Catarina Milheiro
Catarina Milheiro
21 Dez, 2023 - 11:09

Está viciado em notificações? Conheça a reação do nosso cérebro

Catarina Milheiro

Estar viciado em notificações é o novo vício do século XXI e acarreta perigos para a sua saúde e bem-estar. Entenda o que está em causa.

Não temos dúvidas de que os gostos, as notificações e os sons inerentes a cada uma das redes sociais nos causam algum prazer. Por outro lado, acabam por afetar o controlo dos nossos impulsos. Por isso mesmo, estar viciado em notificações e sentir dependência digital pode constituir um perigo grave para a saúde.

Se refletirmos bem sobre o assunto, rapidamente nos apercebemos da mecânica das notificações no nosso cérebro. Afinal, quando surge uma nova notificação o estímulo associado de forma imediata é o facto de olharmos instintivamente para o telemóvel.

E isto acontece porque os ícones e os sons das notificações atuam como estímulos condicionados. Ou seja, induzem em nós sentimentos relacionados com uma interação que produz um género de uma “recompensa” para os nossos cérebros.

Para além disto, saiba que esta “recompensa” se transforma em dopamina – um neurotransmissor que desempenha uma papel crucial no nosso comportamento. No fundo, é ativado quando comemos algo agradável ou sentimos algo satisfatório (sensação muito conhecida e relacionada com o uso de drogas, por exemplo).

Ora, todos estes aspetos podem resultar num vício autêntico, capaz de prejudicar a nossa saúde e podendo provocar depressão, ansiedade, dependência, transtornos de esgotamento e até burnout.

Ficar viciado em notificações é uma das novas adições mais perigosas

Tal como o cigarro, que nos faz ficar dependentes e condicionados a alguns estímulos, também é possível sentir-se viciado em notificações. Afinal, estar constantemente a verificar os gostos, o feed das redes sociais e as notificações em geral, tornaram-se hábitos comuns para muitas pessoas.

A verdade é que apenas o simples som de uma notificação pode suscitar em nós uma sensação boa. Ao mesmo tempo, a sensação pode afetar os nossos impulsos, tornando-se num vício como as drogas, o álcool ou o tabaco.

Podemos afirmar que o prazer e a satisfação de todos os vícios são sensações bastante semelhantes.

De que forma reage o cérebro às notificações?

Os avanços tecnológicos têm vindo a fazer com que a dependência digital aumente cada vez mais. Tal acontece porque o mundo digital se tornou numa fonte inesgotável de estímulos rápidos, capaz de nos fornecer pequenas doses de alívio face à vida real.

No fundo, vamos à procura desses estímulos acelerados que geram em nós algum prazer e nos fazem colocar de lado pequenas sensações menos prazerosas.

Por isso, podemos até nem nos aperceber, mas quando recebemos uma mensagem de alguém que gostamos ou um elogia inesperado numa fotografia, começa a decorrer um neurotransmissor no nosso cérebro: a dopamina.

O que acontece é o facto de esta se deslocar até à parte central do cérebro e ao ser libertada, causa de imediato sensações prazerosas em nós. Contudo, a dopamina também acaba por inibir as funções da parte da frente do cérebro que é responsável pelo controlo dos impulsos, tomada de decisões e pela moderação do comportamento.

Tudo isto pode afetar o controlo do uso do telemóvel e causar impulsividade – tornando-o num autêntico vício que nos prejudicará em vários aspetos, sendo um deles a concentração.

Viciado em notificações? 4 conselhos úteis para controlar este hábito

Acabou de ler o artigo e não sabe até que ponto pode ou não estar viciado em notificações? O importante é manter a calma e começar por reconhecer que este pode realmente ser um problema é o primeiro passo para o resolver.

Depois, se o objetivo for efetivamente tentar desligar-se da dependência, existem alguns comportamentos que pode e deve adotar.

1.

Estabeleça limites entre a vida pessoal e o trabalho

Se tem dificuldades em controlar os estímulos associados às notificações do telemóvel, o melhor mesmo passa por optar por utilizar um telemóvel somente para questões relacionadas com o trabalho e outro para uso pessoal.

Ou seja, opte por concentrar tudo o que esteja associado ao trabalho num telemóvel onde não existam as mesmas distrações do seu pessoal.

Desta forma, poderá responder a chamadas, mensagens ou e-mails de trabalho sem ter que se distrair constantemente com as notificações das redes sociais.

2.

Silencie algumas aplicações

Algumas aplicações possuem funcionalidades que o permitem silenciar as notificações durante o tempo que pretender. Por exemplo: no Whatsapp ou no Messenger, consegue facilmente silenciar as conversas de forma que as notificações nem apareçam no ecrã.

Este tipo de atitude pode ajudar bastante, principalmente se sente que já está numa fase que até no trabalho verifica vezes sem conta o seu telemóvel. O ideal é silenciar tudo e determinar momentos do dia para se conectar com o mundo digital.

3.

Procure manter o equilíbrio

Se a sua profissão exige estar constantemente no telemóvel, deve estar atento à relação que vai criando com o aparelho, assim como o tempo de utilização.

Atualmente, há smartphones que já nos permitem monitorizar o tempo de ecrã, inclusivamente em cada aplicação. Por isso já sabe, se esta é a sua situação, fique atento e estabeleça limites sempre que necessário.

4.

Estabeleça momentos sem o telemóvel

Ficar longe do telemóvel pode ser difícil para muitas pessoas, principalmente para as que se sentem totalmente viciadas. No entanto, se o objetivo for combater este vício, é importante que estabeleça períodos onde o telemóvel não esteja de todo presente.

Por exemplo: se tomar um café com os seus amigos, coloque o telemóvel em silêncio, sem vibração e desligue a internet por umas horas. O mesmo serve para os momentos em família e refeições.

É possível combater este vício, tal como qualquer outro. Tudo depende da sua força de vontade e das atitudes que vai adotando para alterar a sua situação.

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