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Parece um trocadilho, uma ironia, e até uma injustiça, mas é a mais pura verdade: existem coisas que, quanto menos dinheiro tiver, mais caras lhe ficam.
A realidade consterna um pouco, mas não significa que seja criada de propósito: na maior parte das vezes, são só as leis do mercado, noutras são, curiosamente, os mecanismos criados para proteger os mais desfavorecidos que acabam a ter um efeito invertido sem que se perceba bem porquê.
Trazemos-lhe, por isso, exemplo de 4 coisas que lhe ficam mais caras quanto menos dinheiro tiver no bolso para gastar.
Coisas que saem mais caras a quem tem menos dinheiro
1. Os serviços bancários
Começamos pelo mais óbvio: os bancos. A forma como as instituições bancárias definem as tabelas de preços é completamente alheia à capacidade financeira dos clientes e muito focada no lucro do banco – e, por isso, acaba por se tornar profundamente injusta e irónica.
Senão, vejamos: em qualquer banco presente no mercado português que cobre comissões de manutenção das contas à ordem existe um conjunto de condições que aliviam essas taxas. Ora, essas comissões são quase sempre relacionadas com ter mais dinheiro: se superar determinado valor na sua conta; se subscrever determinado produto financeiro; se realizar movimentos bancários frequentes e elevados; as suas taxas baixam.
Ora, quem tem pouco dinheiro não anda propriamente a brincar aos magnatas nem a investir na bolsa, pelo que tem sempre movimentos pequenos nos registos e um saldo médio na conta à ordem que não é nada de especial. Conclusão: fica no fundo das tabelas de descontos e paga as comissões mais altas.
2. O ensino
Apesar de, em Portugal, o ensino ser tendencialmente gratuito até ao 12º ano, quando chega a hora de entrar na universidade, os estudantes começam a ter de abrir os cordões à bolsa. Ora, aqui há uma ligeira subversão do sistema que tem o efeito completamente contrário àquele que se pretendia quando o mecanismo foi criado: falamos das bolsas de estudo.
As bolsas de estudo foram criadas para ajudar os estudantes com dificuldades económicas a prosseguirem com o percurso académico sem sofrerem as consequências de terem pouco dinheiro. No entanto, e porque há muitos candidatos às mesmas bolsas, é necessário um critério de seriação – e esse critério é, na maioria das vezes, o desempenho académico.
Acontece que, dizem muitos estudos há muitos anos, é muito mais difícil para um aluno com um contexto financeiro de carência ter boas notas e bom desempenho académico do que para um aluno que venha de um contexto sócio-económico mais elevado. Isto quer dizer que, de forma genérica, o aluno que mais precisa da bolsa para continuar a estudar dificilmente será o que terá melhores notas no currículo.
Resultado: as bolsas acabam por ser atribuídas aos melhores alunos e por, inadvertidamente, deixar de fora os estudantes mais carenciados, que assim se tornam, novamente, vítimas da sua própria condição económica.
Em palavras mais simples: nem sempre a carência económica torna o ensino mais barato, e às vezes quem tem pouco dinheiro no bolso acaba por ter de arranjar forma de pagar propinas que a bolsa de estudo não conseguiu cobrir.
3. As compras do mês
Talvez nunca tenha pensado nisto, mas é uma questão de matemática (e os mais poupadinhos sabem muito bem como ela funciona): em praticamente todos os produtos que encontra nas prateleiras do supermercado, compensa comprar as embalagens maiores do que as mais pequenas.
Pode fazer o exercício com qualquer produto: comprar em grandes quantidades faz reduzir o preço unitário. No entanto, e mesmo com um preço unitário mais baixo, as embalagens familiares são sempre mais caras – ou seja, se comprar uma dose grande paga muito mais do que se comprar uma dose pequena (mesmo sabendo que, à unidade, o preço é maior).
Isto significa que comprar em grandes quantidades exige um investimento que os orçamentos mais apertados não aguentam. Resultado: quem não pode dispensar dinheiro para investir antecipadamente acaba por comprar aos poucos, em unidades, e por pagar muito mais por cada uma – que é como quem diz, o produto sai mais caro a quem tem menos dinheiro no bolso.
4. A habitação
Tudo começa com a decisão de comprar ou arrendar uma casa para viver. Claro que, sem dinheiro no bolso, comprar fica difícil: uma família não vai querer comprometer-se com um banco sem ter a certeza de que consegue cumprir com os pagamentos (nem nenhum banco lhe permite que o faça), por isso arrendar é a única opção possível.
Começa a família a pagar uma renda – que, nos dias que correm, têm valores surpreendentes -, e assim fica por muitos e longos anos. Se, décadas depois, a mesma família quiser mudar de casa, o cenário é bem diferente daquele que teria se tivesse comprado a casa em vez de arrendar: a casa em que vive não lhe vai render nada, está na estaca zero, ao contrário das famílias que compraram os imóveis, que sempre podem vendê-los e aproveitar o dinheiro que eles renderem (que, correndo bem, há de ser mais do que o que ainda devem ao banco).
Conclusão: a família que arrendou casa fê-lo por ter pouco dinheiro, e acabou a pagar muito mais do que a família que tinha dinheiro para comprar um imóvel, porque tudo o que pagou foi dado como perdido.
Viver com pouco dinheiro não é uma tarefa fácil, e estas pequenas armadilhas do dia a dia não facilitam nada o trabalho de quem conta tostões. Assim, o ideal é que, desde cedo, procure construir uma almofada financeira para si, que com o tempo lhe vai permitir ter espaço para fazer melhores negócios e pagar um pouco menos nas compras mais importantes.