Miguel Pinto
Miguel Pinto
03 Set, 2025 - 12:00

Bullying e cyberbullying: assédio com consequências severas

Miguel Pinto

Com um novo ano letivo à porta, devemos voltar a falar de bullying e cyberbullying e as consequências que podem acarretar para as vítimas.

vítimas de bullying

Bullying é uma palavra que, não sem motivos, vem carregada de medos, receios, ressalvas. O termo nasce a partir do inglês bully, que em tradução livre seria algo como “valentão” ou “brigão”.

Ou seja, basicamente, praticar bullying seria agir como um “valentão”, como “o brigão destemido” diante dos outros – e, claro, das suas vítimas.

Genericamente, podemos dizer que o bullying é um tipo de violência, física e/ou psicológica, caracterizado por um comportamento agressivo intencional e repetido do agressor sobre uma vítima, progredindo para uma situação de perseguição.

Evoca sempre um desequilíbrio de poder entre a vítima e o agressor, desequilíbrio este que se vai agravando com o passar do tempo e mediante a repetição dos atos. 

E, como se não nos bastasse o combate ao bullying em ambiente escolar, temos hoje o tão disseminado cyberbullying – que nada mais é do que a violência emocional praticada pela via virtual.

Os mais novos estão sempre ligados à rede e as violências que se praticam em modo online podem, muitas vezes, ser bastante mais difíceis de identificar pelos pais e/ou responsáveis.

Por ser o bullying – o cyberbullying e outros tipos de violência entre os mais novos – uma preocupação cada vez mais atual e um problema em crescente evidência, importa falar sobre o tema.

Quais tipos existem? Como identificar os sinais? Como combater uma situação de agressividade repetida? Como educar as nossas crianças e jovens para o respeito ao outro?

Entenda os diferentes tipos de bullying

criança vítima de bullying pelos colegas

É importante que conheça cada um dos tipos de bullying, para se proteger e aqueles que estão à sua volta.

É interessante destacar que o bullying não acontece apenas na escola ou nas redes sociais, entre os mais novos. É uma prática que se leva como hábito para a vida e que pode, também, ocorrer em ambiente profissional.

Esta realidade é o que, também, nos leva à importância de gerar informação sobre o tema. Sim, um adulto pode ser vítima de bullying e é preciso preparar os mais novos para um futuro diferente.

O bullying físico

Envolve qualquer tipo de agressão ou maltrato físico, ou qualquer tipo de interação que provoque, intencionalmente, desconforto ou dor física a outra pessoa.

Inclui ainda a destruição de propriedade ou objetos da vítima.

O bullying verbal

Inclui insultos, provocações, atribuição de apelidos depreciativos, intimidação, comentários discriminatórios relativamente à raça, orientação sexual, religião, aspeto físico ou outras características da vítima.

O bullying relacional

Este tipo de bullying é mais difícil de identificar, uma vez que não existem sinais físicos ou verbais que evidenciem violência do agressor em relação à vítima. Traduz-se em ações que têm como objetivo arruinar a reputação de uma pessoa ou humilhá-la socialmente ou profissionalmente.

Por exemplo:

  • Espalhar rumores;
  • Gestos e/ou expressões faciais ameaçadores, mas apenas vistos pela pessoa visada (a vítima);
  • Brincadeiras ou partidas que humilhem a vítima;
  • Mimetizar os gestos e comportamentos da vítima de forma exagerada e grotesca;
  • Encorajar outras pessoas a excluir socialmente a vítima;
  • Impedir a progressão profissional da pessoa excluindo-a de tarefas importantes no trabalho, como reuniões.

O cyberbullying

É um tipo de bullying realizado através das tecnologias digitais, como já vimos de início. Pode ocorrer nas redes sociais, plataformas de mensagens e/ou jogos e telemóveis. Trata-se de um comportamento repetido, com o intuito de enfurecer, assustar ou envergonhar aqueles que são vítimas.

As novas tecnologias facilitam a camuflagem de comportamentos violentos. Em público ou em privado, a pessoa pode estar a ser vítima de violência via Whatsapp, SMS, e-mails, através dos chats privados ou dos feeds de notícias nas suas redes sociais – ou mesmo ver a sua imagem denegrida num website ou blog criado especificamente para esse efeito.

Este tipo de bullying pode incluir:

  • Mensagens e publicações de textos, imagens ou vídeos da ou sobre a pessoa, com conteúdo depreciativo;
  • Exclusão deliberada da pessoa de grupos sociais online;
  • Ridicularização da pessoa online fazendo-se passar por ela nas redes sociais, utilizando os seus dados de login.

Mais sobre cyberbullying: o assédio digital

Vivemos numa era onde as tecnologias imperam, tanto no nosso dia-a-dia como na vida dos mais novos. E o cyberbullying é um tipo de bullying que não fica de fora.

De facto, são inúmeras as crianças e jovens que utilizam redes sociais e aplicações como o TikTok, FaceTime, Instagram e outros jogos, com muito mais frequência do que no passado e ainda que, legalmente, não tenham idade para aceder a algumas destas plataformas.

É importante destacar que embora existam vantagens nas interações online, como dar aos jovens conexões importantes com o mundo exterior, elas apresentam riscos.

Como identificar e prevenir uma situação de cyberbullying?

É, antes de mais, relevante entender que o combate às ações de cyberbullying começa pela ação preventiva do bullying, na sua generalidade – ou seja, tem como base a premissa de promover a empatia, o respeito e aceitação de diferenças entre as pessoas, sejam crianças, jovens ou adultos.

Mas há mais: é preciso que exista uma cultura preventiva relacionada com a partilha de conteúdo pessoal e íntimo, para além do incentivo à denúncia de conteúdos abusivos.

Em todas as parte haverá quem tenha o hábito de gerar ofensas a outros, por meio da internet, e para combater a prática é preciso reconhecê-la, sinalizá-la e provocar a interrupção.

Como podemos identificar o cyberbullying? Compartilhar fotografias, vídeos ou áudios com conteúdo pejorativo, criar um perfil falso, disseminar fake news, ameaçar, chantagear, criar informações falsas, humilhar e fazer piada sobre alguém são alguns dos exemplos que ajudam a identificar quem pratica cyberbullying.

As queixas mais recentes, de acordo com o relatório de 2021 da PSP, estiveram relacionadas a situações gerais de cyberbullying, mas também de cyberstalking (perseguição online), revenge porn (quando há exposição pública de registos íntimos, sem consentimento) ou sexting (que é a partilha de conteúdos sexuais repetida através de telemóvel).

Sinais de alerta e consequências

Se é pai ou educador de uma criança ou jovem em idade escolar e suspeita de que possa estar a ser vítima de algum dos vários tipos de bullying, tenha estes sinais em atenção:

  • Ira intensa;
  • Ataques de fúria;
  • Irritabilidade extrema;c
  • Muito baixa tolerância à frustração;
  • Impulsividade;
  • Auto-agressão;
  • Reduzido número de amigos;
  • Dificuldade em prestar atenção;
  • Inquietude física.

Para além disso, estas são também algumas possíveis consequências:

  • Isolamento;
  • Redução do rendimento e da produtividade;
  • Sintomatologia psicossomática;
  • Fobia em relação à escola;
  • Depressão.

Prepare-se para enfrentar uma grande resistência por parte do seu filho ou educando em contar-lhe o que se passa. Assegure-o de que irá protegê-lo de uma eventual tentativa de retaliação por parte dos agressores e providencie apoio psicológico, se necessário.

jovem na cama com telemóvel a sofrer de cyberbullying

Como pode defender-se?

Os bullies atuam e ganham poder com a premissa de que as suas vítimas vão ficando cada vez mais frágeis e isoladas socialmente. Por isso, a melhor forma de se defender é contar a alguém de confiança o que se está a passar.

Dar este passo é extremamente difícil porque a vítima de bullying teme que, ao contar a alguém que está a sofrer violência por parte de outros, estes retaliem e as consequências sejam ainda mais destrutivas para si.

Mas a verdade é que há sempre uma solução para o problema – na pior das hipóteses, a solução pode passar pela mudança de escola ou de emprego, no caso de adultos.

Para além disso, em muitos casos é possível agir legalmente sobre os agressores.

Esteja atento aos sinais e, ao primeiro sinal de bullying, não deixe passar tempo. Se for pai/mãe/formador(a), tenha especial atenção ao tempo que os mais novos passam online, limite os horários de exposição, esteja por perto e procure por ferramentas de controlo parental. Sobretudo, converse e mostre-se aberto a ajudar em qualquer situação.

Em caso de se ter iniciado uma situação de assédio online, a PSP aconselha os seguintes comportamentos preventivos, a serem adotados de imediato pelas vítimas: bloquear o perfil / contacto / e-mail do agressor e denunciar.

vítimas de bullying
Veja também Governo cria linha de apoio a alunos vítimas de bullying

Programa Escola Segura

No âmbito escolar, existe um programa conjunto entre autoridades policiais (PSP), militares (GNR) e Governo. Chama-se Escola Segura e tem como objetivo diagnosticar situações de bullying entre crianças e jovens, com ações de prevenção e erradicação de situações de violência, além de promoção à cultura de segurança.

Pode fazer uma denúncia ou solicitar uma ação através do e-mail [email protected].

APAV

As vítimas de qualquer tipo de bullying também podem ligar para a Associação Portuguesa de Apoio às Vítimas (APAV) e pedir ajuda, sem necessidade de identificarem-se. Todo o apoio é dado de forma confidencial e gratuita, independente de ter sido ou não denunciada a siatuação de violência às autoridades.

Como pedir apoio à APAV:

  • Ligue para o 707 200 077 (disponível nos dias úteis, entre às 10h e às13h00, e das 14h às 17h).
  • Envie um e-mail para [email protected] ;
  • Vá até um dos gabinetes de atendimento presencial para apoio às vítimas.     
Veja também