André Freitas
André Freitas
24 Abr, 2020 - 13:43

Teorias da conspiração: o que se diz por aí sobre o coronavírus

André Freitas

O número de teorias relativas ao aparecimento do novo coronavírus tem aumentado diariamente. Mas será que têm algum fundamento? Conheça-as

Mulher a usar máscara de proteção em espaço público

Em poucas semanas, o mundo mudou. Um vírus desconhecido alterou a vida de toda a população e uniu o planeta na procura de um tratamento que permita o regresso à “normalidade”. O falta de informação precisa levou a que surgissem rapidamente várias teorias da conspiração sobre o coronavírus.

Este novo coronavírus, o SARS-CoV-2, que dá origem a doença COVID-19, transformou-se numa pandemia e ameaça a saúde e economia mundiais. 

São muitas as dúvidas acerca do surgimento deste vírus, e isso deu aso a várias teorias que tentam explicar como, onde, e com que intervenientes teve início este vírus.

Sendo um vírus muito recente, a informação concreta existente é pouca, confusa, e necessita ser comprovada ou refutada.

E se algumas destas teorias parecem ter fundamento, e podem eventualmente até ser realidade, outras parecem ser simplesmente ilógicas.

Reunimos dez teorias da conspiração que tentam responder a uma das questões centrais desta pandemia e para a qual ainda não temos resposta: como é que este vírus surgiu?

10 Teorias da conspiração sobre o vírus que assombra o planeta

1. O novo Coronavírus foi criado num laboratório

engenheira estagiária no laboratório

Esta é, provavelmente, a teoria da conspiração relacionada com o novo coronavírus mais partilhada e discutida em todo o mundo, inclusive por alguns chefes de estado mais sensacionalistas.

Em Wuhan, cidade chinesa onde surgiram os primeiros casos de infetados com COVID-19, existe um laboratório de alta segurança que realiza investigações científicas nas quais são utilizados agentes patogénicos muito voláteis e perigosos.

As teorias da conspiração que afirmam que o vírus foi criado neste laboratório apresentam algumas possibilidades para o início da sua propagação.

Algumas garantem ter-se tratado de um acidente em que um cientista foi o paciente zero de forma involuntária e acabou por transmitir o vírus (também involuntariamente) a quem o rodeia.

Outras indicam que o vírus estava hospedado num animal que pertencia ao laboratório (utilizado em testes), e que foi vendido no mercado de Wuhan, tendo depois transmitido o vírus aos humanos que o consumiram.

Contudo, existem outras teorias que afirmam que o vírus foi criado propositadamente com diversas finalidades, nomeadamente a diminuição da população mundial. 

Luc Montagnier, Nobel da Medicina em 2008 por ter sido um dos primeiros médicos a identificar o vírus do HIV, afirma que o vírus foi criado em laboratório pois trata-se de uma tentativa (falhada) de vacina contra o HIV.

De outro lado, um estudo publicado na revista científica Nature prova que o genoma e estrutura molecular do vírus teve origem animal, tendo sido posteriormente transmitido para o ser humano, por um infortúnio.

A deliberação final? O vírus é muito recente e carece de estudo aprofundado. Algo que pode demorar anos.

2. O vírus foi uma consequência dos hábitos de alimentação

Pessoas a andar num wet market, em hong kong

Vídeos supostamente filmados no mercado de Wuhan, onde todo o tipo de animais, nomeadamente exóticos, eram vendidos, não estando acomodados em local próprio e não cumprindo regras básicas de higiene, circularam amplamente pelas redes sociais.

Estas imagens contribuíram fortemente para o surgimento da teoria de que o consumo de animais exóticos, a sua inadequada conservação e também manuseamento, assim como o facto de serem mal confeccionados, potenciaram a transmissão do vírus de um animal para o ser humano.

O morcego ou o pangolim são apontados como os animais que, mais provavelmente, hospedavam este vírus.

Os vídeos que deram origem a esta teoria não foram filmados no mercado de Wuhan, mas sim em Palau, país localizado na região da Micronésia, Oceano Pacífico.

Se o vírus teve origem na alimentação, tal ainda não foi comprovado ou refutado.

3. O vírus foi criado pelos Estados Unidos da América e implementado na China

A guerra económica entre Estados Unidos da América e China foi utilizada como base de uma outra teoria da conspiração.

Esta teoria, em particular, afirma que o vírus foi criado nos Estados Unidos da América e levado até à cidade chinesa de Wuhan, onde foi libertado. O objetivo?Fragilizar a economia chinesa.

Esta teoria, caso se comprovasse ser real, seria um perfeito exemplo da expressão: “o feitiço virou-se contra o feiticeiro”.

O vírus teve, efetivamente, um impacto negativo profundo na economia chinesa. Contudo, teve também um impacto negativo muito forte na economia de todos os países do mundo, sendo que a China conseguiu, até ao momento, controlar a propagação do vírus e já retoma a sua atividade, enquanto os Estados Unidos da América, por exemplo, enfrentam uma situação muito difícil.

4. O coronavírus é uma arma biológica

Algumas pessoas acreditam realmente que o coronavírus foi criado deliberadamente com o objetivo de controlar a população.

Criada pelos Estados Unidos da América ou por outro país, a finalidade seria diminuir o número de habitantes atuais, uma vez que o número de população mundial tem aumentado exponencialmente nos últimos anos e, por esse motivo, os recursos naturais tornam-se escassos e insuficientes.

Tal como todas as outras teorias da conspiração (ou não teriam esta designação), esta teoria também não foi comprovada.

5. O vírus propaga-se através da rede 5G

Smartphone para desmistificar o 5G

Uma das teorias da conspiração que tem ganho maior projeção e adeptos nos últimos tempos é aquela que liga o vírus à rede 5G.

Por incrível que pareça, há quem acredite que a COVID-19 não é uma doença infecciosa causada por um vírus, mas sim um efeito do contacto com a rede de telecomunicações 5G.

Esta teoria tem alguns adeptos bastante fervorosos e são já vários os relatos de antenas e sistemas de rede 5G vandalizados.

Algumas torres foram incendiadas, nomeadamente em Inglaterra. Alguns técnicos de empresas de telecomunicações foram também assediados.

Obviamente esta teoria perde o seu fundamento quando verificamos que o vírus se encontra espalhado por todo o mundo e a rede 5G se encontra implementada ainda em poucos locais.

6. Bill Gates e o seu envolvimento no surgimento da COVID-19

Em 2015, Bill Gates participou numa sessão onde falou da possibilidade de, num futuro próximo, a população mundial ter de vir a lidar com uma pandemia tão ou mais grave ainda que a gripe espanhola de 1918.

Estas declarações são agora utilizadas como prova da teoria que afirma que Bill Gates esteve envolvido no plano de criação do novo coronavírus.

E o que teria Bill Gates a ganhar com a proliferação de um vírus deste género?

As respostas divergem. Algumas alegam que Gates espera lucrar com uma futura vacina. Outras que é a favor da redução da população mundial por forma a preservar os recursos naturais existentes. Por último, o facto de querer implementar um sistema de monitorização da população mundial.

Na realidade, a Fundação Bill e Melinda Gates financia vários projetos de investigação de possíveis vacinas.

7. O vírus foi criado para obtenção de ganhos por parte das grandes farmacêuticas 

Carolina: técnica farmacêutica que recorreu ao Crédito Formação Cofidis

Este vírus colocou uma enorme pressão nos sistemas de saúde de todos os países.

A criação de uma vacina é vista como a única solução para controlar efetivamente a epidemia.

Neste sentido, existe uma teoria da conspiração que afirma que o vírus foi criado pelas grandes farmacêuticas, pois estas saberiam que iriam ter imensos ganhos com uma pandemia deste género, garantiu muitos adeptos.

Contudo, não existe qualquer indício de que esta teoria possa ser verdadeira.

8. O número de infetados e mortos é muito superior ao anunciado

Esta teoria surge um pouco na sequência do desconhecimento de todos os sintomas e consequências do vírus. Assim, como dificuldades de agregação de toda a informação relacionada com número de infetados e óbitos em tempo real.

Para além disso, em alguns países, nomeadamente na China, onde a informação disponibilizada é mais controlada, os números podem facilmente ser adulterados.

Algumas pessoas acreditam que o número de infetados e de mortos é bastante superior àquele que é divulgado pelas autoridades competentes.

Com isto, surge o medo do vírus ser bastante mais mortífero do que o divulgado publicamente, e também mais difícil de controlar.

Imagens de valas comuns, cremações em massa e tentativas de repressão de algumas pessoas que divulgam e falam abertamente sobre o vírus, particularmente na China, servem como prova desta teoria. Contudo, também esta teoria não foi comprovada.

9. Existem livros que previram a pandemia atual

óculos pousados em cima de livro aberto numa biblioteca

Em 1981 foi publicado o livro “The Eyes of Darkness” (“Os Olhos das Trevas”), de Dean Koontz. Este livro fala de uma arma biológica chamada Wuhan-400.

Wuhan é precisamente o nome da cidade chinesa que está no centro da epidemia e isso levou a que a ficção parecesse bastante semelhante à realidade.

Contudo, o SARS-CoV-2, ao contrário do Wuhan-400, não é uma arma biológica, não tem uma taxa de mortalidade de 100%, e tem um período de incubação entre dois e 14 dias, e não quatro horas.

No livro “End of Days: Predictions and Prophecies about the End of the World” (“Fim dos Dias: Previsões e Profecias sobre o Fim do Mundo”), publicado em 2008 e com uma vertente mais espiritual, pode ler-se que por volta de 2020 uma doença semelhante à pneumonia iria espalhar-se globalmente, sendo que não existiria, à data, um tratamento específico para o mesmo.

Embora as coincidências sejam muitas, vale a pena realçar que estes livros são fruto de ficção.

10. Os Simpsons previram a pandemia de COVID-19

A série “Os Simpsons” dispensa apresentações. Está no ar há 31 anos e a série é também conhecida por ter “previsto” alguns acontecimentos.

Não previu efetivamente. Contudo, as similaridades entre aquilo que é retratado na série e a realidade são, por vezes, muitas.

Em 2000, no episódio “Bart to the Future” (“Bart para o Futuro”), “Os Simpsons” referem que Donald Trump havia sido Presidente dos Estados Unidos da América. Em 2017, Trump torna-se, efetivamente, Presidente dos Estados Unidos da América.

E os fãs da série acreditam que também terá previsto a pandemia do Covid-19.

Em 1993, foi emitido um episódio intitulado “Osaka Flu” (“Gripe de Osaka”) que retratava como Homer, e outras personagens, eram infetadas por um vírus vindo da Ásia, nomeadamente do Japão.

As similaridades existem. Mas não podemos dizer que “”Os Simpsons” tenham previsto a pandemia.

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