Valdemar Jorge
Valdemar Jorge
20 Dez, 2019 - 12:36

Estes são os papamóvel mais curiosos da história, e um é português

Valdemar Jorge

Sabia que o Papa já teve um carro português como viatura oficial nas suas deslocações? Conheça a história dos papamóvel e quais os modelos mais curiosos.

Papamóvel Mercedes

É um facto não existe um nome oficial para o automóvel que transporta o Sumo Pontífice nas suas aparições públicas, mas o nome dado ao Mercedes Classe G nos anos 80 vai vigorando oficiosamente entre os populares.

Falar dos papamóvel é recuar no tempo algumas dezenas de anos. O termo é relativamente recente, bem como o uso de automóvel nas visitas pastorais que o Santo Padre realiza. Tratam-se de automóveis especiais com histórias curiosas.

O primeiro papamóvel, ou melhor, a primeira viatura oficial do Papa, surge em 1929 no pontificado de Pio XI. Até aí, conta a história que o Sumo Pontífice fazia-se transportar na cadeira gestatorial (cadeira para transportar). Um cerimonial em que os diversos Papas foram levados sobre os ombros de 12 homens, até 1978, quando faziam visitas.

Este “meio de transporte” foi substituído em 1930 por um automóvel mais convencional, o conhecido papamóvel. Uma designação que não agrada a todos os Sumos Pontífices, sobretudo não agradou ao Papa João Paulo II, mas que caiu já na tradição vocabular dos jornalistas e populares.

Papamóvel: a história do carro oficial do papa

CEO do Grupo Daimler a entregar um Papamóvel Mercedes
Dr. Dieter Zetsche, presidente do grupo Daimler a entregar um Mercedes Classe M modificado ao Papa Francisco

Tradicionalmente em cor branca, o papamóvel nem sempre foi como o conhecemos atualmente, mas sempre se apresentaram com a matrícula “SCV 1” – Stato della Città del Vaticano (Estado da Cidade do Vaticano), com o número 1 a simbolizar que se destina ao Sumo Pontífice.

As primeiras viaturas derivavam de modelos convencionais adaptados para a circunstância e eram em cor preta e, normalmente, da marca Mercedes Benz que, nos últimos 90 anos tem sido a que mais veículos tem dispensado para esta missão.

No entanto, nem sempre os papamóvel foram pretos e da marca alemã. O primeiro entregue ao Papa Pio XI foi de facto um Mercedes-Benz Nürburg 460 Pullman usado até aos anos 60, altura em que se dá a troca para o mais recente Landaulet 300d descapotável, executado de propósito para o Papa João XXIII.

Com o passar dos anos a Mercedes-Benz viu a sua hegemonia ser “abanada” por marcas como Fiat, Ford, Seat, Citroën, Rover, a portuguesa UMM, ou as mais recentes, Isuzu e Dacia, passando pelas elitistas Ferrari ou Lamborghini.

Conheça agora alguns dos papamóvel mais curiosos usados nos últimos anos por sucessivos Sumos Pontífices.

Mercedes Nurburg 460Papa Pio XI – 1930

A marca alemã é detentora de cerca de um terço dos automóveis utilizados por diversos Sumos Pontífices.

O primeiro papamóvel, o Mercedes-Benz Nurburg 46, data de 1930 e foi oferecido ao Papa Pio XI. No habitáculo do modelo destacava-se o trono Papal, no lugar do banco traseiro e ainda a instalação de alguns botões que possibilitavam ao Santo Padre comunicar com o motorista.

O sistema permitia a comunicação do Papa quando pretendia dar instruções como “para a direita” ou “para a esquerda” ou ainda para solicitar ritmo de andamento mais rápido. O automóvel tinha cor preta.

Lincoln ContinentalPapa Paulo VI – 1965

O Lincoln Continental, modelo de 1964 foi a viatura papal usada pelo Papa Paulo VI na sua visita a Nova Iorque (Estados Unidos da América).

Esta foi a primeira viagem de um Papa àquele país e a viatura usada tinha 6,40 metros de comprimento.

Curiosamente este papamóvel foi adquirido mais tarde (2011) em leilão por 200 mil euros e, desde 2013 que se encontra num museu da cidade de Tacoma, onde pode ser observado.

Citroën SMPapa Paulo VI – 1974

Este modelo da Citroën integrava, nos anos 70, o topo da gama da oferta de automóveis da marca francesa. Na época este modelo foi pioneiro ao receber tração dianteira.

O veículo papal SM Presidentielle teve por base o SM Coupé que foi fabricado de 1970 a 1975. Mas, não foi só o Papa João Paulo VI que usou o Citroën SM, na sua visita à França, também o papa João Paulo II, na sua visita a Paris, em 1980, o utilizou.

Mercedes-Benz 230GPapa João Paulo II – 1980

O ano de 1980 marca o regresso da marca alemã ao Vaticano com Mercedes-Benz 230G, utilizado pelo Papa João Paulo II.

Com este modelo a Mercedes-Benz abra caminho a uma nova linguagem de estilo que se mantém até à atualidade. O modelo carateriza-se pela enorme seção traseira em vidro mais elevada para maior segurança do Sumo Pontífice, ao mesmo tempo que permite uma maior visibilidade para quem assiste à sua passagem.

Esta estrutura em vidro, além de poder ser removida tem duas particularidades: é resistente a balas e o sistema de ar condicionado impede que os vidros fiquem embaciados.

Seat Panda Papa João Paulo II – 1982

A marca espanhola integra a pequena lista dos Papa Móvel mais curiosos de sempre.

O Seat Panda foi o modelo escolhido para a visita, em 1982, de João Paulo II à Espanha. A escolha terá constituído uma surpresa pelo inusitado modelo ser pequeno e de aparência frágil.

O facto de ser pequeno e ágil permitiu que o Santo Padre cumprisse a visita papal de forma singular uma vez que a maioria dos encontros com a população decorreu em estádios de futebol, com acessibilidades estreitas. O Seat Panda cumpriu assim papel fundamental.

Ferrari Mondial – Papa João Paulo II – 1988

O Papa João Paulo II terá um dos “currículos” mais interessantes no que diz a Papa Móvel.

Um modelo de luxo – Ferrari Mondial – foi o automóvel utilizado por João Paulo II em 1988, na sua visita à fábrica da conhecida marca italiana, em Maranello.

A Ferrari voltaria ao contacto com o Vaticano em 2005, ao oferecer ao Papa João Paulo II um Ferrari Enzo avaliado, em 1 milhão de euros. O Santo Padre recusou esta oferta.

Sugeriu que o modelo italiano fosse vendido em leilão e que a receita apurada revertesse para ajuda às vítimas do tsunami ocorrido na Indonésia, em 2004. Um ato solidário bem ao estilo de João Paulo II.

UMMPapa João Paulo II – 1991

Um icónico jipe português UMM foi o modelo escolhido para papamóvel na visita do Papa João Paulo II, em 1991, à ilha da Madeira.

O veículo foi preparado pela União Metalo-Mecânica (UMM) empresa com experiência na construção de automóveis com carácter militar, e que com facilidade abraçou o projeto de transformar um UMM no veículo que transportaria Sua Santidade na ilha da Madeira.

Uma das diferenças para os tradicionais UMM foi a alteração do motor. Em vez do tradicional turbodiesel de 110 cv o UMM foi equipado com um motor diesel atmosférico com apenas 79 cv. Mais suave no trato.

Isuzu D Max – Papa Francisco – 2017

Na visita realizada pelo Papa Francisco a Portugal, em 2017, foi escolhido para Papa Móvel um modelo Isuzu D Max.

Esta pickup de cor branca foi a mais usada pelo Santo Padre naquele ano, nas suas visitas oficiais, quer na cidade do Vaticano, quer nas deslocações às Filipinas e Quénia.

Lamborghini HuracanPapa Francisco – 2018

Outra marca de luxo que se caracteriza pelo seu prestígio no seio dos superdesportivos – a Lamboghini – também reúne predicados para ser papamóvel.

A marca italiana ofereceu em novembro de 2018 um modelo Huracan, ao Papa Francisco, que o benzeu e assinou no momento em que o recebeu. Oferecido pela Lamborghini o modelo tinha como apontamento distintivo ser todo branco com apontamentos em dourado.

À semelhança de outros Papas, Papa Francisco, sugeriu que o automóvel fosse leiloado e que o dinheiro angariado revertesse para a população cristã residente no Iraque e que devido à guerra estava em dificuldades económicas.

Também duas associações italianas – Giam e Amici de Centrafica – que atuam na África e o projeto Casa Papa Francisco integraram a lista de beneficiários. O Lamborghini Huracan acabou por ser leiloado, pela Sotheby’s, por 715 mil euros.

Dacia Duster 4×4Papa Francisco – 2019

Um Dacia Duster 4×4 é o mais recente Papa Móvel oferecido ao Papa Francisco pelo Grupo Renault.

O Duster 4×4 que foi adaptado às necessidades de mobilidade do Santo Padre carateriza-se por ser branco com interiores em bege. O projeto foi executado pelo Departamento de Protótipos e Necessidades Especiais da Dacia, em cooperação com o transformador Romturingia.

O modelo acomoda até 5 ocupantes, com grande conforto, tem teto panorâmico composto por uma estrutura amovível em vidro e é 30 mm mais baixo quando comparado com outros modelos da marca checa, possibilitando um fácil acesso de e para o habitáculo.

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