

A verdade é que o Ford Focus não foi apenas um carro. Foi o primeiro carro de muita gente. Foi o companheiro fiel de viagens em família, de aventuras na serra, de percursos urbanos caóticos e de fins de semana à descoberta do interior do país.

Foi o carro que nos ensinou que conduzir podia ser divertido mesmo com menos de 150 cv. E foi, talvez, o último grande representante de uma era em que os carros do povo eram feitos com alma de engenheiro e não com algoritmos de rentabilidade.

Ford Transit de 1975
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E agora?

O futuro do automóvel será inevitavelmente elétrico e a Ford já tem cartas nesse jogo com o Mustang Mach-E e os futuros modelos baseados na plataforma MEB. Mas será que algum deles terá o impacto, a longevidade e a versatilidade do Focus? É difícil dizer.

Uma coisa é certa: quando o último Focus sair da linha de produção, em Saarlouis, não será apenas o fim de um carro. Será o fim de uma filosofia de design, de engenharia e de condução.

Uma filosofia que acreditava que um carro acessível podia ser também entusiasmante, bem construído e, sobretudo, memorável.

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