Hugo Moreira
Hugo Moreira
22 Mar, 2010 - 00:00

Creches são serviço de “luxo”

Hugo Moreira

Finda a licença de maternidade, restam poucas alternativas aos pais além de meter os filhos em creches e jardins de infância. Mas existem poucos e são caros.

Creches são serviço de "luxo"

Numa altura em que o nível de vida não é dos melhores, meter as nossas crianças nos jardins de infância e creches torna-se num encargo cada vez mais pesado. Isto porque encontrar locais com boas condições e baratos é cada vez mais difícil.

Muitas famílias portuguesas não conseguem suportar as mensalidades, mesmo em instituições estatais, supostamente mais baratas e cujo pagamento é feito de acordo com os rendimentos dos progenitores. Mas o irónico (ou talvez não) é que mesmo para os progenitores que trabalham de “sol a sol”, a opção de deixar os filhos com os avós acaba por ser uma opção mais confortável e mais vantajosa a nível económico.

Para os que não têm uma estrutura familiar sólida, a solução passa por encontrar uma boa creche a preços que possam pagar. A Deco Proteste efectuou um inquérito a 2900 progenitores e concluiu que, face aos critérios mais procurados – proximidade da zona de residência, preço, instalações e equipamentos -, a grande maioria dos inquiridos está insatisfeita com a oferta de creches e infantários para deixar os seus filhos. Os principais problemas apontados são a falta de vagas e os custos mensais elevados. Cerca de 2 em 5 famílias com crianças nestas instituições garante que as mensalidades são uma parcela importante nas finanças.

Segundo a associação de defesa do consumidor, por criança os progenitores desembolsam um valor de referência mensal de 150 euros numa creche e 110 euros num jardim-de-infância. Mas o custo chega a ultrapassar, em Lisboa, os 300 euros mensais.

O Algarve é a zona que apresenta os piores resultados.

O estudo da associação de defesa do consumidor aponta ainda para o facto de um quarto dos pais inquiridos terem optado por não matricular as suas crianças neste tipo de estabelecimentos por motivos de ordem financeira. Existem ainda os progenitores que colocaram os filhos em estabelecimentos privados, com ou sem fins lucrativos, devido à falta de lugares no sistema público – 32 por cento das creches e 39 nos jardins-de-infância.

Outro dado relevante apurado no inquérito revela que metade das mães inquiridas que optaram por gozar a licença de maternidade de 5 meses em casa com o bebé teve salário reduzido. No regresso ao trabalho, 20 por cento enfrentaram problemas; 9 por cento sentiram hostilidade do chefe ou colegas; e 7 por cento não usufruíram das horas de amamentação a que têm direito.

A Deco propõe mudança no organismo que tutela estes estabelecimentos e defende que as creches e jardins-de-infância, públicos ou privados, devem estar sob a alçada do Ministério da Educação. As creches, à semelhança de outros países europeus, como Espanha, Dinamarca, Finlândia e Suécia, devem deixar de ser encaradas apenas como um serviço social, sustenta o estudo.

Número de pais que não pagam colégios aumenta

Está a aumentar o número de pais que não conseguem pagar a mensalidade dos colégios privados, o que tem obrigado estas instituições de ensino a pedir empréstimos à banca para cobrir as dívidas contraídas pela falta de pagamento das prestações.

A falta de pagamentos das propinas têm-se reflectido em prejuízos de milhares de euros para os externatos. A crise económica e os seus efeitos directos no desemprego e na quebra de rendimentos têm sido as razões apontadas. A situação agrava-se ainda mais em instituições que se localizam fora dos grandes centros urbanos. Ainda assim, e apesar das dificuldades, verifica-se que os progenitores evitam retirar os filhos do ensino privado para o público. Uma das formas de contornar passa por optar por cortar nas actividades extracurriculares e também por estender os prazos de pagamento das propinas.