André Freitas
André Freitas
22 Nov, 2019 - 15:56

Uso do telemóvel na condução: 74% dos portugueses admite cometer infrações

André Freitas

Os portugueses estão entre os condutores que mais usam o telemóvel ao volante. Conheça todos os riscos e consequências deste comportamento.

homem a falar ao telemovel enquanto conduz

A Liberty Seguros, com a colaboração da Prevenção Rodoviária Portuguesa (PRP), desenvolveu um estudo intitulado “Global Driving Safety Survey” (Questionário Global sobre Segurança na Condução).

Este estudo tinha como objetivos analisar o comportamento e as atitudes dos condutores de diversos países, nomeadamente em Portugal, Espanha, França, Reino Unido, Irlanda e Estados Unidos.

E os resultados obtidos não foram animadores. O comportamento e atitudes dos condutores, nomeadamente dos condutores portugueses, revelaram-se bastante perigosos.

Neste artigo explicamos os resultados obtidos com este estudo, enumeramos algumas das consequências perigosas da utilização do telemóvel durante a condução e relembramos qual o valor das coimas a aplicar no caso de ser apanhado a utilizar o telemóvel enquanto conduz.

Uso do telemóvel na condução: a relação dos portugueses e do telemóvel enquanto conduzem

homem a usar telemóvel ao volante

Foram consideradas válidas as respostas de 5004 europeus (1000 portugueses, 1006 espanhóis, 1006 franceses, 1000 britânicos e 992 irlandeses) e de 3006 norte-americanos.

E os resultados deste estudo, apresentado a 13 de novembro, são bastante preocupantes. Cerca de 74% dos portugueses admitiram utilizar o telemóvel enquanto conduzem.

Esta percentagem é bastante superior aos valores apurados em outros países já que, por exemplo, apenas 67% dos norte-americanos, 55% dos espanhóis e 47% dos britânicos afirmam utilizar o telemóvel durante a condução.

Infelizmente, o uso do telemóvel ao volante, neste caso, significa bem mais do que apenas receber ou efetuar chamadas. Cerca de 69% dos portugueses inquiridos afirmam que:

  • Lêem mensagens ou chamadas que estão a receber durante a condução
  • 52% olham para as notificações
  • 26% leem e-mails e mensagens
  • 25% fazem e enviam mensagens de áudio
  • 20% utilizam aplicações
  • 19% enviam e-mails;
  • 18% confessam até utilizar as redes sociais enquanto conduzem

Um número muito baixo, apenas 13%, asseguram que colocam o telemóvel fora do alcance enquanto conduzem.

O telemóvel é, realmente, um fator de distração na condução e, para evitar isso mesmo, 9% dos portugueses dizem colocar o telemóvel em silêncio durante a condução e 18% em modo de vibração.

No entanto, a grande maioria, 73%, declara conduzir com o modo de som ativo.

Os dados recolhidos através deste estudo permitem concluir que os condutores portugueses, embora conscientes do perigo que a utilização do telemóvel durante a condução representa, preferem manter-se contactáveis (por questões pessoais e/ou profissionais) e revelam uma elevada dependência do telemóvel.

Os perigos de usar o telemóvel durante a condução

Para tomar decisões conscientes é preciso primeiro conhecer as consequências dessas mesmas decisões.

Estas são algumas das consequências da utilização do telemóvel ao volante:

  • Diminuição da capacidade de atenção;
  • Diminuição do campo de visão;
  • Diminuição da noção da distância de segurança;
  • Aumento da dificuldade em percecionar sinais;
  • Aumento do tempo de resposta;
  • Distração no cumprimento das regras de cedência de passagem;
  • Não utilização dos sinais de mudança de direção.

A utilização do sistema mãos-livres é legal, mas não deixa de ser perigosa.

A distração cognitiva (o tipo de distração que mais influencia negativamente a condução) provocada por falar com o telemóvel na mão, é semelhante à provocada pela utilização do telemóvel no ouvido.

Coimas aplicadas ao uso de telemóvel na condução

O Código da Estrada, nomeadamente o art. 84º – Proibição de utilização de certos aparelhos – é bastante explícito no que diz respeito à utilização do telemóvel durante a condução:

  1. É proibida ao condutor, durante a marcha do veículo, a utilização ou o manuseamento de forma continuada de qualquer tipo de equipamento ou aparelho suscetível de prejudicar a condução, designadamente auscultadores sonoros e aparelhos radiotelefónicos;
  2. Excetuam-se do número anterior:
    a) Os aparelhos dotados de um único auricular ou microfone com sistema de alta voz, cuja utilização não implique manuseamento continuado;
    b) Os aparelhos utilizados durante o ensino da condução e respetivo exame, nos termos fixados em regulamento.

A grande maioria das multas atualmente emitidas pelas autoridades são referentes ao uso do telemóvel durante a condução.

Em 2018, a GNR e a PSP passaram, em média, 107 multas por dia pelo uso indevido do telemóvel durante a condução.

Nos últimos cinco anos, foram identificados 237 045 condutores a utilizar o telemóvel ao volante.

No Código da Estrada em vigor atualmente, as coimas para a utilização indevida do telemóvel durante a condução vão desde os 120 aos 600 euros, e implicam a perda de dois pontos na carta de condução.

No entanto, o Governo tem como objetivo aplicar multas mais pesadas para este tipo de infrações e preparou uma proposta de decreto-lei que se encontra à espera da aprovação em Conselho de Ministros.

Esta proposta duplica o valor das multas em caso de uso indevido do telemóvel, passando estas a enquadrar-se em valores entre 250 e os 1.250 euros. Os pontos a perder na carta de condução passariam também de dois para três.

Embora não seja possível contabilizar um número exato, os últimos dados recolhidos em 2018 pelo Associação Portuguesa das Sociedades Concessionárias de Autoestradas ou Pontes com Portagem (APCAP) indicam que 32% dos acidentes são causados por distração do condutor, incluíndo nesta parcela o uso do telemóvel.

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