Márcio Matos
Márcio Matos
20 Mai, 2019 - 10:20

Viagem às profundezas de Aljustrel: das minas ao cante alentejano

Márcio Matos

Viajar até às profundezas de Aljustrel é ficar a conhecer a sua atividade mineira, mas também o seu passado romano e a estórias dos locais. Não perca.

Viagem às profundezas de Aljustrel: das minas ao cante alentejano

Aljustrel está intrinsecamente ligada à atividade mineira. Porém, há muito mais da sua história para descobrir. A ocupação romana, a paisagem única e todo o património industrial e arqueológico merecem uma visita guiada à vila, onde o cante alentejano vem do subsolo das minas.

Se a atual exploração, ainda em funcionamento, não é visitável, há muito para descobrir a céu aberto e muitos núcleos expositivos para ficar a conhecer e que provam que Portugal não é feito só das grandes cidades e centros urbanos. A 165 km de Lisboa e a 434 km do Porto, não há por que não ficar a conhecer esta vila no Alentejo cheia de história e estórias.

Viagem no tempo em Aljustrel: um roteiro da região

aljustrel

Aljustrel começou por se chamar Vipasca, ainda durante a ocupação romana, tendo funcionado à época como um dos principais centros de exploração de minério no sudoeste peninsular. Do século III ao século XIX, o subsolo não foi tocado, tendo a atividade mineira sido recuperada com a Revolução Industrial que para lá levou os mineiros até à atualidade, apenas com uma paragem de 15 anos (entre 1993 e 2008).

O futuro Parque Mineiro

Contudo, a rentabilidade económica desta atividade não é segura e as perspetivas não são satisfatórias, por isso, o turismo surgiu como forma de atrair capital para a região. Fruto deste passado e do presente que se continua a construir, a vila de Aljustrel possui um espólio industrial e arqueológico raro e valioso.

O objetivo é o de criar um Parque Mineiro, com percursos pedestres e descidas a uma galeria subterrânea. Contudo, para já, o que é possível fazer são mesmo visitas guiadas, gratuitas e marcadas no posto de turismo local.

Visitas guiadas

As visitas dão a conhecer um pouco de tudo, não só das minas, como da própria vila de Aljustrel. No que toca ao património dito material, poderá ficar a conhecer os malacates (elevadores), as chaminés e as locomotivas. Já no que respeita ao imaterial (estórias, hábitos e costumes), prepare-se para visitar os locais mais emblemáticos da localidade, como os bairros mineiros, as tascas ou o sindicato dos mineiros. Com sorte, pode ainda ouvir um pouco de Cante Alentejano pelas vozes do Grupo Coral dos Mineiros de Aljustrel.

Outros pontos de interesse

1. Museu Municipal

Nada melhor do que visitar o Museu Municipal de uma localidade para ficar a saber mais sobre ela. O Museu de Aljustrel fica na zona antiga da vila, próximo da Igreja Matriz. O espaço possui vários núcleos expositivos (Pré-história, Geologia, Mineração, Vida Quotidiana e Morte e Religião) e é, sobretudo, composto por amostras geológicas e peças arqueológicas (do Paleolítico à Idade Média) encontradas no concelho, como machados de pedra polida, representações de animais ou jóias da Idade do Ferro.

A presença romana também não foi esquecida e, por isso, há uma sala inteiramente dedicada a ela. Aí, exibem-se as réplicas das tábuas de bronze de Aljustrel (únicas em todo o mundo), onde estão inscritas as leis de exploração do cobre e da prata impostas pelo Imperador.

Mais informações, aqui.

2. Miradouro de Nossa Senhora do Castelo

Aljustrel é também paisagem e essa pode ser vista panoramicamente a partir deste miradouro. O escuro das minas contrasta com o branco do casario, num cenário encantador e poderoso. Aí perto existe também uma ermida que atesta a fé destas gentes trabalhadoras e de vida nada fácil. Nessa zona, encontra-se uma rocha que, segundo a lenda, impede que o mar que corre debaixo da vila a inunde.

3. Antiga Central de Compressores

Este núcleo de arqueologia industrial fica na mina de Algares, a qual servia para transformar a energia utilizada no interior das minas. Junto, pode ainda observar uma espécie de monte composto por minério maciço oxidado, dentro do qual se descobriu, recentemente, um poço romano.

4. Malacate Vipasca

Este nome, talvez desconhecido para muitos, refere-se a um elevador de ferro, antigamente utilizado para transportar os mineiros até ao interior da terra. Perto, existe um outro, o Malacate Viana, ambos “abandonados” no tempo e no espaço, por entre as escombreiras (restos acumulados de minério).

5. Chaminé Transtagana

Aljustrel

Esta chaminé, que aproveitava os gases libertados pela queima da pirite, fica junto à “Casa do Procurador”, outra marca da presença romana em Aljustrel. Mais tarde, por motivos de segurança, essa queima passou a ser feita no Monte das Pedras Brancas, o qual também merece uma visita, embora fica a cerca de 10 km da vila de Aljustrel.

Para mais informações, consulte o site da Câmara Municipal ou entre em contacto pelo 284 601 010.

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