Catarina Reis
Catarina Reis
04 Out, 2018 - 11:20

Saiba como usar a inteligência emocional no trabalho

Catarina Reis

O uso da inteligência emocional no trabalho pode fazer milagres pelo seu bem estar, promovendo crescimento e desenvolvimento de relações laborais saudáveis

mãos de equipa reunidas ao centro

Evoluir numa profissão exige mais do que ter a capacidade técnica necessária para realizar as tarefas que são atribuídas. A inteligência emocional no trabalho é uma competência pessoal transversal a todas as áreas e setores profissionais, sendo imprescindível para a saúde intrapsíquica e interpessoal.

Inteligência emocional no trabalho: competência imprescindível à evolução profissional

inteligencia emocional

Entende-se por inteligência emocional a capacidade de fazer com que as emoções ajudem o indivíduo a alcançar determinados resultados. No contexto de trabalho, esta é a competência a ativar para usar as emoções a favor da performance profissional.

Cada vez mais especialistas e profissionais com poder de decisão nas empresas consideram a inteligência emocional imprescindível ao crescimento individual dos trabalhadores e ao crescimento coletivo da organização. E a verdade é que ela é essencial para alcançar o sucesso – aqui entendido como abrangendo muito mais do que os resultados a nível profissional e o salário auferido.

Se o sucesso for percecionado na ótica da realização pessoal, do cultivo de relações positivas em contexto de trabalho e da capacidade de alinhar a vida pessoal com a vida profissional, então ser emocionalmente inteligente é verdadeiramente imprescindível.

O papel da inteligência emocional no trabalho no desenvolvimento das relações

Em primeiro lugar, há que considerar que a inteligência emocional desempenha um papel fundamental no que às relações sociais diz respeito – ora, e sendo esse desde logo um aspeto determinante na vida profissional da generalidade das pessoas, estamos perante uma evidência óbvia do impacto que a inteligência emocional tem no trabalho.

Sendo assim, é seguro afirmar que a inteligência emocional está intimamente ligada à capacidade para cooperar, trabalhar em equipa e gerir o stress derivado do trabalho. Se as organizações como um todo também forem emocionalmente inteligentes, podem inclusive perseguir objetivos de impacto social, trabalhando para o enriquecimento e a sustentabilidade das comunidades que lhes são próximas.

Coração e razão: forças opostas?

No passado, emoções e inteligência eram frequentemente encaradas como forças em contradição. Nas últimas décadas, no entanto, a relação entre afeto e a cognição tornou-se mais conhecida, e foi possível estudar-se de que forma podem realmente interagir e influenciar os comportamentos das pessoas, nomeadamente no contexto de trabalho.

De facto, emoções como a felicidade, a raiva, o medo, ou a tristeza, influenciam a forma como as pessoas se comportam e tomam decisões, na vida em geral como no trabalho em específico. Mais: verificou-se que, ao contrário do que anteriormente era defendido, a emoção desempenha um papel importante na tomada de decisão, inclusivamente em processos de análise de informações complexas e na resolução de problemas com muitas variáveis em jogo.

O que significa usar a inteligência emocional de modo positivo no trabalho?

Em contexto de trabalho, ser-se emocionalmente inteligente implica, antes de mais, confiar na sua intuição. Isto requer, e simultaneamente promove, a boa compreensão de si mesmo, o autocontrole, a empatia e uma compreensão acima da média das decisões, necessidades e desejos das outras pessoas.

Assim, pode afirmar-se que a inteligência emocional implica:

  • Autoconsciência – a capacidade de estar em sintonia com o que se é e o que tem para dar;
  • Gestão do humor – a capacidade de gerir as suas emoções, “reciclando” sentimentos negativos e sendo capaz de ser assertivo e de dar feedback construtivo;
  • Auto-motivação – a capacidade de fazer as tarefas necessárias, e não apenas as que tem vontade de fazer;
  • Capacidade de se relacionar bem com os outros, de dar e receber críticas, ir em busca do consenso, fazer uma boa comunicação em equipa;
  • Ser mentor emocional – ajudar os outros a gerir as suas emoções, ajudá-los a resolver conflitos.

Quem possuir estas características no contexto de trabalho, decerto tem boas hipóteses de ser bem sucedido na utilização da inteligência emocional a favor do seu sucesso e crescimento.

inteligencia emocional

Sabia que…?

A importância da inteligência emocional no trabalho está diretamente relacionada com a resolução de conflitos. Um exemplo muito comum de um conflito que pode ser sanado por intervenção da inteligência emocional é o seguinte: um dos clientes ou fornecedores da empresa fez uma reclamação a propósito do serviço de atendimento.

Se o empregador tiver inteligência emocional e souber usá-la, ao invés de despedir ou punir de imediato o funcionário que recebeu a reclamação ou que foi alvo direto da mesma, irá, em primeiro lugar, assumir o erro e pedir desculpa ao cliente ou fornecedor.

De seguida, irá prontificar-se para compreender o que se passou, ouvindo as partes envolvidas. E de seguida, tentará compreender o que esteve na origem do erro e de que forma é que a empresa pode melhorar, como um todo, para evitar que situações semelhantes aconteçam no futuro.

Por vezes o atraso no atendimento deve-se não à falta de competência técnica do funcionário mas, por exemplo, a um sistema informático deficitário. Será que a criação de uma sala de espera mais confortável pode reduzir o número de reclamações?

A resolução de um problema com recurso à inteligência emocional implica quase sempre ouvir os envolvidos e perceber as suas queixas, motivações e expectativas.

Será que devo desenvolver mais a minha inteligência emocional?

Há alguns sinais mais ou menos evidentes de que se tem um défice de inteligência emocional. Por exemplo:

  • Criticar as outras pessoas quando elas cometem erros;
  • Recusar-se a aceitar responsabilidade pessoal por alguma falha;
  • Desempenhar o papel da vítima;
  • Recusar-se a aceitar feedback, mesmo que construtivo;
  • Usar estilos de comunicação passivos, agressivos ou passivos-agressivos;
  • Recusar-se a integrar-se com a equipa;
  • Não estar recetivo às opiniões dos outros.

“Líderes” com inteligência emocional são capazes de usar as suas competências sociais para promover laços de confiança com a sua equipa. Eles conseguem ver as pessoas com quem trabalham como indivíduos com competências e personalidades próprias, e não como um grupo de trabalhadores, apenas.

Líderes emocionalmente inteligentes procuram entender-se e conectar-se emocionalmente com os elementos da sua equipa – partilhando as suas alegrias, e estando ao seu lado em tempos de tristeza. As “chefias” amedrontam-se com o estabelecimento de laços emocionais com as pessoas da organização, enveredam por estilos de liderança autoritários e marcadamente masculinos (ainda que sejam mulheres).

Como todos os outros tipos de relacionamentos, as relações de trabalho tendem a levantar desafios complexos. Quando o conflito aparece, os líderes com alta inteligência emocional são capazes de controlar os seus impulsos, e conseguem ver a situação de todas as perspectivas e encontrar soluções mutuamente benéficas. Além disso, agem com transparência e não têm problemas em admitir quando estão errados.

A outra face da moeda

Embora a inteligência emocional seja geralmente encarada de uma forma positiva e muitas vezes seja vista como um traço valioso de personalidade, está dependente de um uso equilibrado. A inteligência emocional, como qualquer outra competência, pode ser usada para o bem ou para o mal, dependendo das intenções da pessoa que a exerce.

Ter uma grande inteligência emocional por vezes pode ser perigoso. Há quem defenda que quem é bom a controlar emoções, ao saber bem como disfarçar o que sente, por vezes poderá usar isso para manipular os outros.

Para que a inteligência emocional seja eficaz, ela deve começar em nós mesmos. Não se pode obter resultados sem que primeiro percebamos como funcionamos emocionalmente. A inteligência emocional deve ser promovida por qualquer trabalhador de qualquer empresa, mas é uma caraterística muito presente sobretudo nos bons líderes.

Muitas vezes o que distingue os líderes é o nível de inteligência emocional acima da média, e isso é algo que ajuda a desenvolver um ambiente de trabalho mais eficaz e significativo para todos.

Inteligência emocional no trabalho e a relação com bem estar físico e psicológico: mito ou realidade?

Muitos especialista defendem que sim, há uma correlação direta entre esses fatores. Aqueles que apresentam um bom nível de inteligência emocional normalmente têm uma visão mais feliz da vida e uma atitude mais positiva do que aqueles com um inteligência emocional mais baixa.

Quanto ao bem estar físico, também existem estudos que apontam para que quem tenha uma grande inteligência emocional está mais apto também a nível físico. Este facto baseia-se num outro bastante simples e lógico: ao saber olhar para si próprio e identificar fontes de stress – por si só um elemento que causa problemas a nível de sono, alimentação e funcionamento cardiovascular – o profissional emocionalmente inteligente estará mais capacitado para o expressar de forma saudável e para o reduzir.

9 dicas para ter inteligência emocional no trabalho

1. Descreva as suas emoções de forma precisa

A verdade é que dizer que se está a sentir “mal” é completamente diferente de dizer que se sente ansioso, frustrado ou até mesmo perplexo e, por isso, ter um vasto vocabulário emocional é algo que deve procurar atingir. As pessoas com inteligência emocional sabem gerir os seus sentimentos pois sabem exatamente quais são e, por isso, conseguem descrevê-los de forma precisa.

2. Conheça as suas fragilidades

As pessoas com inteligência emocional têm fragilidades, como toda a gente, o que as separa das demais é saber quais são, de forma a administrar os seus comportamentos em situações de necessidade. Procure conhecer os seus pontos fracos, bem como os seus pontos fortes, evite que as suas fraquezas o atrapalhem e utilize as suas forças a seu favor.

3. Seja um bom juiz

Saber interpretar, não só os sentimentos, como também as intenções dos outros é um sinal de inteligência emocional. Procure ser sensível aos problemas dos demais e, acima de tudo, perspicaz.

4. Não se deixe ofender facilmente

As pessoas emocionalmente inteligentes são seguras de si próprias e têm uma mente aberta, o que faz com que não se deixem ofender ou desmotivar facilmente. Seja autoconfiante e não deixe que lhe tirem a alegria!

5. Saiba dizer não

Ter inteligência emocional, para além de não se deixar ofender, significa saber colocar limites. Procure rejeitar tarefas ou compromissos de forma assertiva, por muito difícil que seja, pois isso irá beneficiá-lo(a), tanto a nível físico como mental.

6. Acredite em perdão

Aprenda a contemplar os seus próprios fracassos, sem ansiedade ou frustração, perdoe a si mesmo, bem como aos outros. Não guarde rancores, pois a mágoa e o rancor são ingredientes que levam a doenças e a altos níveis de stress. As pessoas com inteligência emocional dominam os seus próprios sentimentos, o que melhora as relações entre colegas e chefias no trabalho.

7. Seja generoso

Oferecer sem pedir nada em troca é uma característica de pessoas com inteligência emocional. Ajude os seus colegas de trabalho, sem pedir nada em troca, seja generoso e consiga assim construir relacionamentos fortes e duradouros.

8. Evite pessoas tóxicas

As pessoas com inteligência emocional, principalmente em situações de trabalho, procuram evitar pessoas tóxicas, no entanto, quando não é possível, o melhor é respeitar o ponto de vista da pessoa e procurar soluções que sejam positivas para ambas as partes.

9. Não procure a perfeição

A perfeição não é um objetivo das pessoas com inteligência emocional, pois estão cientes de que não existe. Pare de se queixar do passado, dos erros ou dos problemas e simplesmente siga em frente.

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