Pedro Andersson
Pedro Andersson
08 Jun, 2020 - 08:45

Está a aproveitar o que poupou com a Covid-19?

Pedro Andersson

Por estarem em teletrabalho, muitos portugueses acabaram estes meses com mais dinheiro na conta. Se é o seu caso, o que está a fazer com esse dinheiro?

aproveitar o que poupou com a pandemia

Creio que já percebeu que Portugal está, neste momento, dividido ao meio. Metade está praticamente sem rendimentos, mas a outra metade até está numa situação ainda melhor do que antes da pandemia (falei nesta situação na crónica no mês passado).

Porquê? Porque por estarem em teletrabalho, por terem mantido o emprego ou por serem reformados ou pensionistas acabaram por não ter rigorosamente nenhuma quebra salarial. E, surpreendentemente, até acabaram todos estes meses com mais dinheiro na conta.

Esses portugueses pouparam nos combustíveis, nas refeições fora no trabalho, não foram jantar fora, não foram ao cinema, não foram de férias, enfim, mesmo que quisessem gastar dinheiro não conseguiam. A minha pergunta para si é: o que é que está a fazer com esse dinheiro?

Vou dar-lhe o meu exemplo. O meu filho mais velho está no décimo ano. Portanto, este ano já não volta fisicamente à escola. Só aqui são 3 meses de passe que não gastei (30 € x 3 = 90 euros). Não almoçou na escola (mais 10 euros por semana – mais 120 euros). A minha mulher (está em teletrabalho) não anda com o carro há 3 meses (70 € x 3 = 210 euros). Eu fui trabalhar semana sim, semana não, poupei metade do combustível (35 € x 3 = 105 euros).

E já não falo do que não gastámos em alimentação fora, nos tais restaurantes e nas portagens e nos parquímetros e nos lanchinhos e pequenos almoços, etc. Só com esta conta muito rápida nestes 3 meses não gastámos 525 euros.

Repare que esse dinheiro era dinheiro que gastaria de certeza se estivesse numa situação “normal”. Não o poupou, simplesmente não o gastou.

Agora tem duas opções: guardá-lo religiosamente ou investi-lo em produtos de menor ou maior risco.

O que fazer com o dinheiro que não gastou?

Se ainda não tem um Fundo de Emergência, usa esse dinheiro imediatamente para esse fim. Pode ser o princípio da sua “almofada” de 6 meses das suas despesas mensais normais. Só depois de ter esse valor numa ferramenta de poupança com capital garantido e de elevada liquidez (ou seja, pode levantá-la de um dia para o outro) é que pode pensar em outras opções. Dei-lhe várias dicas na crónica de Maio sobre como pode atingir este fundo de emergência mais rapidamente.

Como já tenho o meu fundo de emergência, decidi pegar nesse dinheiro e investi-lo em produtos de maior risco (sem capital garantido). Eu sei que você talvez pense que isto é uma loucura porque se consegui juntar este dinheiro agora vou arriscar perdê-lo? Bom, terá de avaliar a sua situação. Cada um tem de decidir de acordo com o seu perfil de risco. Se isso lhe tira o sono, não o faça e guarde-o.

O meu desafio é que aproveite esta oportunidade para perceber como funcionam por exemplo os Fundos de Investimento. Fale com o seu gestor de conta no banco e veja o que pode conseguir com o valor que juntou sem qualquer esforço.

Os meus Fundos de Investimento que estiveram a perder 40% no pico da crise, neste momento já voltaram a estar positivos e estão com mais de 10% de crescimento (positivo). Leia e faça perguntas sobre como funcionam. Há Fundos mais arriscados e outros com muito menos risco.

Se produtos sem capital garantido lhe fazem confusão não se meta nisto. Tem de saber lidar com momentos em que o seu dinheiro está negativo sem o resgatar. Nesse caso, a minha sugestão é que o invista em Certificados do Tesouro, por exemplo. Têm capital garantido pelo Estado. Ou faça um PPR (colocando-o ou não no IRS). Faça dinheiro com o seu dinheiro.

Veja também Benefícios fiscais dos PPR: sabe quanto pode poupar em impostos?

Ou seja, em resumo, o que lhe estou a sugerir como dica de poupança/investimento é que tire esse dinheiro que lhe “caiu do céu” da sua vista. Faça de conta que ele nunca existiu e que o “gastou” como o deveria ter feito, caso a pandemia não tivesse existido. É que se o deixar na conta ele vai desaparecer e não vai sentir que ganhou alguma coisa com ele. Vai voar num instante e daqui a 3 meses nem se vai lembrar em que é que o gastou.

Como referi no início, tive a “sorte” de manter o meu trabalho. Nem todos estão nesta situação. Não considere esta crónica como uma falta de respeito por quem está a passar por dificuldades. Sei que as situações não são todas iguais e eu próprio não sei o que me vai acontecer no futuro. A mensagem que lhe quero passar é que – em cada momento – deve avaliar como está a gerir o seu dinheiro, seja muito, seja pouco, e estar atento a todas as oportunidades de o pôr a trabalhar para si.

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