Ekonomista
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31 Jul, 2025 - 13:15

Prevenção de incêndios florestais

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A prevenção de incêndios florestais exige reformas urgentes em gestão, vigilância e políticas públicas para travar tragédias evitáveis.

A prevenção de incêndios florestais tornou-se uma urgência inadiável em Portugal. Com temperaturas extremas e verões cada vez mais longos, o risco de grandes tragédias aumenta todos os anos. Apesar dos múltiplos alertas e das lições dos últimos fogos, ainda falta uma estratégia eficaz e integrada.

Neste artigo, analisamos falhas críticas no combate a incêndios, revisamos os erros das políticas públicas ambientais e apresentamos soluções práticas. A palavra de ordem é prevenir. Só assim poderemos proteger as nossas florestas — e as nossas vidas.

Falhas graves no combate a incêndios

A gestão dos incêndios florestais em Portugal está entregue a múltiplas entidades com competências dispersas. Na prática, isso traduz-se em desorganização nos momentos de maior urgência. Durante um incêndio ativo, o comando das operações muda automaticamente para a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, mas sem garantir liderança adequada no terreno.

É fundamental criar comandos únicos e permanentes — com técnicos especializados como engenheiros florestais — que articulem de forma eficiente a vigilância, prevenção e combate. Sem essa mudança estrutural, a coordenação continuará a ser um dos calcanhares de Aquiles da nossa resposta.

Escassez de meios humanos e técnicos

Uma das maiores fragilidades no combate a incêndios é a falta de meios e pessoal. Faltam helicópteros operacionais, viaturas de combate modernas e equipas bem formadas, com condições para permanecer nas áreas de maior risco durante todo o ano.

A ausência dos guardas florestais agrava o problema. Estes profissionais conhecem os territórios, identificam situações anómalas antes que se transformem em incêndios e orientam as forças no terreno. Reintegrá-los no sistema é urgente para melhorar a vigilância e a resposta atempada.

Gestão florestal e políticas públicas ambientais desadequadas

Subfinanciamento crónico da floresta compromete prevenção

Apesar de todos os alertas, o orçamento continua desajustado: 80% do financiamento é direcionado para apagar fogos, e apenas 5% para prevenção ativa. Esse desequilíbrio inibe a criação de aceiros, a limpeza de matos ou o ordenamento do território com mosaicos de culturas resistentes ao fogo.

Sem uma estratégia sólida de gestão florestal, Portugal continuará vulnerável. Incentivar atividades agrícolas sustentáveis e restaurar a biodiversidade são caminhos estratégicos para reduzir o abandono do interior e tornar o território mais resiliente.

Reforma na proteção civil é essencial

A reforma da proteção civil não pode ser apenas uma promessa política. É necessária a criação de uma estrutura técnica estável e dedicada, com competências na prevenção, gestão e reconstrução pós-incêndio.

Uma Direção-Geral dedicada aos fogos florestais, comparável ao SNS mas voltada para a proteção da floresta, poderia responder de forma integrada, eficaz e permanente. Os comandos de proteção civil devem deixar de ser estruturas sazonais e passar a atuar em articulação com municípios e comunidades locais durante todo o ano.

Soluções estratégicas para prevenir incêndios antes que comecem

Mais vigilância e melhor uso da tecnologia

A vigilância no terreno continua a ser uma das formas mais eficazes de deteção precoce. Torres de vigia operadas por profissionais locais oferecem conhecimento do terreno inigualável. Sabem como se comporta o clima, reconhecem fumo suspeito e antecipam a direção do fogo com precisão.

Apesar dos avanços tecnológicos, as câmaras substituíram — de forma ineficaz — os olhos humanos em áreas de difícil acesso. A melhor solução passa por um modelo híbrido: tecnologia que complemente, mas não substitua, os recursos humanos.

H3: Pressão política e cidadania ativa são fundamentais
A floresta é um património de todos — mas a sua defesa ainda não é uma prioridade política. É essencial que os cidadãos exijam responsabilidade e visão aos líderes políticos. Participar em debates públicos, pressionar para medidas sustentáveis e fiscalizar a eficácia das políticas públicas ambientais são formas essenciais de travar tragédias antes que aconteçam.

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