Share the post "Há 60 anos chegava a primeira música do espaço. Sabe qual foi?"
Algumas efemérides parecem saídas de um guião de cinema, mas esta aconteceu mesmo. A 16 de dezembro de 1965, em pleno espaço, na missão Gemini 6, dois astronautas norte-americanos decidiram levar o espírito natalício para onde nunca tinha chegado.
E fizeram-no de forma tão simples quanto improvável, tocando “Jingle Bells” com uma pequena harmónica e uns sinos de bolso. O resultado? A primeira música alguma vez transmitida a partir do espaço.
A história começa com Wally Schirra e Tom Stafford, dois astronautas com sentido de humor apurado e uma queda para o improviso.
A missão Gemini 6 já tinha vivido dias tensos, incluindo um lançamento abortado, e talvez por isso o ambiente a bordo merecesse um momento mais leve.
No regresso à órbita, e com a aproximação ao módulo Gemini 7 concluída com sucesso, Schirra tirou discretamente da bolsa pessoal uma harmónica Hohner minúscula (tão pequena que cabia na palma da mão) e Stafford juntou-lhe um conjunto de sinos metálicos.
Poucos segundos depois, a equipa de controlo na Terra, e a tripulação do Gemini 7, ouviu uma melodia familiar atravessar o silêncio das comunicações espaciais.
Para quem acompanhava a missão, o momento foi inesperado, quase surreal. No meio da corrida espacial e da tensão geopolítica da época, a NASA acabava de enviar para os registos históricos um instante de pura humanidade.
É fácil imaginar o espanto, e o sorriso, de quem estava nos controlos em Houston.
Música no espaço: lenda que perdurou
O episódio tornou-se rapidamente uma pequena lenda da exploração espacial. Hoje, a harmónica e os sinos usados na Gemini 6 fazem parte do acervo do Museu Nacional do Ar e Espaço, nos Estados Unidos.
Mais do que curiosidades, são lembranças tangíveis de um tempo em que voar para fora da Terra ainda parecia magia, e em que dois astronautas decidiram que, mesmo a centenas de quilómetros de casa, o Natal não devia ficar esquecido.
E em 1965, essa humanidade chegou disfarçada de harmónica, sinos e uma melodia que quase toda a gente sabe assobiar. E assim, literalmente, o espaço ganhou música. Ouça o que aconteceu neste vídeo.
Gemini no centro da corrida ao espaço
A história de “Jingle Bells” no espaço ganha ainda mais sabor quando percebemos o contexto em que aconteceu.
A missão Gemini 6 tinha como objetivo um feito histórico e que era realizar a primeira aproximação orbital controlada a outra nave tripulada, a Gemini 7.
Hoje parece rotina, mas em 1965 era território completamente inexplorado. A ideia de duas naves se encontrarem, ajustarem rota e voarem lado a lado no silêncio do espaço era quase ficção científica tornada engenharia.
A Gemini 7, comandada por Frank Borman e Jim Lovell, tinha sido lançada antes, numa missão longa e exigente. O objetivo principal era testar os limites humanos em voos prolongados.
Acabaram por permanecer 14 dias no espaço, um recorde para a época e um passo essencial para perceber se seria possível enviar astronautas até à Lua.
Durante esse tempo, enfrentaram desconforto físico, espaço extremamente reduzido e uma rotina repetitiva que colocava à prova tanto a resistência quanto o humor.
A chegada da Gemini 6 ao seu lado, no oitavo dia da missão, foi não só um marco técnico como também um alívio emocional evidente para a dupla.
Programa pioneiro
O programa Gemini desempenhou precisamente este papel, ou seja, servir de ponte entre o entusiasmo pioneiro do Mercury e a ambição monumental do programa Apollo.
Cada missão Gemini tinha um propósito claro e que passava por aperfeiçoar técnicas de navegação orbital, experimentar atividades extraveiculares, testar sistemas de suporte de vida e, sobretudo, aprender a aproximar, acoplar e manobrar naves no espaço com precisão milimétrica.
Sem esses exercícios, a famosa acoplagem do módulo lunar com o módulo de comando na viagem à Lua teria sido praticamente impossível.
A Gemini 6 e a Gemini 7 são muitas vezes recordadas como o “par improvável” do programa, porque mostraram que a cooperação orbital era viável e que a engenharia norte-americana podia enfrentar desafios cada vez maiores.
E, ironicamente, num capítulo habitualmente contado através de números, telemetria e manuais técnicos, foi a música, simples, despretensiosa e tocada numa harmónica minúscula, que deu ao momento um brilho ainda mais humano.