Miguel Pinto
Miguel Pinto
25 Ago, 2025 - 16:00

Por que são os carros elétricos tão caros? Eis algumas pistas

Miguel Pinto

Quando surgiram no mercado a expetativa era de que fossem mais acessíveis. Mas por que é que os carros elétricos continuam tão caros?

carros elétricos caros

Nos últimos anos, os carros elétricos deixaram de ser uma curiosidade tecnológica para se tornarem protagonistas de uma mudança profunda no setor automóvel.

Marcas tradicionais reformularam as suas gamas, startups nasceram a pensar exclusivamente no elétrico e governos criaram incentivos para acelerar a transição.

No entanto, há uma questão que continua a pairar na mente de muitos consumidores: por que razão os carros elétricos ainda são tão caros?

A resposta não é única, mas antes um mosaico de fatores que combinam tecnologia, economia e até psicologia de mercado. Vamos seguir algumas pistas.

Carros elétricos caros? Algumas (possíveis) razões

A discussão é longa e está para durar. A mobilidade elétrica ainda não convence toda a gente, longe disso, e há um infindável número de argumentos a favor e contra. Um deles é o preço. Os carros elétricos caros estão, ainda longe do orçamento das famílias.

Mas o que leva a que estejamos a falar de valores tão elevados? Fomos procurar algumas respostas. Haverá mais, e outras tantas perguntas, mas fica aqui um cenário que ajuda a explicar esta situação.

1

O custo das baterias

Se o motor de combustão é o coração de um carro tradicional, a bateria é a alma de um elétrico. Produzida maioritariamente com lítio, níquel, manganês e cobalto, esta componente pode representar entre 30% e 40% do custo total do veículo.

A sua complexidade reside não só no preço das matérias-primas, muitas vezes sujeitas a volatilidade nos mercados internacionais, mas também nos processos de extração e refinação, altamente especializados.

Embora os preços das baterias tenham caído significativamente na última década, o seu peso no custo final ainda é determinante. E se pensarmos nos modelos com maior autonomia, o impacto é ainda mais acentuado, já que é necessário instalar packs de baterias maiores e, consequentemente, mais caros.

2

Escala de produção

Enquanto os carros a gasolina ou gasóleo beneficiam de mais de um século de produção em massa, os elétricos ainda estão a construir a sua escala.

Fabricar milhões de unidades por ano permite diluir custos de investigação, logística e produção. No caso dos elétricos, essa vantagem é ainda incipiente.

Além disso, as linhas de montagem tiveram de ser adaptadas ou criadas de raiz, um investimento que inevitavelmente pesa na equação. Mesmo marcas gigantes como a Volkswagen ou a Toyota ainda estão a alinhar as suas cadeias de produção para o novo paradigma.

3

Tecnologia e inovação

Cada carro elétrico que chega ao mercado é, de certa forma, um laboratório sobre rodas. A tecnologia não se limita às baterias: envolve sistemas de gestão de energia, software avançado para otimizar consumos, sistemas de carregamento ultrarrápido e uma integração crescente com aplicações móveis.

Tudo isto exige equipas de engenheiros, testes rigorosos e atualizações constantes. Para as marcas, é um investimento avultado que precisa de ser recuperado. O consumidor paga, por isso, não apenas pelo carro em si, mas também por um pedaço de investigação e desenvolvimento.

4

Posicionamento das marcas

Há também uma dimensão estratégica. Muitos fabricantes optaram por lançar os elétricos nas gamas mais altas, associando-os a luxo, tecnologia e exclusividade. O raciocínio foi simples: consumidores dispostos a pagar mais são menos sensíveis à diferença de preço em relação a um carro equivalente a combustão.

Isto explica por que motivo os primeiros elétricos de várias marcas foram SUV, berlinas premium ou modelos de nicho. À medida que o mercado foi amadurecendo foram surgindo modelos elétricos cada vez mais acessíveis e esse é o verdadeiro “game changer”.

5

Incentivos

Embora muitos países ofereçam incentivos fiscais, descontos diretos ou benefícios associados , o preço de entrada continua elevado e os carros elétricos caros.

Paradoxalmente, estes apoios também criaram uma espécie de “colchão” para os fabricantes, que sabem que parte do custo é absorvido pelo Estado. O resultado? Em alguns casos, os preços mantêm-se artificialmente altos, já que a pressão para reduzir custos de forma agressiva é menor.

6

O factor psicológico

Não podemos esquecer um elemento intangível, ou seja, a perceção de valor. Para muitos consumidores, o elétrico ainda é sinónimo de futuro, inovação e até de status social. E como em tudo o que carrega este peso simbólico, há uma disposição maior para pagar mais.

As marcas conhecem bem este fenómeno e jogam com ele, posicionando os elétricos como um produto aspiracional.

7

Curva de aprendizagem

Por fim, há que reconhecer que estamos a viver uma fase de transição. À medida que a indústria estabilizar, novas tecnologias de baterias surgirem (como o prometido estado sólido) e a produção em larga escala se tornar realidade, os preços tenderão a baixar.

A história repete-se. Lembremo-nos de como os primeiros computadores pessoais, ou mesmo os primeiros telemóveis, eram inacessíveis para a maioria das pessoas. Hoje, são produtos de consumo massificado.

Carros elétricos caros: futuro promete, presente pesa

É certo que os carros elétricos oferecem vantagens claras, como menor custo de utilização, emissões zero no ponto de uso, condução mais suave e silenciosa. No entanto, o obstáculo do preço continua a afastar uma fatia considerável de potenciais compradores.

A equação está longe de ser simples. Mas se a história da indústria automóvel nos ensina alguma coisa, é que a democratização chega sempre, mais cedo ou mais tarde. E talvez, daqui a alguns anos, olhemos para trás e nos surpreendamos com o facto de termos achado normal pagar tanto por um carro elétrico.

Até lá, resta-nos acompanhar a corrida tecnológica e esperar que a promessa de um futuro mais acessível e sustentável não demore demasiado a concretizar-se.

Veja também