Miguel Pinto
Miguel Pinto
15 Set, 2025 - 13:00

Dormir numa árvore, beber da fonte: segredos de Pedras Salgadas

Miguel Pinto

É uma das águas mais conhecidas do país, mas há muito mais a conhecer na região das Pedras Salgadas. Marque uma visita na agenda.

Nascente das Pedras Salgadas

Não sei se já reparou, mas há lugares que parecem inventados para o corpo respirar fundo e a cabeça, finalmente, abrandar. Pedras Salgadas é um desses.

A meio caminho entre a serra e os vales de Trás-os-Montes, este recanto cheira a pinheiro, a terra molhada depois da chuva e a história engarrafada numa água com gás que todos já bebemos pelo menos uma vez na vida.

Na verdade, é quase irónico. uma marca tão banal nas prateleiras dos cafés e, afinal, a sua origem é um paraíso verde escondido.

Venha conhecer esta história centenária e, quem sabe, gizar o roteiro para uma visita à região.

Pedras Salgadas: beber direto da fonte

Dizem que as águas nasceram mágicas. Não no sentido literal, claro, mas no do imaginário popular. Houve médicos no século XIX que juraram pelas suas propriedades terapêuticas, famílias inteiras que vinham de longe em busca de alívio para as maleitas do corpo.

Aliás, ainda hoje há quem acredite nessa força mineral, mas a verdade é que mesmo que fosse só placebo, o ritual de beber direto da fonte já valeria a viagem.

Caminhar pelo Parque Termal é entrar num filme antigo com uns toques de arquitetura contemporânea.

De um lado, balneários e fontes históricas com nomes de realeza (D. Maria Pia, D. Fernando ou Grande Alcalina, como se cada uma fosse personagem de um romance).

Do outro, intervenções do arquiteto Siza Vieira que dão uma lufada de modernidade sem esmagar o passado. Esta convivência entre o clássico e o moderno não é fácil de encontrar, mas em Pedras Salgadas sente-se natural, quase orgânica.

20 hectares de parque

Há algo de profundamente poético em atravessar os vinte hectares do parque. O lago reflete as copas, os trilhos serpenteiam como se nos levassem para dentro de um segredo.

E no meio de tudo isto, surgem as Eco Houses e as Tree Houses, alojamentos suspensos ou camuflados na vegetação, perfeitos para quem sonha com a ideia (meio infantil, admito) de dormir numa casa na árvore.

eco houses no parque das Pedras Salgadas

A diferença é que aqui há design minimalista, camas confortáveis e aquela sensação de luxo sem ostentação. É natureza, mas com roupa de gala.

Pedras Salgadas: spa termal

E se há dias em que o corpo pede mais do que silêncio, o Spa Termal responde. Não é só massagens e banhos quentes; é a sensação de regressar a uma tradição centenária reinventada.

A água que durante décadas foi prescrita em receitas médicas agora envolve-nos em rituais de bem-estar com nomes elegantes, envolvimentos, hidromassagens, tratamentos que parecem saídos de um catálogo de lifestyle mas que, na pele, fazem sentido.

Há algo que encanta na dualidade deste lugar. Tanto pode ser retiro de fim de semana para desligar do mundo como cenário para uma escapadela romântica ou até ponto de partida para explorar o norte transmontano.

Não há uma só forma de viver Pedras Salgadas, e talvez seja por isso que continua a ter tanto encanto.

Núcleo museológico

E depois há o lado museológico, menos falado, mas igualmente cativante. O Pedras Experience recria gabinetes médicos, mobiliário e frascos antigos que mostram como esta água, antes de ser bebida de mesa, foi considerada quase remédio milagroso.

Por vezes, ao atravessar o parque, ouve-se apenas o vento a passar entre as árvores. Noutras, cruzam-se famílias em bicicletas, casais a passear de mão dada ou viajantes solitários de mochila às costas. É um espaço vivo, mas nunca apressado. Aqui o tempo não é ouro, é pausa.

Gastronomia local

E a comida? Ah, pois claro. Seria impossível ignorar. Estamos em Trás-os-Montes, afinal. Entre posta à mirandesa, enchidos que parecem inventados para noites frias e o inevitável pão caseiro que chega à mesa ainda morno, não falta conforto no prato.

Há restaurantes locais que sabem receber sem formalismos, e se tiver a sorte de ser convidado para uma refeição caseira, prepare-se para sair de barriga cheia e coração aquecido.

interior da fonte das Pedras Salgadas

Chegar a Pedras Salgadas não é complicado. Desde o Porto, pouco mais de uma hora de estrada e a paisagem vai mudando aos pouco.

Os tons de verde tornam-se mais densos, o ar mais fresco, até que a chegada é anunciada não por letreiros mas por uma sensação quase instintiva de que ali respira-se diferente.

Se há moral nesta história? Talvez nenhuma além da mais óbvia, ou seja, lugares como Pedras Salgadas não são só destinos turísticos, são lembretes de que precisamos, de vez em quando, de trocar o ruído pelo silêncio, a pressa pela contemplação.

É um luxo discreto, um luxo de tempo. E isso, convenhamos, não tem preço.

E, claro, não há como terminar sem a imagem que perdura sempre a quem visita o espaço: um copo de água com gás, servido ali mesmo, na origem. Afinal, está como que a beber história engarrafada.

Veja também