O panettone, tradicional bolo italiano de Natal, tem vindo a ganhar cada vez mais espaço nas mesas portuguesas durante a época festiva.
O que começou como uma curiosidade importada transformou-se numa verdadeira tendência, com pastelarias e supermercados a oferecerem versões artesanais e industriais deste doce de textura única.
Nos últimos anos, Portugal tem assistido a um interesse crescente pelo panettone. As padarias artesanais multiplicam-se nas grandes cidades, oferecendo versões tradicionais e criativas deste bolo.
Lisboa e Porto lideram esta tendência, com estabelecimentos especializados que começam a produção já em outubro para responder à procura natalícia.
O fascínulo português por este doce italiano deve-se a vários fatores, como a textura arejada e fofa, a versatilidade de sabores, e a sua apresentação elegante que o torna num presente ideal.
Muitas famílias portuguesas começaram a incluir o panettone como alternativa ou complemento aos tradicionais bolos de Natal portugueses, como o bolo-rei e as rabanadas.
Afinal, de onde vem o Panettone?
A origem do panettone remonta à Milão renascentista, no século XV. Segundo a lenda mais popular, um jovem aristocrata chamado Ughetto degli Atellani apaixonou-se pela filha de um padeiro.
Para impressionar o pai da sua amada, Ughetto disfarçou-se de aprendiz de padeiro e criou um pão enriquecido com manteiga, ovos, açúcar e frutas cristalizadas. O sucesso foi imediato, e o “pane di Tono” (pão de Tono, o nome fictício de Ughetto) tornou-se famoso.
Outra versão conta que foi criado por acidente na cozinha do duque Ludovico Sforza durante um banquete de Natal, quando o cozinheiro queimou a sobremesa. Um jovem ajudante chamado Toni salvou a situação com um pão doce que tinha preparado, dando origem ao “pane di Toni”.
Independentemente da sua verdadeira origem, o panettone tornou-se símbolo do Natal italiano e, a partir do século XX, expandiu-se para o mundo inteiro.
A receita foi aperfeiçoada ao longo dos séculos, e hoje é protegida por regulamentação italiana que define os ingredientes tradicionais.
Características únicas
O que distingue o panettone de outros bolos é a sua massa lêveda naturalmente fermentada, que requer várias horas de descanso e três levedações distintas.
Esta técnica confere-lhe a textura arejada, alveolada e levemente húmida que o caracteriza. A fermentação natural com massa-mãe (lievito madre) é essencial para obter o sabor e a textura autênticos.
O panettone tradicional contém passas de uva e frutas cristalizadas, mas atualmente existem inúmeras variações: chocolate, limoncello, pistácio, frutos vermelhos, e até versões salgadas.
Receita de Panettone tradicional

Fazer panettone em casa é um desafio gratificante que requer tempo e paciência. Esta receita simplificada utiliza fermento de padeiro em vez de massa-mãe, tornando o processo mais acessível.
Ingredientes
Para a massa
- 500g de farinha de trigo tipo 55
- 150g de açúcar
- 100g de manteiga amolecida
- 4 ovos inteiros
- 2 gemas
- 150ml de leite morno
- 15g de fermento de padeiro fresco (ou 7g de fermento seco)
- Raspa de 1 laranja
- Raspa de 1 limão
- 1 colher de chá de extrato de baunilha
- 1 pitada de sal
- 150g de passas de uva
- 100g de frutas cristalizadas picadas
Para finalizar
- 1 gema para pincelar
- Açúcar em pó
- Amêndoas laminadas (opcional)
Modo de Preparação
1. Preparação das frutas. Demolhe as passas em água morna durante 30 minutos. Escorra bem e seque com papel de cozinha. Reserve juntamente com as frutas cristalizadas.
2. Primeira levedação. Dissolva o fermento no leite morno com uma colher de chá de açúcar. Adicione 100g de farinha e misture até obter uma papa espessa. Cubra com um pano e deixe levedar em local morno durante cerca de 30 minutos, até duplicar de volume.
3. Preparação da massa. Numa tigela grande, misture a farinha restante com o açúcar e o sal. Faça uma cova no centro e adicione os ovos, as gemas, as raspas de citrinos e a baunilha. Junte a massa fermentada e comece a amassar.
Adicione a manteiga aos poucos, amassando bem até obter uma massa homogénea, elástica e ligeiramente pegajosa. Este processo pode demorar 15-20 minutos. Incorpore delicadamente as passas e as frutas cristalizadas.
4. Segunda levedação. Coloque a massa numa tigela untada, cubra com filme aderente e deixe levedar em local morno durante 2-3 horas, até duplicar de volume.
5. Modelação. Unte bem formas de panettone (ou formas altas de papel). Divida a massa pelas formas, enchendo-as até cerca de um terço da altura. Faça um corte em cruz no topo da massa e coloque um pequeno pedaço de manteiga no centro.
6. Terceira levedação. Deixe a massa levedar novamente nas formas durante 1-2 horas, até que cresça quase até ao topo.
7. Cozedura. Pré-aqueça o forno a 180°C. Pincele suavemente a superfície com gema batida. Asse durante 40-50 minutos (dependendo do tamanho das formas), até que a superfície esteja dourada e um palito inserido no centro saia limpo.
8. Arrefecimento. Este passo é crucial: vire o panettone de cabeça para baixo assim que sair do forno, espetando dois espetos longos na base e apoiando-os numa grelha ou entre duas cadeiras. Deixe arrefecer completamente nesta posição durante pelo menos 8 horas. Isto evita que o bolo se comprima com o próprio peso.
9. Finalização. Quando completamente frio, polvilhe com açúcar em pó.
Dicas Importantes
- A temperatura ambiente é fundamental: a massa precisa de calor para levedar adequadamente (cerca de 25-28°C).
- Não apresse as levedações. O tempo é essencial para desenvolver o sabor e a textura.
- O panettone conserva-se bem durante 5-7 dias num recipiente hermético.
- Pode congelar até três meses.
O panettone pode ser servido de diversas formas: ao natural, ligeiramente aquecido, tostado com manteiga ao pequeno-almoço, ou acompanhado de um creme mascarpone, gelado ou vinho doce como o Moscatel ou Vin Santo italiano.