Luana Freire
Luana Freire
18 Jul, 2017 - 13:18

Universidade da Beira Interior atrai pessoas e projetos para o interior

Luana Freire

A Universidade da Beira Interior é uma das 150 melhores universidades do mundo com menos de 50 anos e está a movimentar o interior de Portugal.

Universidade da Beira Interior atrai pessoas e projetos para o interior

Há quase 50 anos, a Covilhã conheceu de perto a crise financeira e viu fechar as pequenas, médias e grandes fábricas de lanifício – setor que lhe valeu o apelido de “Manchester portuguesa”. As consequências foram claramente desastrosas, mas serviram de mote para o nascimento da instituição que hoje é a Universidade da Beira Interior (UBI) – o verdadeiro motor que impulsiona a realidade económica e demográfica da região.

Hoje, é esta instituição que atrai pessoas e projetos para o interior do país, transformando o pequeno ponto do mapa português num íman que leva negócios e pessoas a terras ainda pouco – ou nada – urbanas.

Uma das melhores universidades do mundo está na Covilhã

A Universidade da Beira Interior emerge como uma das 150 melhores universidades do mundo com menos de 50 anos – e a palavra final foi dada através do prestigiado ranking Times Higher Education University, em 2016.

Para Paulo Vargas Moniz, vice-reitor da UBI, o segredo que explica o sucesso baseia-se, sobretudo, na sua “estrutura inovadora de ensino superior”. “Ser jovem também pode significar ser mais leve”, lembra o responsável, destacando que a escola está aberta às novidades – e isso marca a diferença.

“A coordenação e a concertação internas são mais fáceis de atingir quando não tem de se enfrentar obstáculos ou hesitações renitentes. E estamos muito mais recetivos a testar ideias novas, temos muitos docentes jovens e em funções de direção, o que permite que coliderem estando sempre atentos ao que é novo”, destacou Paulo.

O resultado da visão progressista da universidade reflete-se, hoje, num facto simples de comprovar: a UBI transformou a dinâmica socioeconómica da Covilhã, tornando-se numa grande e importante incubadora de propostas direcionadas à investigação – em especial, nas áreas do digital, setor que tem atraído pessoas, projetos e empresas para todos os municípios da Cova da Beira.

OutSystems instalada em Proença-a-Nova

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Para pensar no poder atrativo da UBI, basta lembrar que a OutSystems cresceu através, também, da parceria com a instituição. A multinacional portuguesa, que trabalha no desenvolvimento de software, está instalada em Proença-a-Nova e, em 2016 – depois de assinar um protocolo com a UBI -, contabilizou mais de 100 milhões em vendas. Outro caso famoso e de grande proporções foi protagonizado pela PT – agora Altice – que, em 2013, instalou o seu Data Center na região da Covilhã e apostou no compromisso de criar 1400 novos postos de trabalho.

Para o vice-reitor da UBI, as empresas instalam-se na região “precisamente porque têm conhecimento do trabalho de investigação, têm interesse nele e sobretudo nos alunos” da universidade.

“Os alunos são fundamentais, até porque são eles que vão criar e que vão bater código. Há um hábito do departamento em trazer alunos para o laboratório logo no primeiro ano, para ganharem gosto pela investigação. E essa aposta nos alunos e na estrutura de investigação que criámos é um aspeto realçado nas análises feitas à UBI”, tal como aconteceu com a experiência recente da TIME, há menos de um ano, explica Luís Alexandre, docente no departamento de informática da instituição.

UBI: fonte de atração para o interior de Portugal

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Quando o Governo português apostou na investigação científica no interior do país, investindo em projetos para impulsionar as universidades, havia uma ideia muito específica que era preciso colocar em prática: criar polos de desenvolvimento, fixar as pessoas na região e levar mão-de-obra qualificada para as zonas em questão.

Esta era, basicamente, uma forma de fomentar a inovação e transformar as regiões mais escondidas – e esquecidas – do país. É isso que está a acontecer. No âmbito regional, já há mostras de desenvolvimento – que comprovam a procura. A criação da Rede Intermunicipal de Bibliotecas Beiras e Serra da Estrela serve de exemplo.

Alto índice de empregabilidade

Dos 500 alunos que anualmente se inscrevem em cursos relacionados com a transformação digital na universidade, há muitos que ficam na mira das empresas – que já perceberam as necessidades e urgências do mercado de trabalho, passando a apostar, sobretudo, na mão-de-obra qualificada e jovem.

Isso é resultado das muitas parcerias de sucesso da UBI. Entre 2013 e 2015, por exemplo, a UBI resolveu dar destaque às parcerias e passou a publicar na página web todos os logótipos das empresas envolvidas em projetos da instituição. Entre as colaborações de relevo, têm especial destaque as parcerias com a EFACEC – multinacional com selo português que trabalha no desenvolvimento de produtos de energia, mobilidade e sistemas – e a Edisoft – portuguesa que desenvolve sistemas de tecnologia aerospacial e de defesa. Foi, aliás, pelas mãos da UBI, que foi criado o sistema informático que atua para controlar o metro do Porto.

Mais crescimento à vista

À espera de respostas ao pedido de financiamento para um projeto avaliado em 12 milhões de euros estão as universidades da Beira Interior, do Porto e de Trás-os-Montes e Alto Douro, e ainda a fábrica da Peugeot-Citröen (PSA), instalada em Mangualde, em conjunto com mais outras quatro empresas de processamento de imagem e robótica.

“Com a PSA queremos modernizar e melhorar o tecido produtivo, os equipamentos e processos da fábrica (…) as universidades fazem a investigação e as empresas constroem os protótipos”, conta o professor Luís Alexandre, fazendo referência à sinergia que é financiada com fundos do programa Portugal 2020 – da Comissão Europeia para o desenvolvimento económico, social e territorial do país.

Investigação científica é a aposta para o desenvolvimento da região

Vargas Moniz destaca que a UBI tem elevado o seu nome através dos muitos projetos de investigação científica realizados em variadas áreas – inseridos em setores diversos, desde as telecomunicações à saúde, dos têxteis ao ambiente.

Para Vargas Moniz, o sucesso da universidade conta com uma ajuda diferenciada – afinal, o protocolo de mecenato assinado com o banco Santander atribui 200 mil euros, anualmente, para bolsas de incentivo a doutoramentos e a pós-doutoramentos.

“Um investimento de quase um milhão de euros em cinco anos, que nos permitiu continuar a ter bolseiros e investigadores, apesar dos cortes orçamentais no ensino superior, registados no passado recente”, revela o vice-reitor, acrescentando ainda que o crescimento da UBI está para continuar e, graças a isso, também a região mantém o desenvolvimento geral, aumentando o seu volume de negócios, a sua capacidade de responder ao mercado e, claro, crescendo também nos número referentes à demografia.

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