Miguel Pinto
Miguel Pinto
18 Set, 2025 - 13:00

Semmering: um dos comboios mais belos da Europa custa… 15 euros

Miguel Pinto

Marque na agenda uma viagem na linha de comboio Semmering, património mundial e com paisagens incríveis. E o preço é de saldo.

comboio de Semmering

O comboio de Semmering, algures entre Viena e Graz, não é um transporte banal. É um pedaço de história a deslizar nos carris, uma herança de engenheiros visionários que no século XIX decidiram enfrentar os Alpes com ferro e fogo. E conseguiram.

Aliás, não é preciso ser um apaixonado por comboios para ficar rendido. Basta sentar-se junto à janela, deixar a locomotiva arrancar suavemente e esperar que a paisagem faça o resto.

O mais curioso é que esta proeza da engenharia, construída entre 1848 e 1854, continua viva e funcional, transportando passageiros todos os dias como se nada fosse. Só que não é “nada”.

Trata-se de uma viagem que convoca os sentidos e que deixa marcas perenes em quem percorre aqueles carris. Conheça melhor o Semmering

Semmering: viagem de sonho a preço de saldo

É um percurso de 41 quilómetros, serpenteando encostas, mergulhando em 14 túneis e atravessando 16 viadutos que parecem ter sido desenhados para um postal antigo.

A cada curva, o olhar tropeça num vale verdejante, numa aldeia suspensa ou numa sucessão de cumes que, francamente, parecem demasiado perfeitos para serem reais.

E tudo isto por uns meros 15 euros. O preço de um jantar rápido numa cidade europeia dá para embarcar numa das viagens ferroviárias mais bonitas do continente.

É quase irónico. Num mundo onde as experiências autênticas são vendidas a peso de ouro, aqui temos uma joia escondida, acessível, democrática até.

viaduto ferroviário em semmering

Viagem hipnótica

Ao longo do caminho, há um detalhe que se repete. Os passageiros não resistem a encostar o rosto ao vidro, como crianças curiosas, tentando absorver o máximo possível daquele teatro natural.

E quem viaja já não pensa apenas no destino, pensa no próprio ato de viajar. A sensação de deslizar suavemente pela montanha, ao som compassado do comboio, é hipnótica. Há quem diga que lembra um coração a bater, um compasso tranquilo que nos devolve uma cadência interior esquecida.

Mas convém não idealizar em excesso. Os bancos são simples, o serviço é funcional, sem luxos. O encanto não está dentro, está fora. É nas encostas forradas de pinheiros, nos prados alpinos, na sensação de atravessar pontes suspensas sobre abismos.

E há sempre aquele momento em que o comboio emerge de um túnel e de repente o sol explode pela janela, quase um efeito cinematográfico, daqueles que nos obrigam a soltar um “uau” baixinho, mesmo que não haja ninguém a ouvir.

Semmering: património do mundo

Além da beleza, há o peso da história. O caminho-de-ferro de Semmering foi o primeiro do mundo a ser construído para atravessar montanhas de verdade, e por isso mesmo entrou para o património da UNESCO em 1998.

Não é apenas uma linha, é um marco de inovação, uma espécie de testemunho do atrevimento humano. Imagino os trabalhadores da época, sem máquinas modernas, a abrir túneis à picareta, a erguer viadutos em pedra, enquanto o frio alpino lhes mordia as mãos.

Hoje, quando passamos por essas mesmas estruturas, há quase um respeito instintivo, uma gratidão silenciosa.

comboio semmering com neve

Partida de Viena

Quem parte de Viena pode apanhar o comboio regional sem grande planeamento, o que torna a aventura ainda mais espontânea.

Uma manhã soalheira, um café rápido na estação, e pouco depois estamos a serpentear pelos Alpes austríacos. A viagem até Gloggnitz ou Mürzzuschlag é curta, mas intensa e quem quiser pode continuar até Graz, prolongando a experiência.

No entanto, há algo que é essencial: não encarar o percurso como mera ligação de A a B. É um convite para abrandar, para olhar. Talvez até para conversar com o vizinho de banco, como acontecia antes de os telemóveis colonizarem todas as pausas.

Há algo de romântico em partilhar um silêncio cúmplice enquanto o comboio atravessa um viaduto suspenso sobre um vale verdejante.

Curiosamente, esta linha inspirou outros projetos ferroviários no mundo inteiro, abrindo caminho para que os Alpes deixassem de ser um obstáculo e se tornassem uma atração.

E, se pensarmos bem, é quase simbólico: uma máquina de ferro a domesticar a montanha, mas ao mesmo tempo a exaltá-la, a transformá-la num espetáculo acessível a todos.

Ao chegar ao destino, há sempre um dilema. Descer e explorar a vila alpina que nos espera ou, simplesmente, fazer o caminho inverso e voltar a repetir a viagem, como quem rebobina um filme favorito.

Talvez a segunda opção. Porque, sejamos honestos, há comboios que são meros meios de transporte. E há outros, raros, que se tornam memórias. O de Semmering pertence à segunda categoria.

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