Valdemar Jorge
Valdemar Jorge
19 Jul, 2021 - 15:36

Ford Thunderbird: um clássico com coração desportivo

Valdemar Jorge

O Ford Thunderbird ou T-Bird como também é conhecido surgiu há 66 anos para deslumbrar os EUA. Conheça o automóvel que passou por diversas metamorfoses.

Ford Thunderbird de 1962

O Ford Thunderbird tem longa tradição na NASCAR, como veremos mais à frente. A sua história, no entanto, começa na Europa, numa altura em que os Estados Unidos da América estavam em euforia após a Segunda Guerra Mundial.

Em 1951, dois elementos da estrutura da Ford, Louis D. Crusoe, então diretor geral da empresa, e George Walker, estilista-chefe e vice-presidente, visitavam o Salão Automóvel de Paris.

Do leque de propostas que viam por parte de outras marcas ouve um modelo de automóvel que lhes chamou atenção: os desportivos de dois lugares. Louis Crusoe, impressionado com o design e o propósito deste automóveis muito em voga na Europa, acaba por questionar o projetista: “Por que não podemos ter algo assim?”.

A resposta viria algum tempo mais tarde com o departamento de projetos em Dearborn (Michigan), sede da Ford, a apresentar uma resposta exequível. E em que participaram, igualmente, Frank Hershey, estilista-chefe da Divisão Ford, Bill Boyer, designer do Body Development Studio e Bill Burnett, engenheiro-chefe.

O designer da Ford, William P. Boyer, foi o estilista-chefe do Thunderbird de dois lugares original de 1955 e participou, igualmente, no desenvolvimento das gerações seguintes do Thunderbird, incluindo a edição do 30.º aniversário do modelo.

Desportivos europeus nos EUA

Curioso é o facto de alguns modelos europeus, então em voga, serem importados para a América e obrigarem a marca da oval azul a acelerar o processo de produção de algo similar.

Em 1951 deambulavam por Detroit, centro automóvel por excelência, modelos como MC TC ou o Jaguar XK 120, os bem sucedidos Austin-Healey 3000 ou os Triumph TR2/TR3. E, antes da Ford, outra empresa da casa assumia o estilo europeu. A General Motors apresentava em 1953 o Chevrolet Corvette.

Ford Thunderbird apresentado em 1954

A chegada ao mercado do Chevrolet Corvette teve forte impacto na Ford. A evolução do modelo em desenvolvimento desde 1951 rapidamente chega ao fim e o Thunderbird (ou pássaro-trovão), nome que anunciava grandeza, é apresentado no Salão Automóvel de Detroit, em 1954.

Se o nome causava desassossego perante os rivais, o automóvel não tinha nada de atemorizador. Antes pelo contrário. Apresentava-se como um cabriolet elegante, com frente longa, apenas dois lugares e traseira curta. Era a resposta da Ford ao seu diretor geral, George Walker. Era a visão da marca norte-americana do carro tipicamente europeu.

No T-Bird a Ford incluiu todo o seu ADN. De tal forma que o modelo conheceu ao longo de dois períodos de produção, 1954-1997 (43 anos) e mais tarde entre 2002 e 2005 (4 anos), 11 gerações diferentes, mas sempre com o denominador comum: Thunderbird.

Ford Thunderbird de 1965

Thunderbird: 47 anos de sucesso

Desde o momento em que começa a ser produzido o Thunderbird tornou-se num cabriolet desportivo muito apetecido. E o sucesso talvez tenha passado pelo facto de, ao contrário do Chevrolet Corvette, o Thunderbird nunca ter sido conotado pela Ford como um modelo desportivo.

Antes, a marca norte-americana colocou-o no mercado dando enfoque a um modelo sofisticado, posicionando-o como um modelo de luxo. Tudo para despertar a vaidade dos potenciais clientes.

Após os primeiros anos de comercialização, que foram um sucesso, em 1958 a Ford arrisca, redesenha o Thunderbird e acrescenta uma segunda fila de bancos. As gerações futuras do modelo crescem em tamanho até 1977, altura em que o design do modelo volta a encolher. Processo idêntico acontece nos anos 1980 e 1983, em que o automóvel surge mais curto.

As vendas do modelo foram crescendo até 1990, altura em que os grandes coupés de duas portas passam a ser vistos como “persona non grata”. Isto é, caem em desuso. Perdem a popularidade que nutriam junto do público. E, assim, a produção do Thunderbird cessa em 1997.

A Ford retoma o nome do modelo anos mais tarde numa tentativa de voltar a viver os gloriosos anos 60. Deste modo, a produção do Thunderbird é retomada em 2002, surgindo um modelo semelhante ao original de 1954, mas com design moderno, de linhas redondas. Mas, esta “glória” só sobrevive 4 anos.

Desde a sua chegada ao mercado em 1955 até final de 2005, último ano de produção, a Ford construiu mais de 4,4 milhões de Thunderbird.

As sucessivas gerações foram:

  • 1.ª geração: 1955-1957;
  • 2.ª geração: 1958-1960;
  • 3.ª geração: 1961-1963;
  • 4.ª geração: 1964-1966;
  • 5.ª geração: 1967-1971;
  • 6.ª geração: 1972-1976;
  • 7.ª geração: 1977-1979;
  • 8.ª geração: 1980-1982;
  • 9.ª geração: 1983-1988;
  • 10.ª geração: 1989-1997;
  • 11.ª geração: 2002-2005.

Diferentes design: a transfiguração do Thunderbird

Numa “viagem” pela incrível história deste modelo da Ford facilmente se percebe o arrojo estilístico dos engenheiros da marca que, a partir do modelo de 1955, conseguiram durante 47 anos manter quase intacta a aura de sucesso de um modelo que, geração após geração, se adaptava ao estilo da época.

Os norte-americanos entenderam desde o início a filosofia que a Ford aplicou neste automóvel. Um carro de luxo, um cabriolet onde o estilo pessoal de cada um era potenciado perante a sociedade.

Ford Thunderbird de 1977

Ford Thunderbird intimamente ligado à NASCAR

A NASCAR – National Association for Stock Car Auto Racing é a associação que controla os principais campeonatos de stock-cars dos EUA, Canadá, México e Europa.

A associação foi criada em 1948 para unificar as muitas corridas de carros de série que se disputavam no país, sem qualquer tipo de regras ou organização.

Neste contexto o Ford Thunderbird fez uma incursão pela primeira vez nas corridas da NASCAR na temporada de 1959, numa altura em que a Daytona International Speedway abriu as portas e muda o panorama das corridas de “stock-cars” para sempre, com as corridas de carros de série a ficarem associadas a velocidades alucinantes.

Em 1959 surgia a segunda geração do Thunderbird com motor 430 CID V8. Foi com esta combinação que pilotos como Curtis Turner, Johnny Beauchamp, “Tiger” Tom Pistone e Cotton Owens chegaram à vitória.

A metamorfose das carroçarias dos Thunderbird e a influência aerodinâmica

A temporada seguinte, que arrancou em 1960, não foi tão feliz para o T-Bird. A maioria das equipas volta a usar carroçarias convencionais da Ford e o Thunderbird apenas faz esporádicas aparições até ao final da década. Não consegue impor-se, nem arrebata vitórias.

Em 1977 volta o brilho dos T-Bird, com o regresso às corridas. Nesse ano substituem o Torino, e marcam o estilo de carroçaria principal da Ford na NASCAR, dando assim início a uma tendência de estilos de carroçaria do tipo coupé de luxo.

Com o novo estilo de carroçaria, Bobby Allison venceu 13 corridas com o carro dirigido pelo proprietário Bud Moore nas temporadas de 1977 a 1980, apesar de os carros parecerem mais quadrados que aerodinâmicos.

Carroçarias mais curtas do T-Bird e as altas velocidades

De 1981 a 1997 os Thunderbirds surgem com tamanho mais reduzido e aerodinamicamente limpos, projetando uma nova era e somando sucessos nas corridas de stock cars da NASCAR, até serem substituídos pelas carroçarias Taurus, em 1998.

Associado à eficiência das carroçarias estão as altas velocidades que as máquinas alcançam.

Os carros com carroçarias de 1983 a 1988 quebravam a barreira dos 320 km/h. Neste contexto, destaca-se uma sessão de qualificação onde um T-Bird estabeleceu o recorde de volta mais rápida na história do stock car com 44,998 segundos, a uma velocidade média de 342,483 km/h, no circuito de Talladega Superspeedway. Recorde que se mantém até hoje.

A este recorde somam-se vitórias como a de Bill Elliot, que em 1988 venceu o campeonato, ou a de Alan Kulwicki, que ganhou o campeonato em 1992 com um carro que tinha por nome “Underbird”, muito por causa do azar que o piloto tinha nas corridas. Mas, no final, acabou por se sagrar campeão.

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