Assunção Duarte
Assunção Duarte
15 Out, 2020 - 11:37

Stayaway Covid: como funciona a app de rastreio da COVID-19

Assunção Duarte

Portugal aposta na Stayaway Covid entre as apps para rastreio da COVID-19. A ideia é monitorizar digitalmente a população sem partilhar dados pessoais.

Mulher a consultar apps para a COVID-19

Apps para rastreio da COVID-19, como a Stayaway Covid, estão a surgir um pouco por todo o mundo. Desde aplicações meramente informativas sobre a doença e sobre os cuidados a ter para se proteger, até às aplicações que têm por objectivo monitorizar e ajudar a controlar digitalmente a pandemia.

As aplicações de monitorização das populações são as que levantam mais polémica e por isso têm estado a ser abordadas pelos diferentes países de acordo com as preocupações e legislações locais de segurança e proteção de dados.  Dentro da União Europeia a maioria dos governos está a avançar de forma cautelosa e Portugal não é exceção.

Neste contexto, surgiu a Stayaway Covid, uma aplicação móvel desenvolvida com a coordenação do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência (INESC TEC), cuja disponibilização está prevista para o final do mês de Junho.

Apps para rastreio da COVID-19: STAYAWAY COVID

Telemóvel com apps apara a COVID-19

Telemóvel alerta utilizador

Quando instalada no telemóvel de um utilizador diagnosticado com a COVID-19, a aplicação vai alertar os utilizadores que durante o dia tenham estado na sua proximidade numa exposição de risco. Os parâmetros utilizados para definir essa exposição são o ter estado a menos de 2 metros de distância desse utilizador e durante um período de tempo não inferior a 15 minutos. 

O objectivo destas apps para rastreio da COVID-19 é que o utilizador que recebeu o alerta fique atento ao seu estado de saúde e a possíveis sintomas que possa vir a ter. Mesmo assintomático, ele pode contactar o SNS, especialmente se fizer parte de um grupo de risco ou interagir com pessoas desse grupo. 

A aplicação é de adesão voluntária e toda a comunicação que ocorre entre os utilizadores da mesma é feita sem nunca ser revelada a sua identidade. Como? Através da criação de códigos aleatórios de identificação.

Como funciona a Stayaway Covid?

Uma vez instalada, a aplicação gera aleatoriamente um código de identificação de dispositivo próprio que fica armazenado localmente. Esse código é partilhado entre todos os telemóveis que tenham a app instalada sempre que se aproximam geograficamente uns dos outros.

Cada dispositivo envia automaticamente o seu código via bluetooth e armazena o código recebido, sem gravar qualquer informação de contexto que possa identificar os donos dos dispositivos, como por exemplo a geolocalização do local ou a hora em que ocorreu o contacto. O sistema foi optimizado para que este envio de mensagens automáticas não afecte a performance das baterias e do consumo de dados.

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Integrada nos serviços de saúde

Quando um utilizador desta app é diagnosticado por um serviço de saúde como positivo para a COVID-19, é-lhe pedida permissão para que o código do seu telemóvel seja sinalizado e partilhado no servidor da aplicação. Juntamente com este código, o telemóvel vai partilhar os códigos que armazenou nos últimos 14 dias. São provenientes da troca de mensagens bluetooth com outros dispositivos utilizadores da Stayaway Covid.

Periodicamente, a aplicação de cada utilizador vai descarregar do servidor esses códigos e vai cruzá-los com os códigos recebidos de outros dispositivos nos últimos 14 dias. Havendo coincidência e potencial de contágio, o utilizador é alertado pela aplicação.

Para os criadores da Stayaway Covid, este sistema acaba por replicar de forma mais rápida o que o SNS já faz para seguir as cadeias de transmissão: perguntar aos casos diagnosticados com o vírus com quem estiveram em contacto nos últimos 14 dias para os informar da necessidade de ficarem de prevenção ou em isolamento. 

Apps para rastreio da COVID-19: acautelar o que pode falhar 

mulher com máscara e telemóvel

Servidor local garante proteção de dados

O INESC TED afirma que será extremamente difícil um utilizador da aplicação ser identificado. O sistema foi preparado para ser descentralizado, cada telemóvel regista apenas os seus contactos, de forma a que terceiros não possam aceder ao total da informação. 

Mas, como todas as aplicações digitais, o sistema pode estar sujeito a possíveis ataques maliciosos e ilegítimos por parte de piratas informáticos. O Instituto garante que tudo está a ser feito para o proteger e reforça a importância do próprio utilizador manter as práticas habituais de navegação online segura.

Como medida de proteção extra, o servidor que partilha os códigos com a aplicação vai ficar instalado em Portugal para ser operado por uma instituição oficial que obedeça às melhores práticas de segurança e privacidade europeias. O sistema estará ainda sob auditoria permanente. 

Dados destruídos após 21 dias

Quer os dados armazenados nos telemóveis quer os dados armazenados no servidor, são destruídos regularmente pela aplicação, em espaços de 21 dias no máximo. Se o utilizador desinstalar a aplicação, os dados serão imediata e totalmente apagados. Há ainda a promessa de que todo o sistema será descontinuado logo que o fim da pandemia seja declarado em Portugal.

Alertas positivos falsos não serão problemáticos

A possibilidade de haver alertas sobre contactos entre os utilizadores que têm entre si barreiras restritivas, como uma parede por exemplo, como criar frequentes “falsos positivos de exposição”. Para os responsáveis esta situação está prevista e é acautelada pela forma como o alerta é dado. 

A aplicação destas apps para rastreio da COVID-19 não vai obrigar o utilizador que está infectado a ir ao médico. Apenas que reveja o seu comportamento naquele dia, que esteja atento ao seu estado de saúde e avalie o seu contexto familiar e laboral para saber se há razão para contactar o SNS.

Os investigadores têm até esperança que haja muitos falsos positivos porque a app não serve para excluir as outras boas práticas preventivas como as barreiras sociais nos locais públicos ou o uso de máscaras.

Mesmo com poucos utilizadores pode ser útil

Apesar de estudos recentes da Deco e da Pitagórica apontarem para que mais de metade dos portugueses estejam de acordo com a utilização de apps para rastreio da COVID-19 deste género, o facto de serem de uso voluntário, correm o risco de ter poucos utilizadores. 

Apesar da sua eficácia ser mais significativa com um maior número de utilizadores ativos, para o INESC TC, mesmo com um número reduzido, estas apps para a COVID-19 são uma aplicação útil e que deve ser apenas encarada como um factor extra de proteção. Saiba mais no site oficial da app.

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