Miguel Pinto
Miguel Pinto
26 Mai, 2025 - 15:07

Combustíveis de marca branca: bom ou mau para o seu carro?

Miguel Pinto

Por que se continua a não apostar em combustíveis de marca branca? Conheça a resposta e o que está em causa para a sua viatura.

fim dos motores a combustão

Os combustíveis de marca branca são, teoricamente, uma alternativa menos dispendiosa e amiga da carteira para a grande generalidade dos portugueses.

Segundo um estudo da ERSE (Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos), o típico consumidor nacional opta quase sempre por adquirir combustíveis de marcas premium, como a Galp, BP, Cepsa ou Repsol.

Uma vez que a definição de marca branca é subjetiva, para efeitos deste artigo, considerar-se-á estas cinco como marcas premium e as restantes, como, a título de exemplo, as vendidas em alguns hipermercados, serão consideradas combustíveis de marca branca.

Mas a questão que muita gente levanta é se estes combustíveis podem afetar o rendimento do carro e, a longo prazo, originar problemas mecânicos que podems er bastantes custosos. Bem, a resposta não é simples, mas há muito mitos associados a esta problemática.

Combustíveis de marca branca: que qualidade?

A única explicação lógica para o facto de a maioria dos portugueses continuara a optar pelas marcas ditas premium, é a existência de bastantes desconfianças relativamente a combustíveis de marca branca.

Há vários mitos apregoados, como o facto de serem mais prejudiciais ao motor, terem menos qualidade e, inclusivamente, que é adicionada água ao combustível. No entanto, tal como em outras situações, a maior parte desses “ditos” não têm base científica.

Primeiro, há que ter em atenção que a definição de marca branca e low-cost estão muitas vezes associadas, levantando suspeitas relativamente à primeira. No entanto, tanto uma como a outra são designações populares ou de mercado.

Na realidade, em termos técnicos, no que ao combustível diz respeito, não há diferenças em termos de produção, transporte ou carregamento.

O termo vem apenas do posicionamento de uma determinada marca e dos preços que pratica relativamente aos seus concorrentes.

Depois, há que ter em consideração que há uma entidade que supervisiona e fiscaliza os postos de combustível e a qualidade do mesmo.

Trata-se da  DGEG (Direção-Geral de Energia e Geologia), que tem por objetivo garantir que os padrões de qualidade dos combustíveis automóveis cumprem os padrões de qualidade impostos pelas normas europeias definidas para o gasóleo e para a gasolina.

Finalmente, apesar de nem toda a gasolina e gasóleo vendidos em Portugal serem refinados no mesmo local, a verdade é que a maior parte do combustível que se adquire tanto nas bombas de combustível de marca branca ou premium é refinado em Sines, numa refinaria gerida pela Petrogal, do mesmo grupo da Galp. Ou seja, a probabilidade do combustível vendido na Galp, na BP, ou no Auchan, ou no Intermarché, ser refinado no mesmo local é elevada.

Percebe-se então que em termos de combustível simples, não há diferenças entre combustível de marca branca ou premium.

A única diferença será efetivamente no combustível aditivado que, pese embora as grandes não indicarem os componentes, segundo especialistas podem trazer alguns benefícios.

É que esses compostos adicionados servem para garantir um cuidado extra em lubrificar e proteger o motor, melhorar o desempenho do mesmo e, até, diminuir a emissão de gases poluentes e os consumos de combustível.

Porém, é de forma quase unânime que vários especialistas indicam que as vantagens são residuais, sendo que, para a maioria dos consumidores, o dinheiro extra pago pelo combustível aditivado não compensa.

Aliás, ao que tudo indica, os portugueses pensam já dessa mesma maneira, uma vez que a percentagem de combustível aditivado que é vendido por ano não costuma ultrapassar os 33% (um terço).

nível de combustível ideal
Os combustíveis de marca branca podem significar uma boa poupança

O teste da Deco

Poder-se-ia pensar que para cada estudo defendido por um grupo de especialista, há sempre um outro que efetivamente provam exatamente o contrário. Foi exatamente esse o pensamento da Deco. A organização de defesa do consumidor decidiu, há uns anos, fazer uma espécie de tira-teimas e resolver de vez o debate.

O estudo da Deco foi realizado tendo como base da experiência quatro automóveis idênticos, mas com combustíveis diferentes: Galp Gforce, Galp Hi-Energy, Jumbo e Intermarché, os líderes de mercado nos seus segmentos na altura.

O teste foi efetuado apenas com automóveis a gasóleo, uma vez que, segundo a entidade de apoio ao consumidor, estes acumulam mais resíduos e poderiam efetivamente apresentar resultados diferentes no que diz respeito a consumos e a uma deterioração mais rápida do motor.

Apesar disso, após 12 mil quilómetros de condução, os quatro carros utilizados exibiram consumos muito idênticos e, no interior do motor, não foram vislumbradas diferenças relevantes nos depósitos. A maior diferença foi de 0,13 litros aos 100 quilómetros entre o pior e o melhor caso. Ou seja, uma diferença de dois por cento.

Para se perceber o quão residual é essa diferença, a Deco salientou que “por exemplo, a pressão incorreta nos pneus aumentava o consumo em 5%, o que equivalia a mais 0,33 l/100 quilómetros”. O objetivo era realçar que alguns hábitos de condução, ou a maior ou menor manutenção de um veículo, são mais relevantes no que aos consumos diz respeito do que a marca do combustível.

Portanto, se pertence à grande maioria dos consumidores que opta por não colocar combustível aditivado, talvez seja a altura de começar a olhar para a carteira também e a abastecer com combustível de marca branca.

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