Share the post "UP: estudantes dão explicações gratuitas a crianças carenciadas"
O Já T’Explico é um projeto criado de jovens para jovens, onde estudantes da Universidade do Porto dão aulas inteiramente gratuitas a crianças carenciadas da região.
O apoio educativo é destinado a jovens entre os 10 e os 17 anos, que estejam a frequentar os anos de escolaridade compreendidos entre o 5.º e o 9.º anos. O objetivo é ajudar alunos que tenham de lidar com dificuldades financeiras ou qualquer tipo de carência de apoio familiar. Em 2015, ano de arranque da iniciativa, apenas duas crianças não atingiram o objetivo e reprovaram de ano.
“Percebemos que havia muita desigualdade em termos educacionais. Uma criança de uma família que não tem condições boas não tem as mesmas oportunidades, não é estimulada da mesma forma. Achamos injusto e que devia haver um espaço em que conseguíssemos pôr os mais pequenos a pensar em grande”, descreve Mariana Bernardo, presidente do programa Já T’Explico.
“Além de nos preocuparmos com as notas, procuramos desenvolver na criança a ambição por dizer ‘eu consigo’”, salienta a responsável, que também oferece aulas de ciências, português e matemática.
O projeto e os “professores”
Com dois anos de atividade, o projeto já conta com 137 alunos da UP – todos voluntários. Os jovens professores que assistem às crianças carenciadas tem idades próximas dos 20 anos e frequentam cursos como engenharia, psicologia, economia e letras.
No ano letivo corrente, 27 alunos foram encaminhados para o Já T’Explico – por juntas de freguesia, associações ou escolas, mas, também por pais que começam a passar a palavra e contam que já existe uma forma de ter sessões de explicação e não pagar nada por isso. Muitas das crianças têm de lidar com difíceis realidades culturais e socioeconómicas, sendo algumas delas institucionalizadas.
Onde decorrem as aulas?
Há três polos de explicações e a possibilidade de alargamento depende de “existir a certeza de que não fica prejudicado o trabalho direto com a criança”, garante Mariana. O objetivo central é assegurar um dos traços diferenciadores do projeto, que é manter uma relação humana e oferecer ajuda personalizada a cada criança.
Os pólos onde acontecem as aulas gratuitas são a escola primária da Lomba no Bonfim, a Casa das Associações Juvenis do Distrito do Porto e o Fórum da Juventude e Cidadania de Vila Nova de Gaia.
Os universitários aprendem com a troca
“Há crianças mais tímidas, mais rebeldes, com mais dificuldades a uma área, crianças mais recetivas a receber ajuda que outras. Temos de aceitar que o ‘background’ da criança não é o mais feliz e, sobretudo, não é o que ela merece. Então tentamos fazer com que o estudo seja um momento de felicidade e que a criança goste de estar connosco”, descreve a presidente Mariana Bernardo, ilustrando que há, também, uma adaptação dos universitários às diferentes realidades das crianças carenciadas que passam pelo projeto.
Catarina Moreira, uma das universitárias voluntárias, descreve a experiência como uma oportunidade de “aprendizagem mútua”: “Eu aprendo com os miúdos e os miúdos comigo”.
Para quem está do lado contrário da mesa, a iniciativa dos universitários é uma lufada de ar fresco e, sobretudo, uma janela que oferece novas perspetivas sobre a escola. Joana Guimarães, de 14 anos, é uma das alunas do projeto e estudou com os universitários da UP para os exames nacionais do 9.º ano. Aluna da Alexandre Herculano, Joana tomou conhecimento do projeto através da Associação de Famílias Numerosas.
A jovem carenciada que integra o projeto, contou à agência Lusa que “antes tinha mais negativas do que agora”, acrescentando ainda que “sente mais proximidade” com o explicador voluntário do que com o próprio professor da escola.
Projeto dá descontos em lojas aderentes e oferece atividades extracurriculares
Os professores voluntários criaram o cartão “JTE”, que proporciona descontos em lojas aos aderentes e pode ser adquirido por 14 euros/ano ou por dois euros/mês. A receita é revertida para a manutenção de atividades do Já T’Explico.
O projeto promove ainda a atividade “Speed Futuring”, ou, em bom português, encontros rápidos entre alunos universitários, aprendizes e profissionais de ensino. A iniciativa visa promover, ainda mais, a troca de experiência entre os diferentes agentes deste contexto.
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