Valdemar Jorge
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16 Jan, 2024 - 10:51

Enzo Ferrari: “Se Deus fosse um carro seria um Ferrari F40”

Valdemar Jorge

O Ferrari F40 foi o último carro da marca com a aprovação de Enzo Ferrari. Queria deixar um supercarro como legado. E conseguiu.

Ferrari F40

O Ferrari F40 atualmente é um clássico. E apesar de não ser um dos mais belos Ferrari, a verdade é que é um ícone da marca italiana, que tem sede em Maranello.

É impossível falar da Ferrari sem lembrar Enzo Anselmo Giuseppe Maria Ferrari (Modena, Itália, 18 de fevereiro de 1898 – Marenello, 14 de agosto de 1988), fundador da Scuderia Ferrari e da conhecida fábrica de automóveis com o mesmo nome.

Enzo Ferrari, o Comendador, como era também conhecido, foi um apaixonado por automóveis. Aos 21 anos tentou trabalhar na Fiat, mas foi recusado e pouco tempo depois entrou para a Alfa Romeo, como piloto.

A Ferrari surge nos anos 1930/1940, com a sua história a começar oficialmente em 1947, com a saída do primeiro Ferrari 125 S da linha de montagem na fábrica em Maranelo.

F40: carro muito especial para Enzo Ferrari

Com o falecimento do seu filho Alfredino Ferrari, em 1956, aos 24 anos, vítima de distrofia muscular progressiva, Enzo Ferrari tornou-se um homem amargo, nunca mais pisou uma pista de corrida e passou a usar óculos escuros.

A Ferrari tornou-se uma marca de excelência, quer no que se refere à construção de turismos, mas também nas pistas, com a participação na competição rainha do automobilismo, a Fórmula 1.

Todos os automóveis tinham a sua supervisão e o ‘ok’ para serem uma realidade. Sem a sua aprovação nada se fazia. É aqui que o Ferrari F40 ganha protagonismo, por ter sido o último carro da marca italiana a ser aprovado pelo Comendador, em 1987.

Conta-se que Enzo Ferrari gostou tanto do F40 que proferiu a frase: “Se Deus fosse um carro, seria um F40”.

Sucessor do 288 GTO

“Há males que vêm por bem”. Diz o ditado popular que se pode aplicar ao Ferrari F40, que surgiu de uma forma um tanto ou quanto inesperada.

Em 1984 a Ferrari deu início ao desenvolvimento de um modelo para substituir o bem sucedido 288 GTO. O objetivo era competir com o Porsche 959 no Grupo B da FIA.

Mas, quando tudo parecia correr bem, a FIA coloca um ponto final da categoria Grupo B, na temporada de 1986. Isto acontece após o falecimento do piloto Henri Toivonen e do seu navegador Sergio Cresto.

Ora é nesta altura que começa a verdadeira história de sucesso do Ferrari F40. Enzo Ferrari ficou com cinco unidades do denominado 288 GTO Evoluzione sem possibilidade de os inscrever em qualquer competição.

Ferrari F40: supercarro para um puro desempenho

Enzo Ferrari tinha a vontade de deixar um supercarro como legado da sua vida. O F40 ganhou esse epíteto ao surgir como a super máquina nascida do programa Evoluzione: um carro para uso exclusivo em estrada.

O programa desenvolveu-se e concluiu-se com a apresentação do Ferrari F40 em 21 de julho de 1987, na data comemorativa do 40.º aniversário da marca italiana do ‘Cavallino Rampante’.

Pormenor do Ferrari F40
O Ferrari F40 tornou-se num clássico muito valorizado

Caraterísticas de um campeão

Produzido entre 1987 e 1992, o F40 surgiu em duas carroçarias distintas: Berlinetta, de 2 portas e Coupé de 2 portas, com assinatura do designer Leonardo Fioravanti, da Pininfarina. Foi apresentado no Salão Automóvel de Frankfurt.

As principais caraterísticas encontramo-las na ficha técnica e nos números que traduzem o seu desempenho:

  • Motor: V8 Biturbo 2.9 litros, tração traseira e motor central-traseiro;
  • Transmissão: caixa manual de 5 velocidades;
  • Potência: 478 cv às 7000 rpm;
  • Binário: 577 Nm às 4000 rpm;
  • Cilindrada: 2.936 cc;
  • Travões: discos de 330 mm, ventilados nas 4 rodas;
  • Pneus: dianteiros 245/40 ZR17; traseiros 335/35 ZR17;
  • Peso: 1.100 kg.

Performance:

  • De 0 – 100 km/h: 4,1 segundos;
  • 0 – 400 m: 11,9 segundos;
  • 0 – 1.000 m: 20,9 segundos;
  • Velocidade máxima: 324 km/h.

Curiosidades sobre o Ferrari F40

Em 1987, o Ferrari F40 ganhou o estatuto de carro mais rápido do mundo produzido em série, atingindo a marca dos 324 km/h, impressionante para a sua época.

Mais ainda, o design pensado por Leonardo Fioravanti é intemporal. A forma de cunha reforça o dinamismo, com as curvas da carroçaria a criarem a menor resistência ao ar. O spoiler dianteiro e o aerofólio traseiro são peças determinantes para garantirem a impressionante aderência ao solo, em alta velocidade.

Para atingir o nível de performance que ajudou a conquistar o título de carro mais rápido do mundo, foram utilizados na construção materiais como fibra de carbono, Kevlar e Nomex.

Além disso, o automóvel foi despido de todos os luxos e equipamento supérfluo, de modo a manter o peso baixo. Neste contexto, não existe forro interior das portas, com a abertura a fazer-se por meio de um cabo.

A linha de montagem do F40 não tinha robots. Por isso, todo o processo de fabrico era feito manualmente.

O modelo cruza a competição com a tradição e a excelência. Exemplo disso era o convite feito aos proprietários de cada modelo para visitar a fábrica, nomeadamente, a oficina, local onde era montada a baquet com as medidas do corpo do condutor.

Ao todo,  nos quatro anos de produção, foram construídos 1.311 exemplares do Ferrari F40.

Ferrari F40 também em Le Mans

Em 1989, a mesma equipa que desenvolveu o 288 GTO Evoluzione transformou um F40 num carro de corrida. Surgia então o F40 LM (Le Mans), que recebeu muito poucas modificações estéticas e mecânicas.

No entanto, a potência subiu até aos 720 cv e a velocidade máxima passou a ser de 367 km/h, com o 0-100 km/h a ser cumprido em 3,1 segundos.

A marca italiana não utilizou nenhum F40 LM em competição. Os 19 exemplares construídos foram adquiridos entre 1989 e 1994 por pilotos privados que corriam, na sua maioria, em Le Mans.

Como a marca atrai muitos adeptos para as corridas, surgiram ainda 27 carros adquiridos por particulares que os converteram em F40 LM, seguindo as especificações originais da marca. São os denominados F40 LM/GTE.

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