Miguel Pinto
Miguel Pinto
14 Ago, 2025 - 10:00

A fruta está cada vez mais cara. Qual será a principal razão?

Miguel Pinto

Pois é verdade, o preço da fruta não tem parado de subir e ninguém sabe até onde pode ir. Mas quais são as razões para este aumento?

fruta e legumes saudáveis

Em Portugal, comprar fruta tornou-se um exercício cada vez mais dispendioso. O aumento recente dos preços não é apenas uma perceção dos consumidores: os números confirmam-no.

Em julho de 2025, os produtos alimentares frescos registaram uma inflação homóloga de 6,1 %, mas a fruta destacou-se com um salto de 10 % face ao mesmo mês do ano anterior, segundo dados divulgados pelo jornal ECO.

A tendência tem sido constante nos últimos anos e levanta questões sobre a sua origem, as consequências para os consumidores e as perspetivas para o futuro.

E a verdade é que o cabaz das famílias portuguesas começa a pesar cada vez mais… na carteira.

Fruta cara: um problema que se arrasta

A escalada nos preços da fruta não começou agora. Desde 2021, com a disrupção nas cadeias de abastecimento causada pela pandemia, o setor agrícola europeu passou a enfrentar custos mais altos e prazos de entrega mais longos para fertilizantes, sementes e maquinaria.

Em 2022, a invasão da Ucrânia agravou o cenário, fazendo disparar o preço da energia e dos combustíveis, ao mesmo tempo que encareceu o transporte marítimo e terrestre.

Este encadeamento de eventos criou uma pressão permanente sobre os custos de produção, que inevitavelmente se refletiu no preço final pago pelo consumidor.

Em Portugal, as dificuldades foram ainda acentuadas por fenómenos meteorológicos extremos. Secas prolongadas, ondas de calor intensas e chuvas fora de época tornaram-se mais frequentes, prejudicando a regularidade das colheitas.

Em 2024, por exemplo, a colheita de maçã no Oeste e a de pêssego no Alentejo registaram quebras significativas devido à oscilação de temperaturas na primavera.

Este ano, as culturas de melão e melancia sofreram atrasos, reduzindo a oferta no pico da procura de verão e empurrando os preços para cima.

O peso no bolso do consumidor

Os números do Índice de Preços no Consumidor confirmam a importância deste fenómeno. Em julho de 2025, só o aumento da fruta contribuiu com 0,144 pontos percentuais para a variação global do IPC, muito acima dos 0,024 pontos de 2024.

Este salto demonstra que a fruta não só está a encarecer mais rapidamente do que outros alimentos, como é um dos principais motores da inflação alimentar no país.

Para muitas famílias, especialmente as de rendimento mais baixo, isto traduz-se numa escolha difícil: manter o consumo de fruta e cortar noutras despesas, ou reduzir a variedade e quantidade comprada.

fruta numa taça

Desafios estruturais e dependência externa

Além das questões conjunturais, existem problemas estruturais. Portugal depende cada vez mais da importação de fruta, seja porque a produção nacional não cobre a procura interna, seja porque algumas variedades mais apreciadas têm origem noutros países.

Esta dependência expõe o mercado nacional a flutuações cambiais, custos de transporte e variações sazonais de outros mercados.

A própria União Europeia impõe regras ambientais e fitossanitárias que, embora visem a sustentabilidade, acrescentam custos e burocracia para os produtores.

Os agricultores, representados por entidades como a Confederação dos Agricultores de Portugal, têm alertado que, sem políticas de incentivo à produção nacional e de apoio à modernização tecnológica, a competitividade vai continuar a diminuir.

Isso significa que o país ficará mais vulnerável a choques externos e que o preço da fruta poderá manter-se elevado durante mais tempo.

O que esperar nos próximos anos

As projeções para o futuro não são animadoras. Estudos sobre o impacto das alterações climáticas na agricultura mediterrânica indicam que, até 2030, a produção de certas frutas poderá sofrer quedas médias de 10 % a 20 %, sobretudo em anos de seca severa.

Ao mesmo tempo, a procura global por fruta fresca está a aumentar, impulsionada pelo crescimento populacional e pela valorização de dietas saudáveis, o que poderá manter a pressão sobre os preços.

O risco mais imediato é que a fruta, pilar fundamental de uma alimentação equilibrada, se torne cada vez mais inacessível para parte da população.

Esta barreira económica pode agravar problemas de saúde pública, como a obesidade e as doenças cardiovasculares, já que muitos consumidores poderão recorrer a alimentos processados mais baratos, mas nutricionalmente pobres.

A solução, dizem os responsáveis, exige uma ação coordenada entre produtores, distribuidores e governo, com políticas que incentivem a produção nacional, garantam preços mais estáveis e protejam o poder de compra.

Até lá, o cenário aponta para uma realidade em que comer fruta de qualidade, fresca e variada poderá continuar a ser um luxo para muitas famílias portuguesas.

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