Luana Freire
Luana Freire
06 Ago, 2022 - 16:27

Monkeypox ou varicela? Saiba diferenciar 

Luana Freire

Monkeypox ou varicela: duas doenças causadas por vírus que provocam sintomas semelhantes, mas que não são de todo a mesma coisa.

São dois vírus de uma mesma família e que, por esta razão, podem provocar sintomas bastante fáceis de confundir. Mas, ainda assim, são agentes infeciosos distintos e as diferenças que marcam as duas patologias, varíola-do-macacos / monkeypox e varicela, são importantes de destacar.

A varicela, doença tão habitual (especialmente na infância, entre os 2 e os 8 anos) e altamente contagiosa, é provocada pelo vírus zoster, enquanto que a varíola-dos-macacos é originada por uma infeção viral zoonótica, após contacto com o vírus monkeypox – que transmite-se de animais para humanos e é bastante mais rara, espalhando-se menos.

Ainda assim, apesar de menos incidente, esta segunda patologia tem feito soar alarmes por todo o mundo. Depois de ser endémica em África durante décadas, a infeção tem estado sob holofotes por ter ultrapassado fronteiras e feito eclodir casos pelos quatro cantos do globo.

Entenda as principais diferenças que fazem parte do diagnóstico destas doenças.

Monkeypox e varicela: tão diferentes e com tanto em comum

Erupções cutâneas, febre, dor de cabeça, mal-estar geral. Reconhece estes sintomas em alguma doença que teve na infância?

A varicela, apesar dos riscos de complicação, é uma doença vista como benigna e que está naturalizada entre nós. Ocorre com extrema frequência entre as crianças e, de seguida, passados os sintomas da doença, o vírus adormece no organismo sem voltar a dar sinais por toda a vida – embora possa voltar a manifestar-se na idade adulta, por influência de situações como idade avançada e baixa imunidade, é incomum que aconteça.

Já a varíola-dos-macacos, causada pelo vírus monkeypox, tem sido uma incógnita para médicos e cientistas de todo o mundo. Descoberta em 1958, depois de estar na origem de dois surtos em colónias africanas que investigavam macacos, só em 1970 foi registado o primeiro caso num humano – na República Democrática do Congo. Desde então, é tida como uma doença endémica em vários países da áfrica Ocidental e Central.

Na restante parte do mundo, inclusive na Europa, este diagnóstico tem sido uma verdadeira surpresa – recorde-se que o primeiro caso da varíola-dos-macacos em Portugal foi registado somente em 2022, à semelhança de países como Espanha e Reino Unido.

As principais diferenças

Entre as principais diferenças que podem ajudar no diagnóstico da varicela ou monkeypox estão os grupos de risco, as formas de contágio, características das lesões cutâneas e o tempo de duração dos sintomas.

A varicela tem como alvo, especialmente, as crianças. Já o vírus monkeypox, embora possa contagiar qualquer pessoa (daí a importância de controlar as cadeias de contágio), apresenta o seu grupo de risco como sendo composto fundamentalmente por homens que mantêm relações sexuais com outros homens. As formas de contágio incluem contacto pele a pele (com as lesões) e secreções – respiratórias e fluidos corporais, inclusive íntimos.

A transmissão da varicela ocorre principalmente através do contacto direto com secreções respiratórias – raramente acontece através do contacto com as lesões cutâneas.

Erupções cutâneas em criança com varicela.

As lesões ulcerativas, embora muito semelhantes à primeira vista, são também distintas: a varicela provoca erupções cutâneas que apresentam-se como bolhas finas com um fluído claro no seu interior; as lesões da varíola-dos-macacos são mais profundas e rígidas, com uma textura semelhante a da borracha, que podem sofrer alterações com o tempo.

Lesões na pele de doente com infeção pelo monkeypox.

As lesões na pele surgem de formas diferentes: na varicela, geralmente, as erupções têm início no tronco e propagam-se gradualmente para mãos, pés, axilas, cara e couro cabeludo – podendo aparecer até na língua; as lesões causadas pelo monkeypox aparecem ao mesmo tempo, numa região do corpo em específico, podendo atingir mãos e braços, pés e pernas, cara e, ainda, a região ano-genital.

A duração dos sintomas também difere: as lesões da varicela desparecem em poucos dias, formando crostas que indicam que a doença já não é contagiosa; as erupções cutâneas provocadas pelo monkeypox cicatrizam a partir de duas semanas do seu início – e não é incomum que isso ocorra perto das quatro semanas.

Vacinas e tratamento

A vacina da varicela não faz parte do Plano Nacional de Vacinação (PNV), mas é uma das Recomendações sobre Vacinas Extra PNV, orientada pela Sociedade Portuguesa de Pediatria (SPP) – esta medida contribui para que a doença seja tantas vezes benigna. Também os seus sintomas, nas pessoas vacinadas, são geralmente ligeiros.

Para o monkeypox não existe uma vacina específica, mas a que é usada contra a varíola pode ser recomendada como medida preventiva. Alguns antivirais e também a imunoglobina vaccinia podem auxiliar no tratamento – tal como para a varicela, não existe uma terapêutica exclusiva para a varíola-dos-macacos e o acompanhamento do doente passa por tratar da sintomatologia.

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