Catarina Gonçalves
Catarina Gonçalves
25 Jan, 2019 - 11:22

TAEL: como calcular a verdadeira retribuição pelo seu investimento

Catarina Gonçalves

Fica atónito com a taxa de juro do seu depósito a prazo? Pensava receber um juro maior pelos seus investimentos? Conheça a TAEL e descubra onde falham os seus cálculos.

TAEL: como calcular a verdadeira retribuição pelo seu investimento

A taxa de juro é um dos elementos mais relevantes a ter em conta quando se trata de selecionar investimentos. No entanto, a taxa de juro que surge na publicidade e nos anúncios financeiros, não corresponde à verdadeira remuneração do seu investimento. Porquê? Porque há custos, comissões e o efeito fiscal. É a TAEL, isto é, a taxa de juro anual efetiva líquida que deve calcular para conhecer o valor dos juros com que poderá contar. É também a TAEL que deve considerar na comparação de investimentos.

A TAEL e a TANB: o que as distingue?

TAEL

A TAEL permite-lhe, assim, antever o montante que o seu investimento lhe vai render. De forma simples, podemos dizer que a TAEL corresponde à TANB (taxa anual nominal bruta) deduzida das obrigações ficais (deduzida da retenção de IRS).

A TAEL não deve, assim, ser confundida com a TANB, que é a taxa que surge, em letras garrafais, nos anúncios sobre aplicações financeiras. Para diminuir enganos e não frustrar expectativas, a indicação da TAEL nos referidos anúncios passou a ser obrigatória, quando se trata de depósitos a prazo superiores a um ano. Esteja atento e procure-a!

Taxa efetiva ou taxa nominal?

A única coisa que parece haver em comum entre a TAEL e a TANB é o prazo, são ambas taxas anuais. De facto, a diferença entre efetiva e nominal advém da manutenção da mesma ao longo do período.

A taxa de juro nominal é a taxa que é fixada e não sofre variações. A taxa de juro efetiva é utilizada quando existe capitalização, isto é, quando os juros serão incorporados no capital investido (trimestral ou semestral).

Nestas situações, o valor a receber será superior ao que a taxa nominal sugere. Isto acontece porque uma taxa efetiva é, por definição, uma medida do ganho proporcionado por um depósito ou de um custo de um empréstimo, em função da percentagem do valor aplicado no depósito ou concedido no crédito, em termos anuais e inclui encargos com juros, comissões e seguros exigidos.

Taxa líquida  ou taxa bruta?

Outra distinção que pode ser feita entre taxas é se é líquida ou bruta, ou seja, se contempla ou não o efeito fiscal. Tanto a taxa anual efetiva como a taxa anual nominal líquida fornecem a mesma informação, isto é, permitem saber o valor de juros que entra na sua conta bancária, se lhes retirar o efeito fiscal, ou seja a retenção na fonte em sede IRS (28%, de acordo com o guia fiscal do IRS para 2018).

Assim, pode facilmente utilizar a TANB para calcular a TAEL, que é equivalente à TANL (taxa anual nominal líquida, deduzindo-lhe a taxa de retenção de IRS).

Prazos, regime de capitalização, fixa/variável

Além da TAEL e da TANB e respetivas variações, certamente, já se deparou com inúmeras taxas que não sabe bem para que servem. As inúmeras taxas consideradas no jargão financeiro variam em função do prazo, do regime de capitalização e podem ser fixas para determinado período ou variar ao longo do mesmo. Estas situações influenciam também o cálculo da TAEL.

Só faz sentido calcular uma taxa efetiva se existir regime de capitalização do juro, ou seja, se o juro acrescer ao capital inicialmente investido. Além disso, se a taxa de juro for variável significa que está sujeita a alterações consoante a alteração do indexante, não sendo possível conhecê-la antecipadamente.

Por isso, quando calculamos a TAEL, pressupomos que a taxa de juro se mantém constante ao longo do período do investimento. A Euribor é a principal taxa indexante nos depósitos/empréstimos com taxa variável, a 3, 6 e 12 meses.

Como calcular a TAEL?

TAEL

A TAEL é, então, calculada assumindo que a taxa de juro se mantém fixa ao longo do período a que se refere. De acordo com o Banco de Portugal representa “uma medida da taxa de remuneração anual líquida, quando existe capitalização de juros”. Se não quiser perder tempo com o lápis e o papel pode fazer uma simulação.

No caso dos depósitos, o Banco de Portugal disponibiliza um simulador em que, com poucos dados, como a taxa anual nominal bruta, o prazo e a periodicidade da capitalização, pode conhecer a sua taxa de remuneração anual.

Vamos experimentar aplicá-la?

Se gostar de fazer cálculos, não confiar em máquinas ou quiser ver para querer, pode experimentar calcular a TAEL com lápis e papel.

Imagine que aplicou 10.000€ num depósito a prazo e tem uma TANB associada de 3%. Admitindo juros simples, a TAEL seria calculada da seguinte forma: TANB X (1-taxa de retenção de IRS), ou seja, 3% X (1-28%). Supondo também a ausência de custos e comissões bancárias que se deduzem ao capital aplicado, o montante de juros com que poderia contar seria dado por: 10.000 € X (3% X (1-28%)), ou seja, 216 €.

Se existissem outros custos e comissões associados teria que os deduzir à TANB, obtendo assim a TAE. Depois para apurar a TAEL bastaria deduzir o efeito fiscal.

Fatores que influenciam as taxas de juro

A TAEL não deixa de ser uma taxa de juro, logo é influenciada por diferentes fatores como a taxa de inflação, a política monetária seguida pelo Banco Central Europeu que pode influenciar as taxas de juro alterando as taxas de juro diretoras e a procura de moeda, que quanto maior for, dirá a lei da oferta e da procura que maior será também o seu preço, ou seja, a taxa de juro.

O desconhecimento do valor real dos investimentos pode conduzir a frustração de expetativas quanto à sua rendibilidade, investimentos desajustados e mesmo a maus negócios. Esteja atento e lembre-se que é a TAEL a taxa que importa considerar na escolha e comparação de investimentos. Lembre-se ainda que para que os investimentos sejam compráveis, será necessário comprar taxas com igual período temporal.

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