A importância da linguagem em vários aspetos da nossa vida como a cognição, a educação, a interação social e a vocação profissional é, sem dúvida crucial. E, por isso mesmo, o atraso da linguagem e/ou dificuldades para começar a usar a mesma são uma das causas mais comuns de preocupação dos pais.
O atraso pode indicar uma dificuldade específica de linguagem, ou pode ser um indicador precoce de um problema um pouco mais amplo – como o autismo ou o atraso no desenvolvimento.
Num atraso da linguagem existe um ritmo mais lento na aquisição de todos os domínios da linguagem. Ou seja, fonologia, morfologia, sintaxe, pragmática e semântica. Fique connosco e informe-se sobre o tema.
Como detetar um atraso da linguagem
Como sabemos, os primeiros anos de vida são um período de diversas variações nos níveis de aquisição de linguagem nas crianças. E enquanto umas desenvolvem a linguagem num ritmo constante, outras não.
A verdade é que algumas crianças falam muito mais do que outras, mas isso não significa que elas são mais inteligentes ou que possuam um vocabulário mais rico. Se refletirmos bem, as crianças mais caladas são simplesmente mais seletivas quando têm de falar.
Assim, estas diferenças de desenvolvimento têm tendência para estabilizar quando os mais pequenos atingem a idade escolar. No entanto, às vezes isso não acontece e pode mesmo existir um atraso da linguagem.
O que diz a Academia Americana de Pediatria
Segundo a Academia Americana de Pediatria (AAP), aos 2 anos as crianças devem ser capazes de:
- apontar imagens em livros;
- obedecer instruções individuais sem precisarem de ver gestos ilustrativos (exemplo: pega nos teus sapatos);
- apontar muitas partes do corpo e objetos do quotidiano;
- dizer frases de duas palavras (como “quero mais” ou “mãe, anda”);
- falar entre 50 a 100 palavras;
- serem compreendidas por outras pessoas em algumas ocasiões;
- formar frases de três palavras (como “tu vais embora” ou “eu quero leite”).
É normal que as crianças não consigam dizer ou fazer tudo o que foi referido acima de uma só vez. Ou seja, enquanto umas podem aprender tudo isto até antes dos dois anos, outras podem estar a chegar aos três anos e ainda terem dificuldades num ou outro aspeto.
Como identificar então?
Quando os mais pequenos têm problemas com a linguagem recetiva, isto é, entender palavras, eles podem ter alguma dificuldade em entender o que os gestos significam, em seguir instruções, apontar para objetos ou imagens ou até mesmo a responder a questões.
Por outro lado, quando o problema está relacionado com a linguagem expressiva (a capacidade de falar), as crianças podem ter dificuldade em usar gestos, nomear, fazer perguntas, usar pronomes corretamente, conversar e mudar a forma de falar consoante a pessoa e a situação.
A verdade é que, atualmente, várias crianças apresentam problemas de linguagem, na fala e até mesmo dificuldade para entender o que lhes é dito.
Como distinguir um atraso de linguagem de problemas na fala?
Para se distinguir um atraso de linguagem de problemas na fala, há que ter em consideração os aspetos mecânicos da produção de palavras (o ritmo de discurso ou a articulação de palavras, por exemplo).
As alterações da linguagem e da fala, são as perturbações do desenvolvimento mais frequentes nas crianças em idade pré-escolar. O atraso da linguagem atinge cerca de 5% a 10% das crianças nessa faixa etária.
Assim, o termo atraso de linguagem é utilizado quando a aquisição se faz de forma típica, porém mais tarde do que a idade habitual para cada etapa.
Relativamente aos problemas a fala, podemos referir a gaguez, por exemplo. Nestes casos, existe um comprometimento do discurso que pode estar presente em crianças com 3 ou 4 anos de idade.
Para além disto, as alterações da articulação das palavras, como troca de sons ou omissão, podem prejudicar a inteligibilidade. Mas este talvez não seja um motivo de preocupação, visto que muitas crianças apresentam erros articulatórios e por volta dos 5 ou 6 anos eles desaparecem.
Um atraso da linguagem poderá ser algo temporário
Por vezes, um atraso da linguagem poderá ser algo apenas temporário e que desaparece com o tempo e com a ajuda de amigos e familiares. Por isso, o recomendado é incentivar o seu filho a ter paciência e a conversar (mesmo que ele não queira porque está distraído com os brinquedos).
Caso esteja preocupado e pense que ele poderá ter um problema de desenvolvimento de linguagem, o ideal é falar com o seu pediatra para verificar que não existe qualquer problema com a audição (muitas vezes relacionada com o atraso da linguagem).
Depois, caso seja necessário, pode marcar uma consulta com um terapeuta da fala para perceber o trabalho que terá de ser feito não só nas consultas, como em casa também.