No coração da vila de Arouca, entre serras, geossítios e tradições seculares, o silêncio ganhou nova voz. O Mosteiro de Arouca, outrora casa de oração e retiro, abriu as portas a um novo capítulo: o MS Collection Mosteiro de Arouca, um hotel de luxo onde o tempo repousa e a história respira em cada pedra.
A transformação deste monumento nacional, classificado desde 1910, é um exemplo notável de como se pode habitar o passado com sofisticação.
O hotel ocupa a ala sul do mosteiro, numa intervenção arquitetónica que respeita os traços originais cistercienses e barrocos, mas que os sublinha com conforto contemporâneo.
Os quartos, 53 no total, distribuem-se entre o antigo dormitório das monjas e alas mais recentes, com detalhes como soalhos de madeira maciça, tecidos em tons suaves e janelas que emolduram os claustros ou a serra da Freita.
Destaque para a Suite Real, instalada na antiga torre sineira, com uma vista absolutamente régia.
O hotel não vive apenas da sua estética. Há uma piscina interior em pedra, spa com circuito de águas, um restaurante de assinatura (o Heritage) que homenageia os produtos da região, e ainda um jardim de dois hectares onde o chilrear dos pássaros substitui os sinos de outrora.
Mosteiro de Arouca. história secular
Mas para compreender verdadeiramente este lugar é preciso olhar para trás. O Mosteiro de Arouca nasceu entre os séculos X e XI, numa origem modesta associada à regra beneditina.
O seu verdadeiro esplendor chegou com a infanta D. Mafalda, filha de D. Sancho I, que aqui entrou como freira em 1220 e viria a transformar o mosteiro num centro espiritual e económico de enorme importância.
Sob sua influência, a comunidade passou para a ordem de Cister, e Arouca tornou-se um dos mosteiros femininos mais ricos da Península. D. Mafalda foi beatificada em 1792 e repousa ainda hoje numa arca tumular de alabastro, obra-prima da arte gótica portuguesa.

O mosteiro foi desamortizado no século XIX, mas a sua riqueza espiritual e artística permaneceu intocada. Quem o visita pode explorar a igreja conventual, onde retábulos dourados dialogam com a austeridade da pedra, e visitar o Museu de Arte Sacra, um dos mais relevantes do país, com relicários, escultura religiosa, paramentos e livros raros.
Outro segredo bem guardado é a biblioteca barroca, um tesouro de mais de 40 mil volumes, entre os quais se encontram incunábulos e manuscritos medievais.
O que ver na envolvente
Depois de uma noite de descanso nos lençóis de linho do hotel, Arouca convida a explorar os seus encantos naturais.
Os Passadiços do Paiva, já mundialmente famosos, estendem-se por oito quilómetros de madeira ao longo do rio, entre escarpas e vegetação densa.
A 516 Arouca, uma ponte pedonal suspensa a mais de 175 metros do chão, oferece uma dose saudável de vertigem e beleza. E na Serra da Freita, fenómenos geológicos como as Pedras Parideiras ou as cascatas da Frecha da Mizarela completam o quadro.
Regressar ao mosteiro, ao final do dia, é como regressar a um santuário. O entardecer pinta de ouro as arcadas, e o silêncio que se ouve não é vazio, mas eco de séculos.
Este não é apenas um hotel. É uma experiência espiritual, estética e sensorial. Uma viagem que nos aproxima do essencial, envolta na beleza intemporal da pedra, do tempo e da memória.