David Afonso
David Afonso
06 Nov, 2019 - 18:47

Será que os “papa-reformas” são carros seguros?

David Afonso

Os ‘papa-reformas’ atraem cada vez mais jovens. Mas será que os microcarros são seguros para lhes ‘confiarmos’ a vida das nossas crianças?

idosos a conduzir

Quem diria que os papa-reformas, autênticos clássicos das estradas iam estar na moda entre os condutores mais jovens.

Pode parecer mentira mas a verdade é que, só no ano passado, mais de 350 jovens tiraram a carta B1, o que os habilita à condução destes veículos.

Além disso, o termo “papa-reformas” caiu totalmente em desuso. Agora são conhecidos e designados oficialmente como microcarros. Contudo, e apesar desta “mudança de nome”, fica a pergunta: os microcarros são seguros e protegerão os nossos filhos em caso de acidente?

Primeiro, o que são afinal os microcarros?

Os microcarros são, mais comumente, os carros que não precisam de carta de condução.

São ainda a opção de mobilidade viável para muitos utilizadores que, por diversas razões, não possuem carta. Mas que, para serem conduzidos, requerem o título da Categoria B1 ao seu condutor.

A subcategoria B1 surgiu em território nacional com a aprovação do novo Código da Estrada em 2005, através do Decreto-Lei n.º 44/2005, de 23 de fevereiro.

Trata-se de uma subcategoria da Carta de Condução que abrange veículos como os triciclos (3 rodas) e os quadriciclos – conhecidos como microcarros e as moto 4.

carros mais seguros numa fila de trânsito
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Para obter esta subcategoria, é necessário ter no mínimo 16 anos, podendo inscrever-se durante os 6 meses antecedentes. E que obriga a passar por uma escola de condução, fazer o exame de código e tirar 12 aulas práticas.

A par disso, o candidato deve residir em território nacional, saber ler e escrever, bem como possuir aptidão física e psicológica, e claro deve apresentar os seguintes documentos:

  • Documento de Identificação;
  • NIF;
  • Certidão de Nascimento;
  • Autorização paternal + cópia dos documentos do encarregado de educação;
  • Atestado Médico;
  • 2 Fotografias originais, tipo passe.

No fundo, esta lei e categoria, foram criadas exatamente para prever a condução deste tipo de veículos. Por que apesar de tudo, também têm de respeitar as normas presentes no Código da Estrada.

Por outro lado, são criadas no sentido de incutir o espírito de condução defensiva nos condutores mais jovens.

Contudo, será que esta moldura legal é suficiente para incutir o sentido de responsabilidade em condutores mais “inexperientes”? E a sua segurança? Será que também são vistos nas estradas como condutores com veículos “normais”?

Será que os microcarros são seguros?

Independentemente de quem for a culpa, uma coisa é certa: em caso de embate, o microcarro, por uma questão de física, será sempre o elo mais fraco.

Depois dos primeiros testes a microcarros, em 2014, e face aos resultados obtidos, Ratingen, secretário-geral do European New Car Assessement Programme (EuroNCAP), veio a público dizer:

É preocupante verificar que, por não serem obrigatórios os testes nesta classe de veículos, ao contrário do que acontece em todos os automóveis, este tipo de quadriciclos revela um nível de segurança muito inferior.

Por outras palavras, o EuroNCAP afirma que os microcarros não são seguros.

Porque é que cada vez mais jovens querem comprar um carro que só circula, no máximo, a 45km/h?

Os microcarros até podem sair dos stands de automóveis com a velocidade limitada a 45 quilómetros/hora. No entanto, quase todos os microcarros conduzidos por jovens sofrem alterações mecânicas para atingirem mais velocidade. Quem o diz são os próprios mecânicos.

Muitos deles assumem que retiram os limitadores de velocidade e abrem os injetores do combustível para fazer com que este chegue mais depressa ao motor.

Se pensarmos que os pais autorizam esta mudança de capacidade de aceleração, torna todo este cenário bastante “negro” no que toca à segurança.

Por exemplo, uma operação deste género pode custar cerca de 1000€ e o microcarro pode chegar a atingir 95km/h.

Resultados dos testes de colisão dos microcarros em 2016

Mesmo testando os mais recentes modelos de quadriciclos, alguns veículos ficaram completamente destruídos num embate frontal a 50 km/h contra uma estrutura deformável. Foram eles:

Os testes do EuroNCAP incluíram o embate frontal total, protegido por uma estrutura deformável, e um embate lateral. Resultado: um completo desastre.

Por outro lado, referir ainda que, os veículos da Aixam e da Ligier – os microcarros mais vendidos em Portugal, foram os que pior desempenho tiveram, com resultados de 22%, o que equivale a 0 estrelas no capítulo de segurança.

Em termos comparativos, o Toyota IQ, o modelo mais compacto da Toyota e com pouco menos de 3m de comprimento conseguiu uma pontuação de 79%, o que equivale a 5 estrelas.

Quais as principais falhas dos microcarros nos testes de colisão?

Vários são os motivos que demonstram o quão perigosos são os microcarros em caso de embate. O cinto de segurança soltou-se do pilar B, o ponto de fixação superior, e o condutor afundou-se, sofrendo graves lesões abdominais (um fenómeno conhecido como “submarining”).

Como se isto não bastasse, o volante entrou no habitáculo consideravelmente durante a colisão frontal, atingindo a cabeça do condutor com tal violência que a desaceleração seria potencialmente fatal.

Depois, como o cinto de segurança cedeu (um erro grave de concepção que não acontece em nenhum dos automóveis convencionais testados), o embate do volante no peito foi tremendo, mais uma vez matando o boneco – “provocando um elevado risco de lesões graves ou fatais”, segundo o relatório.

De caminho, a plataforma inferior do modelo, em fibra de vidro, fracturou-se e o assento do condutor colapsou.

No último estudo realizado, em 2016, o mercado tinha crescido 25,7% face aos valores de 2015, com a Aixam a liderar e a crescer 38%, batendo a Ligier (+46,9%), a Microcar (+22,7%) e a Chatenet (+21,7%).

Em suma, todo este cenário não é nada animador quando cada vez mais jovens compram este tipo de veículos, e cada vez mais, os microcarros continuam a ser conhecidos como “mata-velhos”, mas jovens também.

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