A prevenção de incêndios florestais tornou-se uma urgência inadiável em Portugal. Com temperaturas extremas e verões cada vez mais longos, o risco de grandes tragédias aumenta todos os anos. Apesar dos múltiplos alertas e das lições dos últimos fogos, ainda falta uma estratégia eficaz e integrada.
Neste artigo, analisamos falhas críticas no combate a incêndios, revisamos os erros das políticas públicas ambientais e apresentamos soluções práticas. A palavra de ordem é prevenir. Só assim poderemos proteger as nossas florestas — e as nossas vidas.
Falhas graves no combate a incêndios
A gestão dos incêndios florestais em Portugal está entregue a múltiplas entidades com competências dispersas. Na prática, isso traduz-se em desorganização nos momentos de maior urgência. Durante um incêndio ativo, o comando das operações muda automaticamente para a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, mas sem garantir liderança adequada no terreno.
É fundamental criar comandos únicos e permanentes — com técnicos especializados como engenheiros florestais — que articulem de forma eficiente a vigilância, prevenção e combate. Sem essa mudança estrutural, a coordenação continuará a ser um dos calcanhares de Aquiles da nossa resposta.
Escassez de meios humanos e técnicos
Uma das maiores fragilidades no combate a incêndios é a falta de meios e pessoal. Faltam helicópteros operacionais, viaturas de combate modernas e equipas bem formadas, com condições para permanecer nas áreas de maior risco durante todo o ano.
A ausência dos guardas florestais agrava o problema. Estes profissionais conhecem os territórios, identificam situações anómalas antes que se transformem em incêndios e orientam as forças no terreno. Reintegrá-los no sistema é urgente para melhorar a vigilância e a resposta atempada.
Gestão florestal e políticas públicas ambientais desadequadas
Subfinanciamento crónico da floresta compromete prevenção
Apesar de todos os alertas, o orçamento continua desajustado: 80% do financiamento é direcionado para apagar fogos, e apenas 5% para prevenção ativa. Esse desequilíbrio inibe a criação de aceiros, a limpeza de matos ou o ordenamento do território com mosaicos de culturas resistentes ao fogo.
Sem uma estratégia sólida de gestão florestal, Portugal continuará vulnerável. Incentivar atividades agrícolas sustentáveis e restaurar a biodiversidade são caminhos estratégicos para reduzir o abandono do interior e tornar o território mais resiliente.
Reforma na proteção civil é essencial
A reforma da proteção civil não pode ser apenas uma promessa política. É necessária a criação de uma estrutura técnica estável e dedicada, com competências na prevenção, gestão e reconstrução pós-incêndio.
Uma Direção-Geral dedicada aos fogos florestais, comparável ao SNS mas voltada para a proteção da floresta, poderia responder de forma integrada, eficaz e permanente. Os comandos de proteção civil devem deixar de ser estruturas sazonais e passar a atuar em articulação com municípios e comunidades locais durante todo o ano.
Soluções estratégicas para prevenir incêndios antes que comecem
Mais vigilância e melhor uso da tecnologia
A vigilância no terreno continua a ser uma das formas mais eficazes de deteção precoce. Torres de vigia operadas por profissionais locais oferecem conhecimento do terreno inigualável. Sabem como se comporta o clima, reconhecem fumo suspeito e antecipam a direção do fogo com precisão.
Apesar dos avanços tecnológicos, as câmaras substituíram — de forma ineficaz — os olhos humanos em áreas de difícil acesso. A melhor solução passa por um modelo híbrido: tecnologia que complemente, mas não substitua, os recursos humanos.
H3: Pressão política e cidadania ativa são fundamentais
A floresta é um património de todos — mas a sua defesa ainda não é uma prioridade política. É essencial que os cidadãos exijam responsabilidade e visão aos líderes políticos. Participar em debates públicos, pressionar para medidas sustentáveis e fiscalizar a eficácia das políticas públicas ambientais são formas essenciais de travar tragédias antes que aconteçam.