Assunção Duarte
Assunção Duarte
23 Jun, 2021 - 10:36

O regresso das cassetes de música

Assunção Duarte

À boleia da moda vintage, o culto das cassetes de música tem cada vez maior número de seguidores. Conheça a razão deste fenómeno.

cassetes

As cassetes de música, compradas nas lojas de discos e nas feiras, ou gravadas pelo utilizador para ouvir nos famosos walkmans dos anos 80, estão de regresso. Em 2020, a única empresa a produzi-las na Península Ibérica, a portuguesa Edisco, fabricou mais de 150 mil. Neste século, foi o ano em que mais unidades saíram da sua fábrica da Maia, desde que a empresa retomou a sua produção em 2005.

É um número bem distante do milhão de cassetes produzidas por ano na década de 80 do século passado. Mas é muito significativo se pensarmos que as máquinas de produção deste artefacto estiveram paradas muitos anos e que a Edisco apenas as conservara em homenagem ao que fora o seu negócio principal do final do século XX. 

Portugal não é exceção já que outros países, como o Reino Unido ou os Estados Unidos, também testemunham esta crescente procura. O som que produzem estas cassetes não é famoso e é cada vez mais difícil encontrar dispositivos capazes de as fazer tocar.

Que fenómeno está então por de trás deste verdadeiro renascimento das cinzas?

Cassetes: o porquê do seu regresso?

A reboque do culto vintage

Se para os nativos digitais é um objeto ultrapassado e com pouca qualidade de som, para os outros ele traz boas memórias. A própria sociedade está numa fase em que olha para trás em busca de inspiração o que levou ao retorno de formatos e formas mais antigas de consumir música como aconteceu com o vinil. 

Uma das principais razões tem a ver com a nostalgia pela sensação física de posse de um objeto.

Enquanto que a revolução da música em streaming oferece um catálogo enorme de escolhas e acessibilidades, ela não oferece a sensação de afinidade e comunhão com o artista produtor que a posse de um vinil, CD ou cassete asseguram.

várias cassetes vintage

Objecto colecionável

As cassetes de música atuais podem oferecer na capa um código para fazer download do seu conteúdo. Isto quer dizer que, podemos comprar a cassete pelo objeto em si, mesmo que não tenhamos acesso a um dispositivo para a ouvir. 

O facto de a cassete ter uma capa e exibir um grafismo especifico relacionado com a banda ou músico que a gravou, dá-lhe uma conotação de objecto artístico especial. Ela tornou-se mais um colecionável de culto para fãs de determinado estilo de música ou artista do que um suporte de eleição para a sua audição.

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Resgatadas pelos fãs do metal

O regresso das cassetes de música percorre dois caminhos paralelos. O primeiro está relacionado com os artistas convencionais e medianamente conhecidos que a utilizam como mais um forma de mercadoria, como sucede com o vinil. O outro está relacionado com os artistas alternativos (underground), bandas de metal, hipop, música electrónica ou rock que sempre mantiveram alguma ligação com este suporte alternativo. 

O movimento DIY (Do it Yourself) – faça você mesmo em português – sempre teve expressão no mundo digital, mas neste caso ganha contornos de cultura pop alternativa que utiliza a cassete como meio genuíno de expressão entre bandas e fãs. Um mundo underground experimental, de noise e punk rock, para o qual a qualidade “roufenha” do som imperfeito de uma cassete marca pontos. 

cassete com fita estragada

O negócio das cassetes online

As atuais edições de cassetes são limitadas. Um fabrico quase personalizado que faz com que os fãs tenham de ser rápidos para as comprar antes que esgotem.

Uma vez fora do mercado, as cassetes ganham valor no mercado digital, onde facilmente podem ultrapassar 20 vezes o seu valor de compra original. Por exemplo, uma cassete que custe 8 euros na venda original, pode facilmente passar para duas centenas de euros online, se houver muita procura.

Se para os mais jovens e ambientalistas o digital dificilmente pode e deve dar lugar a este retorno, indicando que este crescimento será sempre um nicho de mercado, para mais velhos e saudosistas, a cassete pode representar muito mais do que a música que oferece na sua fita.

Se está interessado, saiba que já existem fóruns e podcasts de discussão sobre o tema como o Tapehead, o Subreddit ou o Tabs Out.

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