Teresa Campos
Teresa Campos
18 Jan, 2019 - 17:19

Displasia da anca em cães: tudo o que precisa saber

Teresa Campos

Se suspeita que o seu cão pode sofrer de displasia da anca, informe-se sobre os principais sintomas, causas e tratamentos relacionados com esta doença.

Displasia da anca em cães: tudo o que precisa saber

Nos animais, a displasia da anca é uma doença hereditária relativamente comum e grave, pois provoca a perda de qualidade de vida, particularmente a cães de grande porte.

Fazer um rastreio o mais cedo possível, através de despistes precoces, pode garantir intervenções atempadas, impedindo a destruição das articulações e reduzindo a dor e o sofrimento associados a esta patalogia. Portanto, se tem cães, este assunto deve interessar-lhe, particularmente.

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O que é?

A Displasia da Anca ou Displasia Coxo-femoral é uma doença do desenvolvimento da articulação coxo-femoral, formada pela cabeça do fémur e pela cavidade acetabular. Carateriza-se pela má formação da articulação coxo-femoral, ou seja, da inserção do membro traseiro na cintura pélvica.

Trata-se de uma doença de desenvolvimento (e não congénita, como nos humanos), pois os animais nascem com ancas morfologicamente normais. Contudo, os ligamentos, os músculos e a cápsula, que envolvem esta articulação, desenvolvem uma laxidão excessiva e anormal. Habitualmente, estas alterações manifestam-se entre os 4 a 5 meses de idade do animal.

Pacientes mais comuns

Esta é uma patologia que afeta, sobretudo, cães – embora também possa ocorrer em gatos, especialmente da raça Main Coon – e, dentro desta categoria animal, cães de raças grandes, gigantes e/ou de crescimento rápido. Há algumas raças particularmente afetadas, tais como como São Bernardo, Terra Nova, Shar-Pei, Akita, Setters, Boieiro Suíço, Dobberman, Rottweiller, Pastor Alemão, Molossoide, Serra da Estrela, Bulldog Inglês, Pug, Labrador Retriever, Mastin, Rafeiro do Alentejo, Pastor de Berna, Boxer, entre outras.

Principais causas

O surgimento desta doença pode dever-se a fatores genéticos e/ou ambientais, tais como:

  • excesso de peso, principalmente em animais jovens, pode originar um crescimento e desenvolvimento articular anormal;
  • Pensa-se que também o excesso de exercício físico, durante a fase de crescimento, pode contribuir para o aparecimento e/ou agravamento desta patologia;
  • Uma curva de crescimento muito rápida, caminhar sob piso escorregadio, a administração de rações hipercalóricas e/ou suplementos, nomeadamente cálcio são, ainda, apontados como potenciadores deste problema de saúde.

Rastreio

Antes de levar o seu cão ao veterinário, há sinais de alerta que podem evidenciar ou ser mesmo sintomas de displasia da anca, tais como:

  • rigidez;
  • intolerância ao exercício;
  • dificuldade em levantar-se, sentar-se ou deitar-se;
  • dificuldade para subir escadas ou para entrar/sair do carro;
  • caminhar anormal;
  • claudicação de uma ou das duas patas traseiras;
  • manifestação de dor;
  • correr aos saltos;
  • galopar com os dois membros posteriores, em simultâneo.

Há, ainda, alguns “testes caseiros” que pode fazer e que, mediante a reação do animal, pode concluir se existem ou não indícios de displasia da anca. Veja como reagem de forma diferente a esses testes um cão com displasia e um cão sem displasia.

Diagnóstico

Análise genética

O diagnóstico clínico pode ser, atualmente, feito através de uma análise genética, realizada em laboratórios acreditados para confirmação do código genético.

Radiografia (com medição do ângulo de Norberg-Olsen)

Além disso, é possível proceder ao diagnóstico através da realização de uma imagem radiográfica, nos primeiros meses de vida do animal. O exame radiográfico mais comum, e recomendado pela FCI e pela OFA, faz a medição do ângulo de Norberg-Olsen (designação do ângulo que fica entre o centro da cabeça do fémur e o bordo cranial do acetábulo).

O exame deve ser realizado com o animal anestesiado, para garantir um bom relaxamento muscular e posicionar o animal com os membros posteriores paralelos entre si, para uma correta avaliação das articulações coxo-femorais.

O resultado tem por base a medição do ângulo, referido acima, e a congruência articular, havendo vários diagnósticos possíveis, da Ausência de Displasia à Displasia Grave.

  • A – Ângulo de Norberg ? 105? e congruência articular – Ausência de Displasia
  • B – Ângulo ? 105? e ligeira incongruência – Transição – Ausência de displasia
  • C – Ângulo > 100? e incongruência articular – Diplasia Ligeira
  • D – Ângulo > 90? e incogruência articular com subluxação – Displasia Moderada
  • E – Ângulo < 90? com luxação ou subluxação e osteoartrose – Displasia Grave

Fonte: CASVET

Radiografia (método PennHIP)

Outro método de diagnóstico radiográfico possível é o que faz uso do método PennHIP, em que são tiradas três radiografias em stress, para avaliar a lassidão articular, sendo calculado o Índice de Distração que varia de 0 a >1.

Este tem-se revelado um método eficaz no diagnóstico em animais com menos de 10 meses de idade.

Saiba mais sobre este método, aqui.

Para despiste e, posterior, tratamento da displasia, os animais devem ser radiografados, preferencialmente, aos 12 meses quando raças médias e grandes, e aos 18 meses, quando raças gigantes. Note que, a partir dos 5/6 anos de idade, a avaliação torna-se mais difícil.

Tratamentos

Como para várias patologias, os tratamentos disponíveis podem ser diversos, tendo em conta, acima de tudo, o estado da doença e as caraterísticas do animal em questão. Neste caso, podemos dividir os tratamentos em dois grandes grupos: o tratamento conservativo e o tratamento cirúrgico.

Tratamento conservativo

O tratamento médico pretende, antes de mais, melhorar a qualidade de vida do animal promovendo, para isso:

  • o exercício;
  • a boa alimentação;
  • a redução de peso, se necessário;
  • a utilização de suplementos condro protetores e ácidos gordos essenciais;
  • o recurso a anti-inflamatórios e analgésicos, se preciso;
  • repouso;
  • dê rações específicas para patologias articulares.

O tratamento descrito pode ser suficiente para controlar a sintomatologia da doença e melhorar a vida do animal, aliviando-o de qualquer dor.

Tratamento cirúrgico

Caso o veterinário recomende tratamento cirúrgico, saiba que existem várias técnicas cirúrgicas disponíveis, consoante o animal, a sua idade e as caraterísticas da displasia. Entre elas, encontram-se:

Osteotomia da cabeça do fémur

Esta técnica consiste na ressecção da cabeça do fémur, a qual, após a sua remoção, leva à formação de uma pseudo-articulação. Esta técnica tem muito bons resultados em animais com boa massa muscular, pelo que os animais mais leves recuperam bastante melhor.

Miotomia do pectíneo

Também conhecida por tenotomia, esta técnica baseia-se no corte do músculo pectíneo, reduzindo a dor articular. Embora não previna a progressão da doença, este método garante uma rápida recuperação e pode ser feito bilateralmente, na mesma cirurgia.

Osteotomia tripla

Esta intervenção é recomendada em animais entre os 4 e os 8 meses de idade, dependendo do estado da articulação. Esta técnica pretende aumentar a superfície acetabular e eliminar a subluxação, melhorando a estabilidade articular.

Associação Portuguesa de Médicos Veterinários Especialistas em Animais de Companhia (APMVEAC) e procurar alguma ajuda, caso tenha dúvidas ou deseje reportar alguma situação em específico.

Caso contrário, visite o veterinário com regularidade e partilhe com ele, caso suspeite que o seu cão sofre de displasia da anca.

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