Entre colinas suaves e caminhos de terra batida no coração do sotavento algarvio, esconde-se um dos recantos mais mágicos do concelho de Tavira, a Cascata do Pego do Inferno.
Num Algarve frequentemente associado a praias douradas e turismo balnear, este pequeno oásis de água doce oferece uma experiência distinta: selvagem, íntima e profundamente ligada à natureza.
O nome “Pego do Inferno” não é casual. Conta a lenda local que, há muitos anos, uma carroça puxada por cavalos caiu nas águas profundas da lagoa. Nunca se encontraram corpos nem destroços. Apenas o som abafado de redemoinhos.
Desde então, o local passou a ser chamado de “Pego do Inferno”, numa mistura de medo e fascínio. Hoje, porém, o inferno que aqui se encontra é feito apenas de beleza estonteante, silêncio repousante e uma frescura rara nos verões quentes do sul.
Cascata do Pego do Inferno: momentos de lazer
A cascata, que se forma a partir do curso da Ribeira da Asseca, desce por um pequeno desnível rochoso até uma lagoa de tons verde-esmeralda. A envolvente é um anfiteatro natural de vegetação densa (figueiras, choupos, oleandros) que oferece sombra, fragrância e convida ao descanso.
Situado a cerca de 7 quilómetros do centro histórico de Tavira, o Pego do Inferno encontra-se relativamente isolado. Para lá chegar, o ideal é utilizar transporte próprio.
A partir de Tavira, siga pela EN270 em direcção a Santo Estêvão. A sinalização é escassa, por isso recomenda-se o uso de GP. Procure por “Pego do Inferno” ou introduza as coordenadas específicas: 37.1430° N, 7.6950° W.
Ao aproximar-se do local, encontrará um pequeno espaço de terra batida onde pode deixar o carro. A partir daí, o acesso é apenas pedonal, por um trilho de cerca de 600 metros, relativamente fácil, mas com zonas de piso irregular.
A caminhada é curta, mas merece atenção, especialmente após dias de chuva, quando o solo pode ficar escorregadio.

Dicas e cuidados a ter
Apesar do cenário quase paradisíaco, o Pego do Inferno é um espaço sem qualquer tipo de infraestrutura turística e talvez seja isso que o torna tão especial. No entanto, essa simplicidade exige responsabilidade por parte de quem o visita.
Por isso, use calçado apropriado, idealmente sapatos de caminhada ou ténis antiderrapantes, evite visitar em dias chuvosos, leve água, lanche e protector solar, pois não encontrará cafés ou lojas nas redondezas.
Também é recomendável que não mergulhe de locais elevados, já que embora a água seja profunda, há rochas submersas e o risco de acidente é real. Por fim, respeite o ambiente e leve consigo todo o lixo, evite ruído excessivo e nunca faça fogueiras.
Importante referir que, em anos recentes, houve períodos em que o acesso esteve temporariamente encerrado devido a questões de segurança e preservação ambiental. Antes de visitar, recomenda-se confirmar com fontes locais se o acesso está livre e em boas condições.
Tavira: um Algarve ainda a descobrir
Se a cascata é um dos tesouros naturais de Tavira, a cidade e os seus arredores oferecem um roteiro repleto de encantos. Aqui, o Algarve mostra-se mais sereno, com raízes fundas na tradição, na história e numa relação íntima com a Ria Formosa.
Centro Histórico
É um dos centros urbanos mais pitorescos do sul de Portugal. Passear pelas suas ruas empedradas é como folhear um livro de história ao ar livre.
A Ponte Romana, o antigo Castelo, e a vista sobre o rio Gilão fazem desta cidade um postal vivo. As esplanadas convidam a longas conversas, acompanhadas de um café e uma fatia de dom rodrigo.
Praia do Barril e Cemitério das Âncoras
A cerca de 15 minutos de carro do centro, a Praia do Barril conjuga natureza e memória. Um curto passeio de comboio turístico (ou a pé, atravessando o sapal da Ria Formosa) leva até à praia, onde se encontra o emblemático “cemitério das âncoras”, uma instalação simbólica que homenageia a antiga comunidade pesqueira do atum.

Ilha de Tavira
Com acessos por barco a partir do centro, esta ilha-barreira oferece algumas das praias mais extensas e tranquilas da região. Ideal para famílias ou para quem procura banhos de mar longe das multidões.
Salinas
As salinas de Tavira são um espectáculo em si. Além da produção artesanal de sal marinho, são também um santuário para aves migratórias, incluindo flamingos. Existem visitas guiadas que combinam ecoturismo com saberes tradicionais.
Gastronomia
Nenhuma visita a Tavira estaria completa sem explorar a sua cozinha: cataplanas fumegantes, polvo grelhado, conquilhas com coentros e limão. Para sobremesa, os doces de amêndoa e figo são obrigatórios.
A Cascata do Pego do Inferno é uma forma de conhecer o Algarve por dentro, não o Algarve das multidões e dos resorts, mas o das histórias contadas ao redor de uma mesa, do silêncio entre árvores, e do tempo que corre mais devagar.
É uma experiência que pede entrega, respeito e curiosidade. E, no fim, recompensa com algo cada vez mais raro e que é a autenticidade.