Share the post "Aprovada a reabertura da Linha do Douro entre Pocinho e Barca d’Alva"
A reabertura da Linha do Douro entre o Pocinho e Barca d’Alva foi inscrita no Orçamento do Estado para 2026 após aprovação de uma proposta apresentada pelo Bloco de Esquerda.
A medida determina que sejam desenvolvidos todos os procedimentos necessários, realizadas as obras e instalados os sistemas eletrónicos de sinalização e outras infraestruturas essenciais para a reativação deste troço ferroviário.
Esta decisão marca um passo importante para a recuperação de uma ligação ferroviária histórica que foi encerrada há mais de três décadas.
O troço entre Pocinho e Barca d’Alva, com aproximadamente 28 quilómetros, foi desativado em outubro de 1988, três anos após o encerramento da ligação internacional com Espanha.
Linha do Douro: uma história centenária
A Linha do Douro representa uma das mais importantes obras de engenharia ferroviária portuguesas do século XIX.
A sua construção iniciou-se em 1873 e foi concluída em dezembro de 1887, quando o troço até Barca d’Alva entrou ao serviço.
No mesmo dia, foi inaugurada a ligação internacional até Salamanca, transformando a Linha do Douro na via mais direta entre o Porto e o resto da Europa.
Durante décadas, esta infraestrutura desempenhou um papel fundamental no desenvolvimento económico da região, facilitando o transporte de produtos vinícolas e dinamizando as localidades servidas ao longo do vale do Douro.
A linha contava com 23 túneis e 35 pontes, seguindo o leito do rio numa obra que desafiava os limites impostos pela paisagem de granito e xisto.
O encerramento e décadas de abandono

O declínio começou em 1985, quando as autoridades espanholas decidiram encerrar o troço internacional entre La Fuente de San Esteban e Barca d’Alva, alegando falta de rentabilidade.
Do lado português, a decisão de suspender os serviços entre Pocinho e Barca d’Alva chegou em 1988, no contexto de uma estratégia governamental que privilegiou o investimento em autoestradas em detrimento do transporte ferroviário.
Desde então, as infraestruturas ferroviárias deste troço têm sido deixadas ao abandono. Estações, pontes, túneis e apeadeiros deterioraram-se progressivamente, enquanto a vegetação tomou conta dos carris.
Do lado espanhol, porém, a antiga linha foi classificada como Bem de Interesse Cultural e tem sido alvo de esforços de preservação.
Linha do Douro: mobilização pela reabertura
A reivindicação pela reabertura desta linha não é recente. Ao longo dos anos, autarquias locais, deputados e organizações da sociedade civil têm defendido a reativação da ligação ferroviária, destacando as suas potencialidades turísticas e o seu papel no desenvolvimento do interior do país.
Em 2019, a Liga dos Amigos do Douro Património Mundial e a Fundação Museu do Douro lançaram uma petição que recolheu mais de 14 mil assinaturas, muito acima das quatro mil necessárias para levar o assunto ao parlamento.
Já em março de 2021, projetos de resolução do BE, PAN, PSD, PCP e PEV defendendo a requalificação da Linha do Douro e a reabertura do troço Pocinho-Barca d’Alva foram aprovados por unanimidade na Assembleia da República.
Potencial turístico e económico
A reabertura deste troço ferroviário é vista como uma oportunidade estratégica para a região do Douro, classificada como Património da Humanidade pela UNESCO. A combinação de viagens de comboio com cruzeiros fluviais no rio Douro representa um produto turístico com grande potencial, capaz de atrair milhares de visitantes anualmente.
Além disso, a recuperação desta infraestrutura pode contribuir para contrariar a desertificação do interior do país, dinamizando a economia local e criando novas oportunidades para as populações que vivem nestas zonas mais remotas.
A eventual reativação da ligação internacional até Salamanca poderia ainda reforçar as conexões económicas e culturais entre Portugal e Espanha.
Com a aprovação no Orçamento de Estado, o Governo terá agora de avançar com os estudos técnicos e ambientais necessários, bem como com a análise de custos e a definição do modelo de financiamento.
Estimativas anteriores apontavam para um investimento de cerca de 25 milhões de euros numa reabilitação básica do troço português, permitindo a circulação de comboios a gasóleo. Uma reabertura completa com ligação a Espanha poderia custar entre 200 a 260 milhões de euros.