Talvez já se tenha cruzado com alguém com estas características: preocupação excessiva com sintomas físicos, constantes idas ao médico, crença de que tem uma determinada doença ou doenças. Falamos de quem tem hipocondria.
Hipocondria: o que é e como se manifesta
Esta é uma doença do foro psiquiátrico. Suspeita-se dela quando, por exemplo:
- Uma pessoa saudável com sintomas menores está preocupado com o significado que eles possam ter;
- Essa pessoa vai ao médico, é avaliada e não fica mais tranquila com a explicação do médico;
- Há uma interpretação incorreta de funções normais do organismo (como os normais ruídos do intestino);
- Há na pessoa uma convicção persistente de que tem uma doença grave.
O diagnóstico, geralmente, confirma-se quando se trata de uma situação que ocorre há mais de seis meses e os sintomas não podem ser atribuídos à depressão ou a outro problema do foro psiquiátrico.
Segundo a psicóloga Ana Medina, em declarações ao jornal I, não existe, muitas vezes, apenas um diagnóstico de hipocondria. Quem tem esta perturbação tem também associadas “perturbações obsessivo-compulsivas, ansiedade e sintomas depressivos”.
A ansiedade provoca um efeito bola de neve e que pode despoletar esta perturbação. “Se estiver ansiosa, o meu coração vai bater mais rápido, vou ficar com a garganta seca, vou focar-me nesses sintomas, ampliá-los e ficar ainda mais ansiosa”, explica a especialista.
Sintomas de hipocondria
- Medo intenso de ter uma doença grave;
- Preocupação extrema com sintomas físicos;
- Ir ao médico com frequência e fazer exames e análises constantemente;
- Trocar de médico com frequência, em busca de uma segunda opinião que vá indicar um problema grave;
- Verificar de forma persistente o corpo à procura de sinais de doença;
- Pensar ter uma doença de cada vez que se fala no tema.
No caso de o médico confirmar que não há razão para as queixas do paciente, poderá ser pertinente encaminhar essa pessoa para um psiquiatra ou psicólogo.
Os médicos de medicina geral e familiar são os primeiros a deparar-se com estes casos. O médico Viriato Horta, em entrevista ao jornal Correio da Manhã, explica que há um sofrimento real da pessoa que tem hipocondria. “A pessoa não está a inventar, está em grande sofrimento”, refere.
O especialista descreve ainda que quem é hipocondríaco procura todos os meios para esclarecer as dúvidas que têm e encontrar as doenças que pensam ter. “Têm muita dificuldade em aceitar que não têm essas doenças”, explica Viriato Horta.
Para além das consultas e exames médicos frequentes, quem tem esta perturbação tende a estudar exaustivamente uma determinada doença, procurando informação na Internet. Segundo o médico, estas pessoas procuram também “por iniciativa própria medicamentos que possam ser úteis para se tratar”.
Causas e consequências da hipocondria
As causas desta perturbação são ainda desconhecidas. Há vários fatores que podem potenciar o seu desenvolvimento, como por exemplo uma história de doença grave na família, a presença da doença num familiar próximo ou fatores genéticos.
Ter a “mania das doenças”, como muitas vezes se diz acerca desta perturbação, é estar numa angústia constante. Esta pode ser muito prejudicial e afetar a vida pessoal e familiar.
Resulta também em perdas significativas de tempo e de dinheiro em exames e consultas. Para além disso, são pessoas que estão expostas a riscos adicionais, que são consequências da automedicação, de exames invasivos realizados na procura de um diagnóstico ou da dependência de analgésicos.
Tratamento da hipocondria
Uma pergunta que se impõe é: como tratar esta perturbação? Como ajudar quem a tem? Se suspeita que algum familiar ou amigo possa ser hipocondríaco porque reconhece e identificou vários sintomas e características neste artigo, ajude-o e encaminhe para um especialista em psiquiatria e psicologia.
Como se trata de um problema do foro psicológico e psiquiátrico, o tratamento passa, por exemplo, por uma terapia cognitivo-comportamental ou psicoterapia analítica.
Segundo o médico Viriato Horta, procura-se fazer “uma espécie de reprogramação da forma como o doente interpreta os seus sintomas e receios e da maneira como se comporta perante eles, de modo a reduzir os níveis de ansiedade e de sofrimento psicológico que a hipocondria acarreta”.
É importante que quem tem esta doença passe a aceitar as suas queixas como “naturais” e “funcionais” e não como sinónimo de uma doença grave. Deve tratar-se também problemas que possam estar associados a esta doença como a ansiedade e a depressão.
É importante também, para tranquilizar o doente, que haja um acompanhamento por um médico assistente da confiança do hipocondríaco, podendo ser, por exemplo, o médico de família.
Não há dados específicos acerca da hipocondria em Portugal. Estima-se que cerca de 2 a 5% da população mundial sofra desta perturbação psiquiátrica.
De acordo com o médico Viriato Horta, há muitas pessoas com traços de hipocondria, mas com a perturbação propriamente dita, segundo todos os critérios a ela associados, é pouco frequente.
Veja também: