Share the post "O vale, a cascata e o passadiço: bem-vindo a Rio de Mouros"
Ninguém chega ao trilho da cascata de Rio de Mouros por engano. Ou melhor, até pode acontecer, porque as estradas secundárias das Terras de Sicó gostam de pregar partidas, mas há ali um apelo teimoso, quase íntimo, que faz o visitante avançar mesmo quando o GPS parece indeciso.
Talvez seja a promessa da água a cair num recanto quase secreto, talvez seja aquela curiosidade infantil que volta sempre que ouvimos falar de passadiços novos e de uma ponte suspensa pronta para balançar ligeiramente com a brisa. O certo é que, mal se põe o pé no percurso, percebe-se que este trilho tem qualquer coisa de inesperado.
Rio de Mouros: um mergulho na natureza
No início, a calma. Depois, logo a seguir, aquele silêncio serrano que não chega a ser silêncio, porque há folhas a mexer, água a correr, aves a tratar da vida.
E com o caminhar surgem as perguntas óbvias. Como é que um vale tão discreto, quase escondido entre muros antigos e pedaços de mato, guarda um cenário que podia perfeitamente ter saído de um filme de aventuras?
Talvez seja por isso que tanta gente lá volta, mesmo sabendo que o percurso não é longo. Há trilhos curtos que contam histórias compridas.
A certa altura, quando o caminho se afunila, surge a ponte suspensa. Não é gigantesca nem pretende impressionar pela altura, mas treme o suficiente para dar um ligeiro arrepio, daqueles simpáticos, que não assustam ninguém mas lembram que estamos fora do sofá.
Debaixo, o Rio dos Mouros segue o seu rumo com aquela mistura de tranquilidade e teimosia que os rios pequenos costumam ter. E se alguém decidir parar ali só para olhar para a água durante demasiado tempo, ninguém julga. O lugar convida a isso.
Passadiço até à cascata

Mais à frente, o passadiço. De madeira clara, bem encaixado na paisagem, segue a curva natural do vale como se sempre ali tivesse estado.
Há quem avance devagar, só para aproveitar a vista. Há quem acelere, porque já ouviu falar da cascata e quer vê-la quanto antes.
E quando finalmente se chega ao coração do trilho, percebe-se porque é que este pequeno percurso tem vindo a ganhar fãs. A cascata, mesmo quando não está no auge do caudal, mantém uma certa teatralidade.
A água desce em véu leve, desliza pelas rochas escuras e cai numa pequena taça natural que muda de tom conforme o sol lhe toca. É um daqueles sítios que pedem uma pausa, mesmo que o tempo esteja contado.
Conhecer as aldeias próximas
Curiosamente, quem visita este trilho acaba muitas vezes por descobrir mais do que esperava. Há aldeias próximas com cafés onde o relógio parece andar devagar, caminhos rurais onde o cheiro a terra lavada aparece sem aviso e pedaços de história local que se revelam quase por acaso.
E isso encaixa bem no espírito do percurso, que é simples, acessível, mas com detalhes que ficam na memória.
Talvez seja esse equilíbrio que torna o trilho tão apelativo para quem procura um passeio descontraído, sem exigir grande preparação física, mas com recompensa visual garantida.
Claro que convém lembrar que este trilho nasceu para ser cuidado. Vale a pena caminhar devagar, respeitar os sinais, evitar atalhos e, idealmente, levar o lixo de volta.
E, convenhamos, a paisagem merece essa atenção. Assim, quem vier depois encontra a mesma frescura, o mesmo brilho da água, a mesma surpresa quando a ponte suspensa aparece ao fundo.
Rio de Mouros: como lá chegar

No fim, quando se regressa ao ponto de partida, há uma sensação curiosa de leveza. Talvez venha do facto de o percurso não ser exaustivo, talvez do encontro com aquele pedaço de natureza que insiste em sobreviver ao ritmo acelerado do resto do mundo.
Seja qual for a razão, o trilho da cascata de Rio de Mouros acaba por ser mais do que um simples passeio: é um lembrete de que a beleza, às vezes, cabe em caminhos curtos e em detalhes que só se revelam a quem lá vai sem pressa.
De Lisboa ou do Porto
Para quem sai de Lisboa, o caminho faz-se quase sempre num ritmo sereno, pela A1 acima, a paisagem a abrir, aquela sucessão de placas que já todos conhecem de cor.
O mais simples é seguir até Condeixa-a-Nova, sair para as estradas nacionais que serpenteiam pelas Terras de Sicó e depois confiar nos últimos quilómetros já em modo “campo aberto”.
Convém ir com mapa ou GPS atualizado, porque as placas não são muitas e o local gosta de manter um ar meio escondido.
Vindo do Porto, a lógica é parecida, só que em sentido inverso e com um bocado menos de estrada.
A A1 leva-o até Coimbra Norte, onde se entra numa zona mais tranquila, com nacionais que ondulam entre campos, pedreiras e pequenas povoações que passam devagar pela janela.
Depois de Penela, já se sente a proximidade do maciço calcário de Sicó e o caminho afunila ligeiramente, como se estivesse a preparar o visitante para o ambiente mais íntimo do trilho.