Assunção Duarte
Assunção Duarte
23 Out, 2019 - 13:42

De onde vem o dinheiro falso dos filmes?

Assunção Duarte

Não são fotocópias. Nem dinheiro real. A dificuldade é evitar que as notas falsas filmadas se transformem num caso de polícia.

Actor da Casa de Papel em cima de dinheiro

Saber de onde vem o dinheiro falso dos filmes é uma questão de curiosidade para nós, mas de importância real para as autoridades que controlam a moeda verdadeira. Tal como saber o que acontece a esse dinheiro falso depois de acabar a filmagem. 

Pela sua natureza, a indústria cinematográfica cedo se apercebeu que utilizar dinheiro real nas filmagens era um sério prejuízo para o orçamento da produção. Especialmente quando o guião exige filmar cenas com a sua destruição e porque a produção envolve tantas pessoas e locais diferentes que era fácil perder-lhe o rasto. 

É fácil de perceber que, para filmagens que envolvem quantidades de dinheiro que vão além de um par de notas, o dinheiro falso se tornou um grande aliado para cumprir orçamentos de produção. Mas nem tudo são rosas na sua utilização e fabrico.

De onde vem do dinheiro falso dos filmes?

Impressão de notas falsas

É preciso cumprir regras apertadas na produção 

O objectivo é que a indústria dos filmes, telenovelas, vídeos ou outras produções semelhantes que usem dinheiro do seu guião, possam filmar notas suficientemente credíveis para passar a sua mensagem, mas não o suficiente para que elas sejam confundidas com dinheiro verdadeiro.

Só em Portugal, no primeiro semestre de 2018, foram apreendidas 11 290 notas falsas de euro e na Europa, as apreensões somaram 301 mil notas com as notas de 20 e 50 euros a serem as mais falsificadas. Mas as autoridades afirmam que os números destas apreensões são residuais face ao número real de notas que pode estar realmente em circulação.

As autoridades estão por isso alerta e apertaram as regras à indústria cinematográfica no que diz respeito ao uso de notas falsas.

Os Estados Unidos, ditaram algumas tendências nas regulamentações, uma vez que possuem uma das indústrias cinematográficas mais ativas do mundo e que os fez detectar mais cedo este problema.

dinheiro falso dos filmes: 3 pontos chave

Embora as regras de produção possam variar ligeiramente de país para país, elas apoiam-se em 3 pontos chave que não divergem muito de realidade para realidade.

Notas falsas com tamanho diferente 

O objectivo é que nenhuma nota falsa possa ter o tamanho de uma nota real. Os limites apontam para ser, pelo menos, 25% maiores ou mais pequenas que as vulgares notas dos bancos.

Essa diferença vai ajudar as pessoas a perceber se têm na sua mão uma nota verdadeira caso, por alguma razão, ela se extravie do local de filmagens. 

Notas impressas só num dos lados 

Imprimir apenas um dos lados da nota falsa é uma forma de evitar que ninguém pense que aquela é uma nota real.

É uma regra especialmente importante para o dinheiro falso que é utilizado como “dinheiro de perto”, aquele que é utilizado num grande plano e que tem de parecer mesmo muito real. Neste caso não haverá qualquer confusão se a nota cair em circulação.

Esta é, aliás, uma regra obrigatória em vários países, mas a que as autoridades fecham os olhos se, a nota impressa dos dois lados tiver um aspecto claramente falso.

Alterações gráficas visíveis

Na recriação do design da nota, várias regras gráficas têm de ser seguidas que podem variar de país para país. Por exemplo, no Reino Unido, a imagem da Rainha tem de ser respeitada de forma a não ofender a integridade da instituição bancária.

Mas o mais frequente é o desenho imitar de forma mais ou menos rudimentar o desenho da nota original, exibindo a impressão de frases como “FOR MOTION PICTURE USE ONLY” (Apenas para uso no cinema) ou “THIS NOTE IS NOT LEGAL TENDER” (Esta nota não é verdadeira).

Cena da série Breaking Bad

Multas e processos crime para quem não cumpre

Se as autoridades fiscalizarem e descobrirem no local de filmagem dinheiro que é demasiado real e que não cumpre com as regras, essa produção cinematográfica pode ser multada, interrompida ou sujeita a um processo crime que pode acabar na prisão de algum dos responsáveis pela introdução daquele adereço.

Esta posição, aparentemente dura e intransigente, foi igualmente iniciada pelas autoridades americanas depois de um caso que criou precedentes em 2001. 

Durante as rodagem do filme “Rush Hour 2” em Las Vegas, a produção fez explodir cerca de um bilhão de notas de 1 dólar falsas durante uma cena. Várias notas escaparam à explosão e, como eram tão reais, entraram no circuito do dinheiro falso tendo o FBI de intervir.

Mais recentemente, na nossa vizinha Espanha, a polícia teve de lançar um alerta acerca de notas de 5 e 10 Euros que tinham sido utilizadas e que estavam em circulação mesmo tendo escrito em inglês “This is not legal tender, it’s used for motion props” (Isto não é uma nota verdadeira, é utilizada como adereço de cinema).

Apesar da frase estar claramente visível, os comerciantes estavam a aceitar as notas porque estas demasiado verídicas e ninguém prestava atenção à frase.†††

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De onde vem do dinheiro falso dos filmes?

Empresas especializadas são a melhor opção

Com as regras a apertar existem vária empresas especializadas na produção de dinheiro falso para filmes.

O segredo para cumprir a lei é desenhar notas que são totalmente credíveis no filme, mas totalmente desacreditadas na vida real, e esse é um equilíbrio difícil exige pagamento.

Por 100 notas falsas produzidas nos EUA por empresas especializadas como a RJR Props, é possível a produção gastar 45 dólares para anota standard ou 65 dólares para notas de close up.

Para a mesma quantidade de notas, com aspecto de já terem circulado, a empresa cobra 20 dólares extra.

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