Afonso Aguiar
Afonso Aguiar
01 Abr, 2021 - 16:29

Sabine Schmitz, a rainha de Nürburgring

Afonso Aguiar

Afinal, o que distinguiu Sabine Schmitz das demais pilotos? Descubra tudo sobre uma das mais importantes pilotos da história.

Sabine Schmitz

O dia 16 de março de 2021 ficou marcado pelo falecimento da piloto Sabine Schmitz, conhecida como a Rainha de Nürburgring, a famosa pista alemã, denominada por alguns como o “inferno verde”, dado o difícil traçado que põe à prova os melhores carros e os mais experientes dos pilotos.

Enquanto muitos sonham em terminar Nürburgring, a alemã Sabine Schmitz conquistou a mais alta das honras, tornando-se a primeira, e até agora a única mulher piloto, a vencer no “inferno verde”.

Além de ser destacada como piloto, tendo inclusive participado no Campeonato do Mundo de Gran Turismo, também foi apresentadora do famoso programa britânico “Top Gear”.

No entanto, a ilustre carreira e vida de Sabine Schmitz não se resume a isto.

Quem foi Sabine Schmitz: como tudo começou

Sabine Schmitz nasceu a 14 de Maio de 1969 em Adenau, na Alemanha. Cresceu, com as irmãs, no Hotel am Tiergarten, em Nürburg, na terra da famosa pista de Nürburgring e decidiu, com apenas com 13 anos, que queria ser piloto.

Apesar de no seu percurso académico ter enveredado pela hotelaria, a partir de 1990 começou a participar em corridas amadoras de automobilismo, juntamente com as suas irmãs. No entanto, apenas Sabine conseguiu dar o “salto” para as provas “profissionais”.

A pista de Nürburgring

Conhecida como o “inferno verde”, a pista de Nürburgring foi estreada em 1927 e começou a ser usada pela Fórmula 1 a partir da década 60. A sua alcunha deve-se aos seus cerca de 22 km (embora até 1971 tivesse 28 km), às suas 73 curvas e por parte do traçado ser percorrido pelo meio da floresta das montanhas Eifel.

Enquanto para muitos era um desafio, para Sabine, que tinha crescido perto, era apenas mais pedaço do caminho que percorria no dia-a-dia. Assim, Sabine completou o traçado pela primeira vez com 17 anos e ainda sem carta, utilizando o carro da mãe.

Como explicou o filho da piloto, Beat Schmitz, ao NY Times,

Os outros punham os pneus de corrida, tiravam as licenças e faziam o percurso. A minha mãe conduzia o mesmo carro que levava para o cabeleireiro ou para a mercearia.

Consagração em Nürburgring

Contratada pela BMW, foi precisamente em Nürburgring que Sabine colocou o nome na história. Em 1996 e 1997, ao serviço da BMW e conduzido o modelo M3, juntamente com o veterano piloto local Johannes Scheid, conquistou as 24 horas de Nürburgring.

Assim, tornou-se a primeira e única mulher a “derrotar” a pista e os seus rivais e também a primeira piloto a conquistar uma prova de 24 horas de automobilismo.

Sabine Schmitz tentaria mais tarde, em finais da década de 2000, repetir a façanha, mas apenas conseguiu o terceiro lugar, em 2008, ao serviço de um Porsche 997.

No entanto, ainda em 1998, venceu o campeonato de VLN (VLN Endurance Racing Championship Nürburgring), uma prova constituída por nove etapas diferentes, todas de resistência, cujo trajeto é, precisamente, a pista de Nürburgring.

Na década de 2000, a sua carreira enquanto piloto profissional estagnou e preferiu dedicar-se a um restaurante/bar que tinha em Nürburg. Foi também nesse momento que a sua carreira televisiva começou a despontar.

Sabine Schmitz e a sua carreira televisiva

Tendo ganho fama também graças aos seus táxis de pista BMW 5 no percurso de Nürburgring, onde pilotava turistas pelo “inferno-verde”, conheceu outra alcunha “a taxista mais rápida de sempre”.

Em 2002, apareceu primeiro no programa da BBC “Jeremy Clarkson: Meets the Neighbours”, onde ele pilotou Clarkson no táxi de pista.

No total, segundo as contas da mesma, ela percorreu o trilho 20.000 vezes até cessar atividade em 2011, dando um média de 1.200 voltas por ano e mais de três por dia.

Top Gear

Posteriormente, em 2004, apareceu no programa britânico Top Gear, na temporada 5 e no episódio 5, mostrando ao mundo que era possível fazer os 22 km de Nürburgring em menos de 10 minutos, conseguindo percorrer o percurso com um Jaguar S-Type em 9 minutos e 12 segundos.

Sob a tutela de Sabine, o apresentador Jeremy Clarkson gabara-se, antes, de ter conseguido fazê-lo em 9 minutos e 59 segundos.

Na temporada seguinte, a piloto tentou repetir a proeza numa Ford Transit.

A partir de 2006, tornou-se co-apresentadora do programa alemão D Motor, onde fazia os mais diversos tipos de desafios. Por exemplo, competiu com um Ferrari 360, um Truck de corrida e um carro normal contra um sidecar.

No entanto, começou a aparecer mais frequentemente no Top Gear. Assim, em 2015, o jornal britânico The Guardian fez uma sátira onde dizia que a única forma de o programa morrer com “graciosidade”, após a saída de de Jeremy Clarkson seria introduzindo Sabine Schmitz como sua substituta. E em 2016, foi precisamente isso que aconteceu.

No entanto, em 2017 foi-lhe diagnosticado um cancro e eventualmente começou a aparecer menos na televisão. Apesar disso, não desistiu e em 2020 juntou mais um “troféu” à sua lista, tornando-se a primeira mulher a competir numa prova de Fórmula 3.

Ao fim de pouco mais de três anos de luta, Sabine Schmitz não resistiu e faleceu com 51 anos. Apesar da curta vida, a sua história é eterna.

Portanto, foi sem surpresas que marcas como a Porsche e a BMW, ou até a própria pista de Nürburgring, prestaram uma última homenagem à rainha do “inferno do norte”, a “taxista mais rápida da história” e uma das mais famosas e consagradas pilotos da história do automobilismo.

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