Viviane Soares
Viviane Soares
07 Dez, 2016 - 07:00

Arte abstracta: 5 histórias a reter

Viviane Soares

A arte abstracta muito deve à obra de Cézanne. Fez da pintura uma religião, mediadora entre os valores sagrados e terrenos, a síntese perseguida pelo abstracionismo.

Arte abstracta: 5 histórias a reter

No que diz respeito à História da Arte, pensamos que será adequado analisar a Arte do século XX – pelo menos até ao final da década de 50 – a partir de duas grandes narrativas – uma figurativa e a outra abstracta. Esta última, assunto do artigo que aqui nos traz, desenvolve-se a partir da segunda década do século com os movimentos Der Blaue Reiter (1911) – “O Cavaleiro Azul” –, o Abstraccionismo (1913) e o Suprematismo (1915).

Todavia, no exercício de tentar cartografar a arte abstracta no seio da narrativa histórica, não podemos deixar de referir a obra de Paul Cézanne (1839-1906), impulsionadora não só daquilo que viria a ser o Abstraccionismo, mas também do Expressionismo e do Cubismo. Diríamos até que a sua obra é uma síntese daquele que é o âmago destes três movimentos. Posto isto, a tal cartografia desenvolver-se-ia em torno das seguintes obras:

A arte abstracta na História da Arte

1. Monte de Sainte-Victoire (1904-1906), de Paul Cézanne

Em oposição à necessidade de representação do quotidiano e, digamos, a um certo mundanismo, característica da obra de Édouard Manet (1832-1883) e dos impressionistas, a obra de Cézanne procura representar a “verdade” em pintura.
Por outras palavras, como representar o poder da natureza na insuficiência ou limitação das suas formas?

Esta obra em particular revela esta inquietação a dois níveis. Na representação, simultânea, do rigor das formas (objectividade) e na qualidade espiritual da luz que atravessa a paisagem (subjectividade). Ou ainda na verticalidade do monte propriamente dito – que indica uma vontade de abstração – e na horizontalidade tão marcante, expressionista,  daquele plano inferior – que, de certa forma, celebra os valores terrenos. Cézanne procura o absoluto e considera a pintura uma mediação entre o divino, digamos assim, e o terreno.

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2. Primeira aguarela abstracta (1910), de Wassily Kandinsky

Depois dos movimentos de vanguarda, da primeira década do século XX,  terem celebrado o progresso e as transformações operadas no seio do tecido social e cultural pela Revolução Industrial, o abstracionismo surge precisamente em oposição à racionalidade técnica que convergiu para a a I Guerra Mundial, ou seja, num momento de tensão política e social.

A obra de Kandinsky, no âmbito da arte abstracta, persegue uma vontade de tratar os impulsos espirituais, de despertar emoções, relembrar o Homem da consciência de si. Para tal, desenvolve uma gramática visual a partir da qual associa cores e formas a significados espirituais. Por exemplo, associa a cor azul à ideia de quietude, o amarelo ao calor espiritual e o vermelho à vivacidade. Os acordos cromáticos saturados, contrastantes têm a capacidade de despertar as tais emoções no espectador.

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3. “Dreaming horse” (1913), de Franz Marc

O movimento artístico Der Blaue Reiter (inicialmente o nome do jornal fundado por Franz Marc), do qual Kandinsky e August Macke fizeram parte, apesar de ter um cunho expressionista, marca a libertação do jugo da figuração.

Para os artistas deste movimento, a arte tem que deixar de se submeter à imitação da natureza para, de uma vez por todas, cumprir o seu propósito, a sua força profética. Desenvolvem uma poética simbólica, uma linguagem pictórica com um sentido universal. O cavalo azul representa precisamente essa força profética, uma intelectualidade que aguarda pacientemente o despertar de consciências.

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4. “Black square” (1915), de Kazimir Malevich

Provavelmente a expressão mais radical da arte abstracta, o Suprematismo (de supremus – o mais elevado) de Malevich assenta numa radical simplificação formal, da qual a figuração foi definitivamente banida. O quadrado preto sobre fundo branco representa, na figura do quadrado, a sensibilidade pura e o fundo tudo o que é exterior a essa sensibilidade, ou seja, o nada.

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5. “Blue Poles” (1952), de Jackson Pollock

Pollock é um das figuras mais proeminentes daquele que é considerado o último dos “ismos” – o Expressionismo Abstracto ou Action Painting.  A obra exige a ação de todo o corpo do artista, o qual faz a catarse das pulsões, da violência e de uma interioridade que, no programa da psicanálise de Jung, é o denominador comum do inconsciente colectivo.

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