A falência de dois bancos nos EUA está a fazer soar alarmes. Primeiro, foi anunciada a insolvência do banco norte-americano Silicon Valley Bank (SVB), na Califórnia, ligado às empresas tecnológicas.
Dois dias depois, mais um banco foi encerrado no país o Signature Bank, sediado em Nova Iorque. As notícias estão a estremecer os sistemas financeiros do mundo e podem ser o anúncio de tempos nebulosos para a economia dos EUA e do mundo.
Os fechos foram determinados pelo regulador, como forma de garantir os depósitos, e as autoridades dos EUA assumiram o controlo das instituições. Estes são os mais importantes casos de falência no país, desde a crise de 2008.
A insolvência do SVB é a segunda pior em toda a história do país. Já o caso do Signature Bank é a terceira falência mais significativa de sempre nos EUA.
Todos os ativos das duas instituições financeiras foram assumidos pelo Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC), órgão regulador local.
Falência de bancos refletem fragilidade das tecnológicas
Foi um final súbito para o SVB, banco que noutra era não tão distante, fez furor nos mercados financeiros. Na imprensa internacional está descrito um ambiente de pânico no setor bancário e é certo que os investidores estão a fazer contas, questionando-se sobre as consequências desta falência.
Mas o que causou esta insolvência, aparentemente, repentina?
Não é novidade que vivemos anos de grande euforia para o mercado das empresas de capital de risco e das start-ups – tudo pela animada procura de qual seria o grupo tecnológico que lançaria o próximo caso de sucesso, o novo Google, a nova Amazon.
Mas os tempos recentes trouxeram um ambiente duvidoso para o setor, com um ambiente pesado impulsionado pela rápida escalada das taxas de juro.
O ecossistema das tecnológicas passou a enfrentar um período de dúvidas, o que levou à falência de uma das principais instituições financeiras especializadas nestes mercados.
Em confronto com as quedas abruptas dos investimentos realizados em tecnológicas e com as retiradas dos depósitos das empresas de capital de risco e das start-ups que desejavam a manter a sua liquidez, o SVB não teve muitas alternativas que pudessem evitar o desfecho atual da história.
A solução encontrada, que não resultou, foi vender os seus ativos – mas as subidas das taxas de juro quebraram as contas do banco.
Este foi o primeiro caso de um banco norte-americano a fechar portas este ano, apenas dois dias antes do segundo caso se concretizar. O regulador garante que 250 mil dólares em ativos, limite estabelecido para estas aplicações nos EUA, já vão poder ser movimentados nas próximas semanas.
A situação dos clientes e credores dos Signature Bank é diferente. O FDIC determinou que uma outra instituição financeira atue no momento atual de transição, passando a assumir o atendimento. De recordar que, também neste caso, grande parte dos depositantes é constituída por empresas ligadas à economia da inovação.
Ansiedade na Europa e na Ásia
A solidez de um robusto conjunto do setor bancário parece estar em risco com a subida rápida das taxas de juro, que baixam o valor de obrigações das suas carteiras de investimento e elevam as taxas de endividamento.
O ambiente de medo, como era de esperar, rapidamente se espalhou para fora dos EUA e chegou à Ásia e à Europa. Analisando os números das diversas bolsas, referentes à semana dos fechos dos bancos norte-americanos, é possível perceber a razão.
Quatro dos maiores bancos dos EUA perderam uns impressionantes 52 mil milhões de dólares na bolsa. De seguida, houve quedas importantes para os bancos europeus e asiáticos, que acompanharam a tendência de desvalorização.
A Société Générale, em Paris, perdeu 4,49%, ao mesmo tempo em que o Crédit Agricole perdeu 2,48% e o BNP Paribas outros 3,82%. Na Alemanha, o Deutsche Bank sofreu um recuo de 7,35%, o britânico Barclays teve uma queda de 4,09% e o suíço UBS não ficou melhor, perdendo 4,53%.